sexta-feira, 29 de junho de 2007

1947 - A asfixia do Movimento Científico em Portugal

Por sugestão de Emília Cerqueira, transcrevemos um artigo do Prof. Jorge Rezende, da Universidade de Lisboa, publicado na Revista O Militante, nº 280:

Movimento Científico e ascensão do fascismo
Origem e desenvolvimento do Movimento Científico no século XX


A revolução republicana de 5 de Outubro de 1910 trouxe, para os centros de decisão política, individualidades com ideias mais avançadas, mais progressistas, com conhecimentos das realidades nacional e internacional, ideias essas que se foram expandindo e até concretizando em todos os campos, nomeadamente no da cultura e da ciência. O golpe de Estado de 28 de Maio de 1926, a que depois se seguiria a paulatina instauração do fascismo, não travou de imediato este impulso progressista resultante da instauração da República.

Na verdade, a renovação dos quadros dirigentes não se fez de um momento para o outro. Por um lado, porque a correlação de forças sempre demora a estabilizar e, por outro lado, porque talvez o fascismo estivesse ainda a ver quem é que poderia aproveitar, aliciando para o seu campo, e quem é que teria que lançar pela borda fora.

É neste contexto histórico que, em 1929, já depois do golpe de estado, é formada a Junta de Educação Nacional (JEN), no seguimento de várias comissões que já existiam e à semelhança do que se fazia no estrangeiro, nomeadamente em Espanha. Foram seus presidentes, sucessivamente, Simões Raposo, Marck Athias e Celestino da Costa. Este último, professor catedrático da Faculdade de Medicina, que, desde há muito, estava envolvido no processo de promoção da educação e da investigação foi, dos três, o mais activo e empreendedor, o que também estará na origem da sua expulsão da Universidade em 1947. Celestino da Costa foi vice-presidente da JEN, sendo, em 1934, nomeado presidente, assim continuando, em 1936, quando a Junta mudou o nome para Instituto para a Alta Cultura (IAC).

A JEN, e, mais tarde, o IAC, concedeu bolsas para estudar no estrangeiro e em Portugal, e subsídios diversos nomeadamente para visitas e revistas científicas. Foi com estes apoios que foram fundadas a Portugaliae Physica, a Portugaliae Mathematica, a Gazeta de Física e a Gazeta de Matemática. O IAC apoiou também a vinda a Portugal de professores estrangeiros de renome como, por exemplo, Guido Beck e Maurice Fréchet. Apoiou ainda a formação de centros de investigação, como os Centros de Estudos Matemáticos de Lisboa e do Porto (CEML e CEMP).

Formou-se, assim, o embrião de uma actividade científica moderna, que começava a aproximar-nos minimamente do que eram as boas práticas nos países avançados e que, se não tivesse sido liquidada pelos golpes brutais que foi sofrendo, até ser praticamente extinta em 1947, nos teria colocado, hoje, num patamar científico e tecnológico internacional bem mais elevado do que aquele em que estamos.

Os Movimentos Científico e Matemático


Em 16 de Novembro de 1936, bolseiros do IAC que tinham estado em vários países da Europa – Arnaldo Peres de Carvalho, Herculano Amorim Ferreira, Manuel Valadares e António da Silveira – aos quais se juntou Bento de Jesus Caraça, fundaram o Núcleo de Matemática, Física e Química, que pretendia ser o início de uma verdadeira Escola de Ciência, à imagem da realidade com que tinham contactado e na qual tinham trabalhado no estrangeiro. Os principais impulsionadores do Núcleo, aqueles que se revelaram mais activos, foram António da Silveira, Manuel Valadares e António Aniceto Monteiro. Este último, tinha nesse ano regressado de Paris, onde fizera o Doutoramento com o grande matemático francês Maurice Fréchet e, entusiasticamente, logo se juntou ao grupo dos fundadores. Embora a ideia inicial fosse muito mais ambiciosa, o Núcleo acabou apenas por promover a realização de ciclos de conferências de alto valor científico, bem como a sua publicação em livros de elevada qualidade.

Curiosamente, os dois primeiros conjuntos de conferências foram os de Bento de Jesus Caraça, sobre Cálculo Vectorial, iniciado justamente a 16 de Novembro de 1936, e o de Ruy Luís Gomes, sobre Teoria da Relatividade Restrita, iniciado a 19 de Abril de 1937. Ambos os cursos deram origem aos dois primeiros volumes da colecção do Núcleo, a qual só viria a ter três volumes... Estes livros são ainda hoje bastante conhecidos, particularmente o de Caraça que já teve várias edições.
O fascismo moveu perseguições diversas ao Núcleo, a principal das quais foi a de fechar as portas das escolas às suas actividades, com destaque para a Faculdade de Ciências (onde Valadares era professor) e o ISCEF (actual ISEG e onde Caraça era professor). Só o Instituto Superior Técnico lhe abriu as portas. Infelizmente, o Núcleo acabou por se extinguir em 6 de Novembro de 1939, sobretudo devido a divergências internas.

É de salientar que todas estas actividades eram exclusivamente de carácter científico, realizadas por homens de fortes convicções científicas, alguns dos quais – ou quase todos – tinham também fortes convicções políticas, mas que sabiam separar os dois planos de actuação. Em contrapartida e infelizmente, o fascismo tinha também fortes convicções contra a cultura e contra a ciência que, levadas à prática com violência e desumanidade, conduziram às expulsões, às prisões, ao exílio, muitas destas personalidades que tanto valor tinham.

A formação do Núcleo de Matemática, Física e Química, em 1936, marca o início do Movimento Científico em Portugal, que foi posto entre parêntesis com as expulsões de 1947, e que só retomaria verdadeiramente com a Revolução de 25 de Abril de 1974. A sua componente mais forte foi, sem dúvida, o Movimento Matemático do qual António Aniceto Monteiro, Bento de Jesus Caraça e Ruy Luís Gomes, foram os mais importantes actores. Cada um tinha a sua personalidade e cada um teve o seu papel igualmente importante no desenvolvimento do Movimento Matemático.

Dos três, António Aniceto Monteiro é o menos conhecido, e injustamente. António Aniceto Monteiro foi um investigador e um homem de acção por inteiro e, também, foi uma personalidade forte, com convicções políticas e sociais. A sua vida foi difícil, exemplar, e plena de dignidade. Diz António Aniceto Monteiro no seu curriculum: «durante o período de 1938-43 todas as minhas funções docentes e de investigação, foram desempenhadas sem remuneração; ganhei a vida dando lições particulares e trabalhando num Serviço de Inventariação de Bibliografia Científica existente em Portugal, organizado pelo IAC». Na realidade, António Aniceto Monteiro nunca foi professor de uma universidade portuguesa, pelo que nunca foi expulso como os outros.

Vejamos agora as principais realizações do Movimento Matemático, que se dão a um ritmo alucinante entre 1937 e 1945, e os seus principais autores, entre os quais aparece, quase por sistema, António Aniceto Monteiro.



Em 1937, é fundada a Portugaliae Mathematica, «revista editada por António Monteiro, com a cooperação de Hugo Ribeiro, J. Paulo, M. Zaluar Nunes».
Em 1938, é fundado o Centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas à Economia, por Bento de Jesus Caraça, Aureliano de Mira Fernandes e Caetano Maria Beirão da Veiga.

Em 1939, começa a funcionar o Seminário de Análise Geral,em Lisboa, impulsionado por António Aniceto Monteiro, primeiro na Faculdade de Ciências e depois no Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa (do IAC).

