terça-feira, 24 de abril de 2007
Diário do 25 de Abril - 24/04/1974
Preparativos para a transmissão da senha para início das operações:
Álvaro Guerra é o elemento de ligação com Carlos Albino (ambos jornalistas do diário República), a quem pede a transmissão da canção «Venham mais Cinco» no Limite de 25 de Abril. Carlos Albino pede a Álvaro Guerra para devolver a resposta de que tal canção estava proibida pela censura interna da Renascença embora a censura oficial a tolerasse. Sugeridas alternativas, entre as quais e à cabeça, a canção «Grândola».
MFA. Preparativos para a Acção:
No início da manhã, Álvaro Guerra comunica a Carlos Albino a escolha definitiva da Grândola como senha nacional e a hora da sua transmissão no programa «Limite»: das 0h 20m para as 0h 22m. Carlos Albino contacta outro elemento da equipa do «Limite», Manuel Tomás. Por precaução e para evitar atrasos e imprevistos na emissão da senha, fazem todas as diligências necessárias à gravação de um alinhamento de programa com cerca de 10 minutos em que a leitura da primeira estrofe da Grândola aparecia ligada à leitura de outros textos. Pedem a um dos locutores habituais do «Limite», Leite de Vasconcelos, que grave esse alinhamento de textos, mas mantêm segredo sobre o verdadeiro destino dessa gravação.
Organização do posto de comando do MFA em Engenharia 1, na Pontinha.
NATO:
Várias unidades da NATO (StaNavForLant) chegam ao porto de Lisboa alegadamente para tomarem parte nas manobras aero-navais «Down Patrol», programadas para o dia 26 no Mediterrâneo. A Fragata portuguesa Almirante Gago Coutinho integra a força.
Preparativos para a transmissão da senha para início das operações:
Álvaro Guerra novamente serve de elo de ligação de Almada Contreiras com Carlos Albino, a quem comunica a escolha definitiva de «Grândola Vila Morena» como senha para o movimento militar. Carlos Albino garante a transmissão, sem que qualquer outro elemento do Limite soubesse da decisão. Carlos Albino adquire na então Livraria Opinião, a Madeira Luís, o disco "Cantigas de Maio" para garantia, sabendo que os estúdios e escritórios do Limite poderiam ser devassados pela polícia política, a qualquer momento. Desde Dezembro de 1973, havia indícios de que a PIDE preparava o assalto dos escritórios do Limite, na Praça de Alvalade.
Carlos Albino opta por chamar à colaboração o elemento da sua maior confiança no Limite e que era o responsável técnico e de sonoplastia, Manuel Tomás que adere por completo. Encontro decisivo com Manuel Tomás, para a execução da senha e garantia de transmissão contornando as duas censuras que o Limite enfrentava: a da Rádio Renascença e a oficial (um coronel que acompanhava as emissões em directo e visava previamente os textos). Carlos Albino e Manuel Tomás decidem sair dos estúdios para um local onde possam prosseguir com segurança o diálogo. Ajoelhados na Igreja de S. João de Brito e simulando rezar, Carlos Albino e Manuel Tomás combinam todos os pormenores técnicos da senha.
03h00 - O agente de ligação entrega ao major Albuquerque, do Centro de Instrução e Condução Auto 1 (CICA 1), as ordens de operações referentes às unidades da Zona Norte.
Madrugada – Recepção, no Regimento de Infantaria 14 (RI 14), em Viseu, da ordem de operações. O capitão Ferreira do Amaral transmite as instruções a Lamego e o capitão Aprígio Ramalho à Guarda.
08h00 - O capitão Castro Carneiro e o alferes Pêgo, do CICA 1, iniciam a viagem destinada a entregar as ordens de operações às unidades de Lamego (capitão Delgado da Fonseca), Vila Real (capitão Mascarenhas) e Bragança (Capitão Freixo).
08h30 - Os oficiais da EPC, ligados ao MFA, iniciam nas paradas, no maior sigilo, os contactos com os cerca de cinquenta graduados (oficiais subalternos do Quadro Permanente, alferes, aspirantes, furriéis e cabos milicianos), individualmente, comunicando-lhes que, se a senha e contra-senha forem para o ar, a operação decorrerá nessa madrugada.
c. 09h30 - O capitão Santa Clara Gomes, oficial de ligação, entrega ao major Cardoso Fontão a ordem de missão referente ao Batalhão de Caçadores 5 (BC 5).