Em 1939, é fundada por Bento de Jesus Caraça, António Aniceto Monteiro, Hugo Ribeiro, José da Silva Paulo e Manuel Zaluar Nunes, a Gazeta de Matemática, cujo primeiro número sai em Janeiro de 1940.

Em Fevereiro de 1940, é formado o Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa, fundado por António Aniceto Monteiro.

Em 12 de Dezembro de 1940, é fundada a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM). António Aniceto Monteiro é um dos seus principais impulsionadores e escolhido para seu Secretário Geral, por unanimidade.

Em 18 de Fevereiro de 1942, inspirado e incentivado por António Aniceto Monteiro, Ruy Luís Gomes funda o Centro de Estudos Matemáticos do Porto (CEMP). Ruy Luís Gomes, além de fundador, foi director do CEMP até 1947, altura em que foi expulso pelo fascismo.

Em 4 de Outubro de 1943, Ruy Luís Gomes funda a Junta de Investigação Matemática (JIM), em colaboração com Mira Fernandes e António Aniceto Monteiro. Os fundos para a JIM foram angariados numa campanha promovida por António Luís Gomes, irmão de Ruy Luís Gomes.

Em Novembro de 1945, sai o primeiro número da Gazeta de Matemática (o número 26) com a menção de que foi composto na Tipografia Matemática, que deve ter sido fundada por essa altura, por este grupo de matemáticos. Não é demasiado referir que, se montar uma simples tipografia já era complicado, montar uma tipografia para compor textos com caracteres matemáticos muito mais difícil seria. Muitas obras matemáticas foram aí, desde a sua fundação, compostas e impressas.

Leis do fascismo que visavam a repressão e a «depuração»

Para promover o controlo político dos funcionários públicos, civis e militares, para assustar a maioria e afastar os indesejáveis, além da repressão brutal pura e simples que era, aliás, o que aplicava aos restantes trabalhadores, o fascismo precisou de construir um arsenal jurídico que se foi acumulando ao longo dos anos e do qual se destacam dois decretos – o decreto-lei n.º 25 317 de 13 de Maio de 1935 e o decreto-lei nº 27 003 de 15 de Setembro de 1936. Vejamos, resumidamente, o que diziam e o que visavam estes decretos.

O decreto 25 317 determinava no seu artigo 1º: «Os funcionários ou empregados, civis ou militares que tenham revelado ou revelem espírito de oposição aos princípios fundamentais da Constituição Política ou não dêem garantias de cooperar na realização dos fins superiores do Estado serão aposentados ou reformados, se a isso tiverem direito, ou demitidos em caso contrário». E, mais adiante, no seu artigo 4º: «A demissão, reforma ou aposentação e a exclusão dos concursos ou escolas é sempre da competência do Conselho de Ministros». No parágrafo único deste último artigo, os leitores são «brindados» com esta cínica possibilidade de recurso: «Das decisões do Conselho de Ministros só há recurso para o próprio Conselho o qual será interposto no prazo de oito dias, por simples requerimento, que poderá ser instruído com quaisquer documentos».
Este decreto visava atingir, em primeiro lugar, professores, com destaque para os universitários, e, em segundo lugar, os militares, mas foi aplicado, também, paulatinamente, até ao 25 de Abril, a todos aqueles funcionários que desagradassem às pessoas afectas ao regime. Foram atingidos, também, professores dos ensinos primário e secundário, técnicos, enfermeiros, assistentes sociais, etc. Talvez esteja por fazer a lista completa das suas vítimas. Era o terror sobre a massa anónima de funcionários, sob a forma de decreto.

Já o decreto 27 003 determinava: «Para admissão a concurso nomeação efectiva ou interina, assalariamento, recondução, promoção ou acesso, comissão de serviço, concessão de diuturnidades e transferência voluntária, em relação aos lugares do estado e serviços autónomos, bem como dos corpos e corporações administrativos, é exigido o seguinte documento com assinatura reconhecida: Declaro por minha honra que estou integrado no ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933, com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas». E, mais adiante: «Os directores e chefes dos serviços serão demitidos, reformados ou aposentados compulsivamente sempre que algum dos respectivos funcionários ou empregados professe doutrinas subversivas, e se verifique que não usaram da sua autoridade ou não informaram superiormente».

Neste decreto, a mensagem é transparente: o inimigo é o Partido Comunista. O provável objectivo era o de isolar os comunistas, assustar os restantes opositores e a população em geral, promover a delação, etc. Estava implícito neste decreto quem eram os principais visados pela repressão, nomeadamente a resultante da aplicação do decreto 25 317, mesmo que, na prática, muito mais gente pudesse ser atingida.

Relembremos que logo no início dos anos trinta o fascismo começou a organizar o seu aparelho repressivo. Em 1933 – o mesmo ano em que aprova a sua «Constituição» – é fundada a PVDE, antecessora da PIDE (decreto-lei n.º 22 992, de 29 de Agosto). Em 1936 é feita a Reorganização dos Serviços Prisionais em que se prevê que os presos políticos possam ser enviados para «colónias penais no Ultramar» e é neste contexto que o Forte de Peniche é transformado em prisão política e é criado o Tarrafal.

Foi nesse ano de 1936 que se iniciou a guerra civil em Espanha. Estava-se em plena ascenção do nazi-fascismo na Europa, de que Salazar era um admirador confesso.

É caso para dizer que 1936 – ano do decreto 27 003, ano do início do funcionamento de Peniche e do Tarrafal – foi o ano da declaração de guerra aos comunistas, ao PCP.

Regressando a 1935. Sendo Ministro da Instrução Pública e Belas Artes Eusébio Tamagnini de Matos Encarnação, no dia seguinte à publicação do decreto 35 317, 14 de Maio, foram expulsos 33 funcionários civis e militares, entre os quais Abel Salazar, Aurélio Quintanilha, Manuel Rodrigues Lapa, Sílvio Lima, Norton de Matos (professores universitários) e Jaime Carvalhão Duarte, Costa Amaral e Manuel da Silva (professores do ensino primário), segundo dados que facilmente se obtêm, em livros ou na internet, mas não totalmente verificados e confirmados para este artigo.

O caso de Abel Salazar é exemplar de como funcionava o fascismo. Abel Salazar foi Professor da Faculdade de Medicina do Porto, director do Instituto de Histologia e Embriologia, reputado investigador científico na sua área, e, simultaneamente, um artista plástico multifacetado (pintor, gravador, etc.). Foi um homem de actividade intensa e brilhante, homem de cultura e de promoção da cultura, nomeadamente entre os estudantes, que logo gerou anticorpos e invejas da parte de colegas influentes. A sua saúde frágil, dada a sérias depressões, tornavam-no numa pessoa vulnerável. Foi a sua actividade cultural e científica, mais do que a política – embora tenha aderido à maçonaria em 1933 – que levaram o Conselho de Ministros a considerá-lo abrangido pelo artigo 1º do decreto 25 317. Em seguida, é proibida a sua «entrada no edifício da Faculdade, na sua biblioteca, a pretexto de exercer influência deletéria sobre a mocidade universitária». Evidentemente que a perseguição a Abel Salazar, tal como a todos aqueles que eram expulsos, não terminou com a expulsão. Normalmente as pessoas eram vigiadas, provocadas, impedidas de arranjar outros empregos, ou de os manter se os arranjavam, impedidos de sair do país, etc.

O arsenal de decretos do fascismo não se esgotava naqueles dois já citados. Assim, em 10 de Setembro de 1946, sendo Ministro da Educação Nacional José Caeiro da Mata, Bento de Jesus Caraça, professor catedrático do ISCEF da Universidade Técnica de Lisboa, recebe uma nota de culpa deduzida pelo instrutor de um processo disciplinar mandado instaurar por ter sido autor do manifesto «O MUD perante a admissão de Portugal na ONU», facto que constituía infracção prevista no artigo 2.º do «Regulamento Disciplinar dos Funcionários Civis do Estado» (decreto-lei n.º 32 659, de 9 de Fevereiro de 1943). Idêntico procedimento é iniciado para com Mário de Azevedo Gomes, primeiro subscritor do referido manifesto e também professor da mesma Universidade. O Conselho Permanente da Acção Educativa emite, com data de 7 de Outubro de 1946, parecer que aos arguidos seja aplicada a pena de demissão, a qual na mesma data é decidida por despacho ministerial.

O golpe fatal sobre o Movimento Científico foi dado em 1947, ano em que. Nesse ano, sendo Ministro da Educação Nacional Fernando Andrade Pires de Lima, são demitidos pelo governo 26 professores universitários (número exacto não verificado e confirmado para este artigo) conhecidos pelas suas ideias democráticas.
Foram compulsivamente afastados do ensino universitário, entre outros: Ruy Luís Gomes, Mário Silva, Celestino da Costa, Cândido de Oliveira, Pulido Valente, Fernando Fonseca, Adelino da Costa, Cascão de Ansiães, Torre de Assunção, Flávio Resende, Ferreira de Macedo, Peres de Carvalho, Marques da Silva, Zaluar Nunes, Rémy Freire, Crabée Rocha, Dias Amado, Manuel Valadares, Armando Gibert, Lopes Raimundo, Laureano Barros, José Morgado, Morbey Rodrigues. Quase todos eles (21 – número confirmado) foram afastados em 18 de Junho de 1947, ao abrigo do decreto 35 317.
Também ao abrigo do mesmo decreto, e na mesma data, foram ainda afastados, 11 militares, quase todos de alta patente.
No caso concreto de Ruy Luís Gomes, este foi afastado do serviço por telegrama do Ministro da Educação, Pires de Lima, por ter reclamado contra a prisão de uma aluna. Foi-lhe instaurado processo disciplinar, tendo o juiz instrutor proposto a aplicação de uma pena de seis meses de suspensão de exercício e vencimento. O chamado Conselho Permanente da Acção Educativa, presidido por Mário de Figueiredo, da Junta de Educação Nacional, agravou essa pena transformando-a em demissão. Ruy Luís Gomes recorreu, então, para o Supremo Tribunal Administrativo, mas foi-lhe negado provimento. Repare-se que esta «Junta» nada tem a ver com a JEN do início deste artigo.

Não foram estes apenas os casos de expulsões de professores ou outros funcionários públicos, nomeadamente ao abrigo do decreto 25 317. Alfredo Pereira Gomes, por exemplo, também foi afastado da Universidade, em Outubro de 1946, por decisão do Governo, alegadamente por «estar incurso no disposto do decreto-lei n.º 25317».

É mais que provável que as expulsões, a conta-gotas, ou em grupo, se tenham sucedido ao longo dos anos até ao 25 de Abril.

Declínio do Movimento Científico, apogeu do fascismo

Com a repressão, a maioria dos principais protagonistas do Movimento Científico foi desaparecendo da cena política e científica portuguesa. Sobretudo após as expulsões de 1947, o Movimento Científico viu reduzida significativamente a sua actividade, tornando-se numa pálida imagem do que tinha sido. Uma boa parte dos atingidos emigrou.

Vejamos qual foi o final do percurso português de quatro destes cientistas: Abel Salazar e os principais impulsionadores do Movimento Matemático, António Aniceto Monteiro, Bento de Jesus Caraça e Ruy Luís Gomes.

Abel Salazar faleceu em 1946.

Em 1945 a vida de António Aniceto Monteiro e família tinha-se tornado muito difícil e o matemático viu-se obrigado a sair de Portugal, porque lhe foi vedada a entrada na carreira académica, por razões políticas. Com recomendação de Albert Einstein, J. von Neumann e Guido Beck obtém uma cátedra de Análise Superior no Rio de Janeiro. Em 28 de Fevereiro, António Aniceto Monteiro embarca para o Rio de Janeiro onde chega com um contrato por quatro anos o qual não foi renovado por influência da Embaixada de Portugal.
Bento de Jesus Caraça, faleceu em 25 de Junho de 1948, com 47 anos de idade.

Ruy Luís Gomes ficou em Portugal, prosseguiu a luta política e o trabalho científico, mas emigrou em 1958, para a Argentina.

A derrota do nazi-fascismo, em 1945, em diversos países como a Alemanha e a Itália, não significou a vitória da democracia em Portugal e em Espanha. Grandes movimentos de massas varreram a Europa e também Portugal. Aqui, são fundados o Movimento de Unidade Democrática (MUD), o MUD Juvenil e o Movimento Nacional Democrático. Manifestações, greves e outras formas de protesto são organizadas.

Mas os países ditos «ocidentais», com destaque para os EUA e o Reino Unido, intensificaram o apoio ao fascismo. É assim que, quando a NATO é formada em 4 de Abril de 1949, Portugal, o país de Peniche e do Tarrafal, é convidado a ser um dos seus membros fundadores, acontecimento grave que representa o reconhecimento, pela parte restante dos seus membros, do regime fascista português. Relembrar estes factos ajuda a compreender, com mais profundidade, a situação que actualmente se vive, quer a nível nacional, quer a nível internacional.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Dionísio Pereira vai a julgamento por ter dito a verdade

Pela mão do historiador Daniel Lanero Táboas, chegou-nos nova informação sobre o caso Dionísio Pereira (caso aqui por nós divulgado), que passo a transcrever:
"Caros amigos,
Aproveito a miña primeira incursión no Não apaguem a Memória! para reproducir o seguinte e-mail enviado por Dionísio Pereira, investigador galego adicado (entre outros asuntos) ó estudo da represión franquista. Daniel Lanero Táboas.
«Manifesto:
A todos/as os/as historiadores/as e investigadores/as. Compañeiras, compañeiros:
Como sabedes, hai poucos días foi admitida a trámite polo Xulgado de 1ª Instancia de A Estrada unha demanda contra min por parte da familia de Manuel Gutiérrez Torres, "camisa vella", antigo xefe local de Falanxe e ex alcalde de Cerdedo ate os anos 60. Non abundarei na cuestión, porque vos supoño coñecedores/as (ver a páxina web www.sinhorafranio.com) dos detalles do asunto; tan só informarvos que a miña avogada considerou interesante a publicación na prensa dun manifesto a prol da liberdade de creación científica, na que se insire o labor do/a historiador/a, apoiado polo maior número de persoas adicadas a este tipo de traballos. O devandito manifesto, apoiado polas sinaturas, podería ser presentado no xulgado no momento procesal máis indicado, de acordo coa evolución do xuízo ou dun posible recurso.
En consecuencia, envíovos o devandito manifesto (redactado por colegas solidarios) no arquivo adxunto e solicito a voso apoio. A efectos de posible presentación no Xulgado, sería preciso o voso DNI, así como o lugar de residencia e a profesión. As sinaturas recolleríanse neste correo ou no de Xoán Carlos Garrido.
Obrigado a todos e todas de antemán.
Saúde
Dionísio Pereira».

PD (de Daniel Lanero): algunhas informacións sobre este desagradable e incrible asunto xa circularón pola blogesfera lusa, en concreto en "Peão" en febreiro deste mesmo ano.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Memórias da Guerra Colonial no feminino

Foi hoje lançada, na Livraria Barata (Lisboa), a obra África no feminino: as mulheres portuguesas e a guerra colonial, de Margarida Calafate Ribeiro, investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. O livro reúne depoimentos de mulheres portuguesas que acompanharam os seus maridos, mobilizados para as três frentes de guerra nas ex-colónias africanas: Angola, Guiné e Moçambique. São 21 olhares sobre a guerra, o quotidiano em África, a descolonização, vivências coloniais e pós-coloniais. São 21 testemunhos sobre o passado recente de Portugal, narrados no feminino.
Da introdução, destacamos a seguinte passagem:
"Este divórcio que hoje encontramos entre o que é a memória colectiva e a memória privada da Guerra Colonial prolonga um divórcio já havido nos tempos da guerra entre o discurso público sobre uma guerra silenciada e que oficialmente não existia e o conhecimento privado que dela tinham os portugueses mobilizados e as suas famílias. Daí a importância do testemunho tanto no momento em que o acontecimento em análise - a guerra - se processa, como depois da guerra. O texto produzido é portanto um testemunho do vivido para os seus leitores imediatos e para as gerações vindouras, satisfazendo aquilo a que podemos chamar o direito à memória e cumprindo o que Primo Levi chamou «o dever de memória» [Primo Levi, O Dever de Memória, Lisboa: Civilização/Contexto, 1997], ao estabelecer um cúmplice compromisso entre quem conta - que assim cumpre a sua função de testemunha - e quem ouve - que assim toma conhecimento e não mais pode dizer que não sabia. Desta forma gera-se o pacto de responsabilidade partilhada inerente à funcionalidade do testemunho que é uma textualidade produzida contra o esquecimento e por vezes, de grande valor performativo, seja no domínio privado do ajuste de contas, do reconhecimento e do terapêutico, seja no domínio político e social e, portanto, público." (p. 15).
A memória da guerra colonial cedo contaminou a literatura portuguesa pós-25 de Abril, tanto no masculino como no feminino. Mas só agora, pela mão de Margarida Calafate Ribeiro, nos chega o discurso directo de mulheres reais, num registo histórico e para a História. Conhecimento contra o esquecimento.

12º Plenário do Movimento "Não Apaguem a Memória!"

Data: 4ª feira, 4 de Julho/2007, às 21.00h
Local: Associação 25 de Abril

Ordem de Trabalhos:

1. Aprovação da Acta do plenário anterior
2. Informações:
2.1. Resolução parlamentar sobre a Petição do NAM.
2.2. Outros
3. Organização do Movimento: debate sobre o texto/proposta do GL.
4. Marcação da data do próximo Plenário.

Contamos contigo na quarta-feira, 4 de Julho, na Associação 25 de Abril, às 21.00 horas.

Rua da Misericórdia, 95
Lisboa (no Chiado)

sábado, 23 de junho de 2007

A censura saiu à rua num dia assim

Foi num 22 de Junho, em 1926, que uma nota da Polícia Cívica enviada às redacções estipulava a obrigatoriedade de serem apresentados quatro exemplares de cada jornal a publicar, na sede da GNR no Quartel do Carmo a fim de ser previamente examinado e aprovado ou não.

Assim começou em Portugal a mais longa, a mais dura, a mais abjecta, censura prévia à Imprensa da nossa História. E não vale a pena alegar que tivemos outras: a Inquisição de D. João III, a Real Mesa Censória de D. Maria I, as leis do cacete com o Senhor D. Miguel, e, desde sempre, os “Imprimatur” dos Bispos em cada diocese, o “Index Librorum Prohibitorum” em todos os países católicos, que durou até ao Concílio do Vaticano II.

Nada de comparável: falamos de um Estado formalmente laico e republicano, em que continuava em vigor a Lei da Separação da Igreja e do Estado. É verdade que tínhamos assistido a alguns períodos breves de censura prévia à Imprensa: num governo Afonso Costa durante a I Grande Guerra, ou no consulado de Sidónio Pais. Ver a este propósito A Censura na Iconografia e na Caricatura Portuguesa, um livro coordenado pelo João Mario Mascarenhas, da Biblioteca Museu República e Resistência.

Nada de comparável: aquela censura que “saiu à rua num dia assim”, com pezinhos de lã e ar de coisa passageira, ia durar 48 anos menos dois meses, para sermos precisos. Até ao dia em que o jornal República, de Raul Rego, proclamou a toda a largura da primeira página: Este jornal não foi visado por qualquer Comissão de Censura. Agora era a revolução que saía à rua, vivia-se o 25 de Abril de 1974.

Aquela censura nem mesmo tinha sido objecto de proclamação, lei ou decreto. Aparece numa nota da Polícia Cívica, enviada às redacções naquele dia 22 de Junho de 1926, em pleno período de agitação e ajustamento nas fileiras dos golpistas. “Os triunfadores do 28 de Maio não suportam a crítica nem mesmo o esvoaçar leve de uma ironia” – queixava-se o Diário de Lisboa, de Joaquim Manso, no “ultimo dia” de liberdade, a 23 de Junho de 1926.

Dias antes, a 16 de Junho, fora eliminado do processo o comandante Mendes Cabeçadas, um dos heróis do 5 de Outubro, que proclamara não querer ser ditador (talvez por isso o atiraram tão cedo pela borda fora), mas ainda sobrava o general Gomes da Costa, novo Presidente do Ministério, que acabava de prometer e jurar:

– Quero governar com uma imprensa livre.

De facto aquele chefe militar até não se privara de enaltecer a Imprensa que “preparou a atmosfera que tornou possível o 28 de Maio”. A Imprensa que tomou a posição de mais perigo na barricada contra um estado de cousas que reclamava cirurgia urgente... – alegava, em desespero, o Diário de Lisboa. Tarde demais.

De facto a Imprensa tinha andado a brincar com o fogo e agora apelava à “paternal autoridade” do general golpista, que nos primeiros dias de Julho, aliás, faz sair uma Lei de Imprensa prometendo liberdade, teoricamente aceitável. Em vão.

Queimou-se ele também, aprendiz de feiticeiro. Quinze dias depois: O general Gomes da Costa/ foi afastado da Presidência do Ministério/ tendo-se organisado um novo governo/ sob a chefia do general Carmona – anuncia o mesmo “Diário de Lisboa” a toda a largura das suas páginas centrais, em 9 de Julho de 1926.

Consumava-se a ditadura, com a censura à Imprensa, a exemplo do que então acontecia na Itália de Mussolini e na Espanha de Primo de Rivera (foi um dos argumentos “internacionalistas” invocados).

Os primeiros carimbos da censura, com os dizeres Este número foi visado pela/ Comissão de Censura, apareceram nas primeiras páginas dos jornais a 24 de Junho de 1926, dia de S. João, Perante a resignação geral: O povo dansou, cantou, deitou-se tarde, divertiu-se, indiferente – escreve Norberto Araújo, no D.L..

Mal sabia, o Povo. A censura precedia a PEVIDE, a PIDE, a DGS, as prisões, os Tribunais Plenários, as torturas, as eleições aldrabadas, com os jornais sempre obrigados a tapar os buracos da censura para não se saber (com os piupius, que logo inventou o “Sempre Fixe” para informar que a censura tinha passado por ali). Iria estender-se aos espectáculos e aos livros por vezes de maneira brutal. Conta José Brandâo, no seu estudo sobre Os livros e a Censura em Portugal:

De uma só vez, a editora Europa-América teve 73 mil livros apreendidos e 23 títulos proibidos. A “caça” começou no dia 14 de Junho de 1965. Durante quatro dias deram volta a tudo. Regressaram no dia 23. Agora com carros que cercaram todo o edifício de Mem Martins e levaram toda aquela quantidade de livros. Em dinheiro da altura, o prejuízo andou pelo menos na ordem dos 700 contos. Para a grande maioria dos editores portugueses, nesse tempo, tal situação era a ruína completa.


Nesse mesmo ano, e na sequência da atribuição do «Prémio Camilo Castelo Branco» ao escritor angolano Luandino Vieira, a cumprir uma pena de 14 anos de prisão sob a acusação de terrorismo, a Sociedade Portuguesa de Escritores vê a sua sede, em Lisboa, feita em fanicos por obra de um bando de legionários e agentes da polícia política, acabando por vir a ser extinta por despacho do ministro da Educação Nacional.


:O zelo dos coronéis da censura, directamente dependentes da Presidência do Conselho, como a PIDE, havia de atingir rrevolucionários tão perigosos como

Fernando Namora, a quem cortaram um artigo para Jornal do Médico, de 3 de Set. de 1960. Veja aqui as provas tipográficas do corte integral, com dois carimbos a vermelho da Comissão de Censura do Porto e a data de entrada «23 Ago. 1960». Tratava-se de um texto de homenagem à memória de Jaime Cortesão, falecido a 14 de Agosto de 1960, poucos meses depois de ter sido preso e muito maltratado, aos 73 anos, nos meses que se seguiram à campnha de Humberto Delgado..


Vergílio Ferreira, a quem proibiram em 1953 o romance «Cavalo Degolado», mais tarde autorizado sob o título «Manhã Submersa», Veja aqui o ofício da Direcção dos Serviços de Censura, assinado pelo secretário António Santana Crato. — 1953 Maio 29.


São alguns dos documentos da recente exposição As Mãos da Escrita na Biblioteca Nacional, que vale a pena ver.

Mas o melhor, online, sobre a história da censura, de 1926 a 1974, em Portugal é a Galeria Virtual da Censura.

Fica com uma boa ideia de como funcionou a censura de 24 de Junho de 1926 a 24 de Abril de 1974. Inclusive.

José Teles

quinta-feira, 21 de junho de 2007

“A defesa dos direitos humanos e a Resistência ao fascismo” - Colóquio na Ordem dos Advogados


Conforme anunciámos, decorreu na Ordem dos Advogados o debate "A defesa dos direitos humanos e a Resistência ao fascismo".

O Dr. Rogério Alves, Bastonário da Ordem dos Advogados, fez uma intervenção inicial em que se congratulou pela iniciativa do debate, enquadrando a época do Estado policial que se vivia antes do 25 de Abril de 1974.

Catarina Prista, em nome do Movimento Não Apaguem a Memória! relatou de que forma nasceu a Manifestação de 5 de Outubro de 2005 em frente à sede da Pide na Rua António Maria Cardoso que deu origem ao Movimento: uma iniciativa de jovens que não aceitaram que aquele espaço de Resistência fosse transformado num condomínio de luxo, sem que fosse preservada a Memória daqueles que lá sofreram e lutaram. Uma manifestação espontânea, convocada por SMS e que teve uma adesão inesperada.

Carlos Brito , como ex-preso político, fez um impressionante relato da sua experiência. De Caxias ao Aljube, passando por Peniche, relatou-nos as experiências das torturas do sono e da estátua, a solidão da prisão, a luta interior dos presos, a fuga do Aljube, feito histórico de 1957, já relatado neste blogue.

A intervenção de José Augusto Rocha, advogado de presos políticos nos Tribunais Plenários, foi um momento alto do Colóquio:
José Augusto Rocha centrou a sua intervenção em dois casos que defendeu nesses Tribunais que mais não eram do que a tribuna da PIDE para encarcerar os democratas que defendiam a Liberdade e a Democracia: os processos de Amadeu Lopes Sabino e de Diana Andringa.
Relatos impressionantes, com descrições intensas das torturas sofridas, das ilegalidades cometidas, do horror de um Estado policial e ditatorial. Foi a demonstração do que era o Estado da PIDE - um Estado dentro do Estado. Relatos importantíssimos para a História do anti-fascismo e do que foram os famigerados Tribunais Plenários.

Finalmente, o historiador Luis Farinha encerrou o Colóquio com uma importante intervenção: Para Luis Farinha, é fundamental não branquear o chamado Estado Novo como algumas tendências historiográficas parecem querer; o Estado Novo foi, segundo ele, um período de retrocesso dos Direitos Humanos, foi o desmantelamento do Estado de Direito. De 1926 a 1974 não existiu Estado de Direito em Portugal.
Para este historiador, a importância dos advogados de defesa dos presos políticos foi uma frente de batalha importantíssima na luta pelos Direitos Humanos.

Seguiu-se um debate de grande vivacidade com a assistência.

Poesia pela Liberdade - 30 de Junho


O Grupo de Trabalho Roteiros da Memória do Não Apaguem a Memória! promove, em parceria com a Câmara Municipal de Odivelas o Projecto "Poesia pela Liberdade".
As sessões realizam-se na Biblioteca Municipal D. Dinis (núcleo da Pontinha).
A primeira sessão realiza-se já no próximo dia 30 de Junho, pelas 10:30 horas, e é dedicada a José Gomes Ferreira - O "Poeta Militante".
Maria Emília Neves, coordenadora do Projecto, dirá poemas por si escolhidos, acompanhada pelo músico João Bessa que interpretará, em flauta de bisel, temas do Cancioneiro Geral.
Todos estão convidados a assistir e participar (dizendo poesia, por exemplo).

(A Biblioteca situa-se por detrás do conhecido restaurante "Velho Mirante" da Pontinha.)

quarta-feira, 20 de junho de 2007

A tortura do sono vista pela cinematografia portuguesa

Fazer um filme em torno da tortura do sono parece, à partida, uma tarefa espinhosa, mas foi a isso que José Barahona se abalançou, e com bons resultados. Contou com a preciosa ajuda do escritor Mário de Carvalho. Aproveitamos para divulgá-lo aqui, agradecendo a Mário Machado Castro a sugestão.

Ficha técnica do filme Quem é Ricardo (Portugal, 2004)
Realizador: José Barahona
Intérpretes: Augusto Portela, Luís Mascarenhas, Quim Cachopo, João Didelet, Heitor Lourenço, João Miguel Rodrigues, André Gago, António Marques, Jorge Estreia.
Argumento: Mário de Carvalho
Fotografia: Leonardo Simões
Som: Quintino Bastos
Montagem: Isabel Antunes, José Barahona
Duração: 35 min.
Formato: Betacam
DigitalProdução: Cinequanon
Financiamentos: ICAM, RTP.
Fonte: blogue O país do burro.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Conversas com a História - 27 de Junho de 2007 às 18:30 horas




Mais uma vez a Revista História e a FNAC no Chiado promovem uma Tertúlia das "Conversas com a História". Desta vez o tema é Estado Novo e Médio Oriente - Petróleo e Política Colonial (1956-1973).

domingo, 17 de junho de 2007

Aristides de Sousa Mendes (a homenagem e o museu)

Está em curso um programa luso-francês de homenagem ao cônsul português Aristides de Sousa Mendes, que salvou do Holocausto c. 10 mil judeus, desobedecendo assim a ordens de Salazar e sendo por isso represaliado. Intitula-se «Sur les pas de Aristides de Sousa Mendes» e é organizado pelos Amigos de Aristides e Angelina Sousa Mendes.
Teve início em Bordéus, nos dias 16-17/6. Esta 2.ª feira à tarde dá-se a partida para Hendaye. Nos dias 20-21 é a vez de Cabanas de Viriato, terra natal do diplomata (aproveita-se para salientar que dia 20 é o Dia Mundial do Refugiado e do Asilo). A 22-23 é homenageado na Univ. de Coimbra e em Tomar (sinagoga). Por fim, a 23-24/6 há jornadas em Lisboa. O programa integral pode ser consultado aqui.
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O projecto foi idealizado pela arq.ª Luisa Pacheco Marques (tb. sua coordenadora), tem direcção de arte de João Francisco Vilhena e a componente científica é assegurada por uma equipa do ICS-UL coordenada por António Costa Pinto e incluindo Paulo Jorge Fernandes, Susana Chalante e Tiago Maranhão.

sábado, 16 de junho de 2007

Está em marcha o guia de fontes para a História da resistência antifascista

Na prossecução dos objectivos do movimento Não apaguem a Memória!, tem especial pertinência a elaboração de um Guia de fontes para a História da resistência e da oposição à Ditadura Militar e ao Estado Novo.
Para o feito, lançámos um inquérito aos 309 municípios do país, para apurar onde existem colecções, espólios, fundos arquivísticos ou bibliotecas particulares de resistentes ou opositores (tanto indivíduos como organizações) ao regime do Estado Novo. Seguiu hoje mesmo, por correio electrónico, o respectivo pedido.
Trata-se de uma iniciativa cívica e de partilha de informação, que permitirá, num futuro próximo, conhecer, caracterizar e divulgar junto de toda a comunidade nacional o património documental referente àquela temática, que se encontra, por doação, compra ou qualquer outra forma de incorporação, à guarda dos municípios portugueses (seja nos respectivos arquivos, bibliotecas, centros de documentação, museus ou outros equipamentos). A informação recolhida será tratada e disponibilizada na Internet, através do blogue e do site do Movimento.
Agradecemos, desde já, a colaboração que as Câmaras Municipais quiserem prestar à iniciativa do movimento Não apaguem a Memória!
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Imagem: escritório da Casa Museu José Régio, da Câmara Municipal de Vila do Conde

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Na sombra da História

«Na sombra da História» é o nome dum novo programa do Rádio Clube Português, que "recorda os grandes personagens esquecidos pelo pó dos tempos...". Estreou a 26 de Maio passado com uma homenagem ao jornalista e poeta Fernando Assis Pacheco. Seguiram-se-lhe as evocações de Maria de Lourdes Pintasilgo e de Luís de Sttau Monteiro, autor da célebre peça anti-salazarista «Felizmente há Luar». O programa passa aos sábados (13-14h) e é da autoria de Nuno Domingues e Rogério Rodrigues. A uma mesa juntam pessoas que conviveram de perto com os homenageados e a conversa desenrola-se à volta de certas etapas biográficas.

“A defesa dos direitos humanos e a Resistência ao fascismo” - Colóquio na Ordem dos Advogados, dia 20/6/2007, pelas 21:00 horas

No seguimento das accções realizadas pelo Movimento relativas à Memória daqueles que, durante a ditadura fascista em Portugal, foram "julgados" à revelia dos mais elementares direitos, nomeadamente a lápide descerrada a 6 de Dezembro de 2006 no Tribunal da Boa-Hora, realiza-se no próximo dia 20 de Junho, pelas 21H00, no Salão Nobre da Sede da Ordem dos Advogados (Largo de S. Domingos, nº 14-2º, junto ao Palácio da Independência, em Lisboa) um colóquio da iniciativa conjunta da Ordem dos Advogados e do Movimento Cívico Não apaguem a memória!, subordinado ao tema “A defesa dos direitos humanos e a Resistência ao fascismo”.

Intervirão como oradores, para além de Rogério Alves, Bastonário da Ordem dos Advogados, José Augusto Rocha, como ex-Advogado de presos políticos, Carlos Brito, como ex-preso político, Catarina Prista em representação do Movimento e Luís Farinha como historiador.

Gravura de José Dias Coelho

A propósito deste debate e do que ele vai recordar, lembramos aqui excertos de um artigo de António Valdemar sobre os Tribunais Plenários:

"Os tribunais plenários, juntamente com a PIDE, as forças Armadas, a censura, a banca, a esmagadora maioria do episcopado português e outros elementos da hierarquia da Igreja Católica foram os principais sustentáculos da ditadura que se prolongou de 28 de Maio de 1926 a 24 de Abril de 1974.

Data de 1945 a criação dos tribunais plenários de Lisboa e do Porto. Destinavam-se a julgar acusações e delações contra a segurança do Estado e, ainda, processos de liberdade de imprensa, não apenas circunscritos a matéria editada em jornais e revistas mas também em livros e outras publicações.

Logo que foi implantada a ditadura militar de 28 de Maio de 1926, restringiram-se as liberdades constitucionais, estabeleceu-se a censura, preparou-se uma polícia política. Sob a alçada do foro militar ficaram os processos políticos. Quando Salazar ascendeu, a 5 de Julho de 1932, a chefe do Governo, também são criados em Lisboa e Porto, em Dezembro de 1932, os tribunais militares especiais para os crimes políticos.

Surgia, em 1933, a PVDE, nome mais tarde tristemente célebre pela designação PIDE. Também lhe competia a elaboração do processo que decorria sem qualquer assistência jurídica. Os autos de declarações, obtidos, muitas vezes, através de espancamentos, violações, chantagens e outras torturas físicas e psicológicas, faziam fé em julgamento.

O pós-guerra levou Salazar a procurar um novo rosto político para o Estado. Fez uma operação de cosmética jurídica. Em 20 de Outubro de 1945 acabaram os tribunais militares especiais. Deram lugar aos tribunais plenários de Lisboa e do Porto. Dois dias depois da institucionalização, outro decreto-lei atribuía à PIDE a exclusiva competência para a instrução dos processos. Continuava a recorrer aos mesmos métodos e a aperfeiçoá-los para extorquir e forjar confissões. O cérebro da PIDE era então o subdirector, José Catela, mas o director, o capitão Agostinho Lourenço, posara numa foto ao lado de Kramer, um dos instaladores dos campos de concentração nazis. Na mesma altura em que Salazar tinha no gabinete de trabalho a fotografia de Mussolini.

Para completar a aliança da justiça com a polícia política, haviam sido, igualmente, decretadas medidas de segurança, que a PIDE (por sua iniciativa ou através do Ministério do Interior) propunha, os tribunais plenários deferiam, a PIDE, a seguir, executava e prorrogava arbitrariamente. Milhares de presos políticos em Caxias, no Aljube, em Peniche, no Porto, no Tarafal, no Forte de S. João Baptista (Angra do Heroísmo, nos Açores), no campo de S. Nicolau (Angola), na Machava (Moçambique), depois de cumpridas as penas, voltavam a ficar presos por tempo indeterminado.

Mais de 90 por cento das testemunhas nos processos são pides. Para a defesa dos arguidos, os advogados também indicavam como testemunhas de defesa os inspectores, chefes de brigada e agentes da PIDE que haviam feito a investigação. Todavia, nunca compareciam no julgamento, sob a alegação de estarem ausentes em serviço urgente.

As audiências eram, praticamente, vedadas ao público. Antes de começar o julgamento, nos lugares da sala do plenário sentavam-se elementos da PIDE. A pretexto da lotação estar esgotada, a PSP, à porta, impedia o acesso a familiares, amigos e jornalistas..."

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Ciência, tecnologia e fascismo


O Workshop «Science, Technology and Fascism» decorre esta 5.ª e 6.ª feiras no ICS-UL (aud.º Sedas Nunes). O evento, organizado por Tiago Saraiva e outros especialistas de História da Ciência, abordará as temáticas da ciência e da tecnologia no contexto dos regimes autoritários de direita do século XX. O respectivo resumo e programa podem ser consultados aqui.

domingo, 10 de junho de 2007

À memória dos judeus da Europa assassinados: monumento e centro de informação

Em Berlim, próximo da Porta de Brandeburgo, foi construído entre 2003 e 2005 um monumento radical à memória dos judeus da Europa assassinados, baseado nos planos do arquitecto Peter Eisenman. O monumento, que abdica de qualquer simbolismo, é composto por 2.711 estelas de betão e está estruturado em grelha. O visitante pode percorrê-lo a pé, segundo o seu critério aleatório e pessoal, a qualquer hora do dia ou da noite. Por baixo do monumento, que ocupa toda uma praça, encontra-se um centro de informação subterrâneo, concebido por Dagmar von Wilcken.
A visita ao centro de informação tem início num corredor onde se apresenta uma cronologia da política de perseguição nacional-socialista entre 1939 e 1945, não só aos judeus mas também a outros grupos de vítimas. Sucedem-se 4 salas: a sala das dimensões, que acolhe 15 testemunhos auto-biográficos escritos por mulheres e homens judeus durante a perseguição (o registo individual é complementado por uma linha contínua que menciona o número de vítimas nos países europeus mais afectados); a sala das famílias, que apresenta diversos ambientes sociais, nacionais, culturais e religiosos, com base no destino de 15 famílias judias que viveram na Europa antes do Holocausto; a sala dos nomes, onde se ouve em registo audio os nomes e breves biografias de judeus assassinados e desaparecidos, originários de toda a Europa (simultaneamente são projectados o nome, o ano de nascimento e o ano da morte das vítimas nas quatro paredes da sala); e a sala dos lugares, que remete para a extensão geográfica do assassinato dos judeus (através de filmes e fotografias são mostrados, a título de exemplo, 200 lugares de perseguição e extermínio dos judeus e de outros grupos de vítimas). A visita ao centro de informação termina no portal dos locais de memória. Aí podemos obter informação sobre ocorrências actuais em locais históricos e sobre instituições de pesquisa em toda a Europa.
As visitas são gratuitas.
Horário: 3ª feira a domingo das 10 às 20 h. Encerrado nos dias 1 de Janeiro, 24 a 26 de Dezembro e 31 de Dezembro.
Mais informação em português aqui.
O movimento cívico Não apaguem a Memória! tem neste centro de informação um óptimo exemplo de como construir, de forma inteligente e complexa, representações da memória, em contexto museológico.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

MEMÓRIA SUBVERSIVA - Anarquismo e Sindicalismo em Portugal 1910-1975


Dia 9 de Junho no Salão Brazil em Coimbra, passa o documentário de José Tavares e Stephanie Zoche MEMÓRIA SUBVERSIVA - Anarquismo e Sindicalismo em Portugal 1910-1975

José Tavares, um dos autores, apresenta-nos assim o filme:

Nas primeiras décadas do século XX a ideia anarquista e particularmente o sindicalismo anarquista foram uma força pujante em Portugal.
A CGT (Confederação Geral do Trabalho – anarco-sindicalista) era a única Central Sindical que existia no País. A sua publicação, A Batalha, chegou a ser o terceiro diário de maior circulação no País.
Memória Subversiva é o único documentário sobre este movimento, reunindo os testemunhos de vinte e um activistas anarquisas e sindicalistas. Falam sobre greves insurrecionais e agitação social nos anos vinte, do confronto com o fascismo, da Guerra Civil espanhola, da repressão e clandestinidade, do Campo de Concentração do Tarrafal, do 25 de Abril de 1974…
O vídeo revela o forte humanismo e autodidatismo, características essenciais das actividades anarquistas e sindicalistas. Temas como o anti-militarismo, sexualidade, ecologia e pedagogia moderna estão também presentes como parte integrante de um mesmo combate.
Numerosos documentos e filmes de arquivo ilustram o anarquismo e sindicalismo em Portugal e o seu contexto histórico, desde a primeiraRepública portuguesa até 1975.

Pela sua originalidade é de ver!

O Estado Novo e a Memória do Neo-Realismo segundo Eduardo Lourenço

Emília Cerqueira chamou-nos a atenção sobre uma entrevista de Eduardo Lourenço na Pública (suplemento do Jornal Público) de 13 de Maio.

Lembramos a biografia desse grande pensador português:



"Eduardo Lourenço (São Pedro de Rio Seco, 23 de Maio de 1923) é um ensaísta, professor universitário, filósofo e intelectual português.
Oriundo de uma pequena aldeia e de uma família conservadora, estudou no Colégio Militar em Lisboa. Encontra em Coimbra um ambiente mais aberto e propício a uma reflexão cultural que sempre haveria de prosseguir. Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas (1946), permaneceu na Universidade de Coimbra como assistente de Filosofia, entre 1947 e 1953. É nesse período que publica o primeiro livro Heterodoxia (1949). Foi professor de Cultura Portuguesa entre 1954 e 1955 na Alemanha (em Hamburgo e Heidelberg), exercendo depois a mesma actividade na Universidade de Montpellier (1956-58). Após um ano passado na Bahia ensinando Filosofia, viveu, a partir de 1960, em França, leccionando nas Universidades de Grenoble (até 1965) e de Nice (1965-1987).
Influenciado pela leitura de Husserl, Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger, Sartre ou pelo conhecimento das obras de Dostoievski, Franz Kafka ou Albert Camus, foi associado de um certo modo ao existencialismo, sobretudo por volta dos anos cinquenta, altura em que colaborou na Árvore e se tornou amigo de Vergílio Ferreira. Nunca se deixou enfeudar, todavia, a qualquer escola de pensamento, já que, embora favorável a ideias de esquerda, nunca abandonou uma atitude crítica perante essa esquerda.
Com uma clara autoridade moral, foi-lhe atribuída a Ordem de Santiago da Espada em 1981, o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon (concedido em 1988 por ocasião da sua obra Nós e a Europa ou as Duas Razões) no ano em que foi colocado em Roma como adido cultural português.
Crítico e ensaísta literário, virado predominantemente para a poesia, assinou ensaios polémicos como Presença ou a Contra-Revolução do Modernismo Português? n' O Comércio do Porto (1960) ou um particular estudo sobre o neo-realismo intitulado Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista (1968). Aproximou-se da modernidade, da obra de Fernando Pessoa, a propósito da qual deu à estampa o volume Pessoa Revisitado (1973), ou Fernando Rei da Nossa Baviera (1986). Indiferente à sucessão de correntes teóricas, e fugindo tanto ao historicismo como a pretensas análises objectivas, a perspectiva de Lourenço influenciou já outros autores, como por exemplo Eduardo Prado Coelho e encontra-se enunciada num livro central, Tempo e Poesia (1974).
Em 1996 recebe o Prémio Camões e em 2001 o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora.
Intérprete maior das questões da cultura portuguesa e universal, Eduardo Lourenço é tido como um dos mais prestigiados intelectuais europeus." (da Wikipédia) .

Pelo interesse que tem, aqui fica o link para essa entrevista fundamental:

  • Retrato de um pensador errante
    Luís Miguel Queirós (texto) e Nelson Garrido (fotos)
  • quarta-feira, 6 de junho de 2007

    Oradour-sur-Glane


  • Oradour


  • A caminho de Samis, na região do Limousin, passamos por Oradour-Sur-Glane, proclamada aldeia martírio após a Segunda guerra mundial.

    A 10 de Junho de 1944, em represália contra os Resistentes franceses e as populações cúmplices, os Waffen SS alemães designaram uma aldeia como bode expiatório: o objectivo era intimidar todos aqueles que se opunham à força de ocupação. Calhou em Oradour-sur-Glane, aldeia pacata, a poucos quil­ómetros de Limoges. Liquidaram, em poucas horas, toda a aldeia em condições bárbaras: as mulheres e as crianças fechadas na igreja foram asfixiadas, metralhadas e finalmente queimadas dentro do edifício religioso. Os homens, divididos em vários grupos, foram abatidos com rajadas de metralhadoras em três recintos fechados da aldeia. Finalmente, toda a aldeia foi destruída pelas chamas dos diversos incêndios ateados pelos alemães que deitaram os corpos calcinados numa fossa para impedir a identificação dos cadáveres.

    O general De Gaulle decidiu conservar a aldeia conforme estava para que a memória daquela hedionda tarde nunca mais fosse esquecida. Hoje, podemos circular pelas ruas desertas, pelas casas vazias onde algumas máquinas de costura ou carros roidos pelas chamas, pela corrosão do tempo vão apodrecendo. As casas despovoadas, sem portas, sem janelas, sem telhado, escancaradas, à chuva, ao vento testemunham da intrusão brutal e criminosa de ideologias perversas e de forças militares abusivas nos lares dos humildes. Famílias inteiras foram eliminadas, uma aldeia inteira foi riscada do mapa.

    A visita da igreja onde centenas de mulheres e de crianças foram executadas é particularmente comovente assim como o memorial em que os nomes dos aldeãos estão gravados. Obviamente, uma visita a Oradour-sur-Glane não se pode comparar com uma visita a um museu ou a um passeio pedestre com âmbito turístico. Esta visita assume contornos de catarse, de reflexão, de perpetuação da memória. Que um homem isolado seja capaz de cometer um acto hediondo pode-se entender mas que grupos de homens, populações inteiras, participem em crimes em tão grande escala, em número como em horror, não tem cabimento. Estes massacres questionam-nos sobre o Homem, sobre a Humanidade e, por conseguinte, sobre nós mesmos. O número de pessoas envolvidas nestas chacinas indagam-nos forçosamente sobre a nossa natureza.

    Texto do Blogue Fala Barato

  • Fala Barato
  • 6 deJunho de 1944 - Dia D


    O dia 6 de Junho de 1944 entrou para a história como o Dia "D". Neste dia, os aliados ocidentais iniciaram a ofensiva contra as tropas alemãs no Canal da Mancha. Foi a maior operação de desembarque da história militar.

    Durante anos, a decisão de uma grande ofensiva sobre o Canal da Mancha foi motivo de fortes controvérsias entre os aliados ocidentais. Inicialmente, não houve consenso quanto à proposta da União Soviética de abrir uma segunda frente de batalha na Europa Ocidental, a fim de conter as perdas russas nos violentos combates contra as Forças Armadas alemãs. Somente no final de 1943, decidiu-se em Teerão planear para a Primavera seguinte a chamada Operação Overlord - a maior operação aeronaval da história militar.

    Nos meses seguintes, mais de três milhões de soldados norte-americanos, britânicos e canadianos concentraram-se no sul da Inglaterra para atacar os alemães na costa norte da França. Além disso, dez mil aviões, sete mil navios e centenas de tanques anfíbios e outros veículos especiais de guerra foram preparados para a operação.

    Operação anunciada pelo rádio

    A 6 de Junho de 1944, foi anunciada pelo rádio a chegada do "Dia D" - o Dia da Decisão. A operação ainda tinha sido adiada por 24 horas, devido ao mau tempo no Canal da Mancha e, por pouco, não fora suspensa. Antes do amanhecer, pára-quedistas e caças aéreos já tinham bombardeado trincheiras alemãs e destruído vias de comunicação. Uma frota de aproximadamente 6500 navios militares atracou num trecho de cerca de 100 quilômetros nas praias da Normandia, no nordeste da França.

    No final do primeiro dia da invasão, mais de 150 mil soldados e centenas de tanques tinham alcançado o continente europeu. Graças à supremacia aérea dos aliados, foi possível romper a temível "barreira naval" de Hitler e estabelecer as primeiras cabeceiras de pontes. As perdas humanas - 12 mil mortos e feridos - foram menores do que as esperadas, visto que o comando militar alemão foi surpreendido pelo ataque.



    Alemães esperavam adiamento da operação

    Os nazis previam uma invasão, mas não sabiam onde ela ocorreria. Também não chegaram a um consenso sobre a melhor maneira de enfrentá-la. Por causa do mau tempo, esperavam que a operação fosse adiada para o verão europeu. Em função de manobras simuladas pelos aliados, Hitler concentrara o 15º exército na parte mais estreita do Canal da Mancha, onde previa ser atacado. As demais tropas alemãs permaneceram no interior do país, em vez de serem estacionadas na costa, como havia pedido inutilmente o marechal-de-campo Erwin Rommel. Graças a esses erros estratégicos, os aliados escaparam de uma violenta contra-ofensiva alemã.

    Apesar disso, o avanço das tropas aliadas enfrentou forte resistência. A cidade de Caen, que os ingleses pretendiam libertar já no dia do desembarque, só foi entregue pelos alemães no dia 9 de Junho, quase toda destruída. As defesas nazis, no interior da França, só foram rompidas a 1 de Agosto, uma semana depois do previsto.

    O "Dia D", comandado pelo general Dwight D. Eisenhower, foi o ataque estratégico que daria o golpe mortal nas forças nazis. "A hora da libertação chegou", profetizou o próprio Eisenhower, a 2 de Junho.

    Paris foi libertada a 25 de Agosto, Bruxelas, a 2 de Setembro. A fronteira alemã anterior ao início da guerra foi cruzada pelos aliados em Aachen a 12 de Setembro, ao mesmo tempo em que eram realizados bombardementos aéreos contra cidades industriais alemãs. No início de 1945, os soviéticos (pelo leste) e os norte-americanos (pelo oeste) fizeram uma verdadeira corrida para ver quem chegava primeiro a Berlim, para comemorar a vitória definitiva sobre a Alemanha nazi.

    Fotografias de Robert Capa

    terça-feira, 5 de junho de 2007

    Centenário de António Aniceto Monteiro


    O centenário do nascimento do matemático e exilado político António Aniceto Monteiro foi evocado pela Universidade de Lisboa com um Colóquio (4-5/6) e a Exposição António Aniceto Monteiro / Portugaliae Mathematica. Esta mostra, organizada pela Sociedade Portuguesa de Matemática, abriu a 31/V e decorre até 31/VII, no Museu de Ciência da FCUL.
    Mais informações no blogue dedicado a António Aniceto Monteiro.
    Na imagem: capa da recente fotobiografia dedicada ao matemático.