10h00 - Álvaro Guerra comunica a Carlos Albino a escolha definitiva de Grândola Vila Morena como senha nacional, garantindo este a sua transmissão.
c. 10h00 - Otelo envia, da estação dos CTT da rua D. Estefânia, o telegrama cifrado a Melo Antunes, contendo o GDH.
11h00 - Carlos Albino adquire na então livraria Opinião o disco «Cantigas de Maio», para garantia, já que, desde Dezembro de 73 havia indícios de que a PIDE se preparava para um assalto aos escritórios do Limite, na Praça de Alvalade.
- O capitão Costa Martins contacta João Paulo Dinis e informa-o que o sinal foi antecipado em uma hora.
14h00 - O jornal República insere uma curta notícia, intitulada «LIMITE», com o seguinte teor: "O programa «Limite» que se transmite em Rádio Renascença diariamente entre a meia-noite e as 2 horas, melhorou notoriamente nas últimas semanas. A qualidade dos apontamentos transmitidos e o rigor da selecção musical, fazem de «Limite» um tempo radiofónico de audição obrigatória.»
14h?? - O major Neves Rosa comunica a Otelo que o último elemento de ligação tinha cumprido a missão.
15h00 - Encontro decisivo de Carlos Albino com Manuel Tomás (técnico da Rádio Renascença e um dos responsáveis pelo programa Limite que regressara de Moçambique com fama de democrata) para a execução da senha e garantia da sua transmissão. Refira-se que, sendo o Limite um programa independente, era obrigado a passar por duas censuras: a da Rádio Renascença e a oficial, esta última corporizada num coronel que acompanhava as emissões em directo e visava previamente os textos. Para maior segurança, retiram-se dos estúdios para um local seguro.
15h30 - Na Igreja de S. João de Brito, simulando rezar, combinam todos os pormenores técnicos da senha.
17h00 - Os tenentes Baluda Cid, Ramos Cadete e Silva Aparício saem da EPC e dirigem-se a Lisboa, com a missão de "controlar", "aliciar" alguns oficiais e tentar "inoperacionalizar" algumas viaturas blindadas do RC 7.
- Manuel Tomás convoca Leite de Vasconcelos (um outro responsável pelo referido programa, companheiro de Manuel Tomás em Moçambique), em dia de folga na locução do Limite, para «gravar poemas». Carlos Albino escreve textos para serem visados pelo censor.
17h30 - Os graduados milicianos da EPC ultimam os preparativos para a operação, designadamente quanto a material e equipamentos.
19h00 - Os censores na Rádio Renascença autorizam os textos e o seguinte alinhamento do bloco com a duração de 11 minutos: quadra, canção Grândola, quadra, poemas Geografia e Revolução Solar, da autoria de Carlos Albino, e a canção Coro da Primavera.
20h00 - Na Rádio Renascença, Leite de Vasconcelos procede à gravação dos textos que lhe são apresentados, desconhecendo o seu objectivo.
21h00 - Otelo entrega ao capitão António Ramos, no Jornal do Comércio, o conjunto de documentos finais e um saco com granadas. Pede-lhe para permanecer toda a noite junto de Spínola, juntamente com outros oficiais de confiança, assegurando-lhe que uma força militar iria garantir a segurança próxima da residência do general, sita na rua Rafael Andrade, ao Paço da Rainha.
- Os oficiais da Força Aérea (tenente-coronel Sacramento Gomes, majores Costa Neves e Campos Moura e capitães Correia Pombinho, Mendonça de Carvalho, Santos Silva e Santos Ferreira) que constituem o «10º Grupo de Comandos» reúnem-se em frente ao Grill do Hotel Ritz e iniciam a vigilância ao Rádio Clube Português
21h30 - Fecho da porta de armas da EPC. Os militares contactados, que haviam saído da unidade, fazem a sua entrada, trajando à civil, para não alertar os elementos da PIDE/DGS que rondam o quartel.
21h50 - O tenente miliciano Sousa e Silva, oficial da dia na EPC, é substituído nesta função, para poder tomar parte na operação.
c. 21h45 - O capitão Santos Coelho, do RE 1, junta-se aos seus camaradas do «10º grupo de comandos» e distribui-lhes armas e munições. Procede, em seguida, à leitura da ordem de operações e à recapitulação das missões.
22h00 - Otelo regressa ao RE 1, onde se farda. Recebe do major Sanches Osório os primeiros quatro comunicados, entregues por Vítor Alves, bem como a notícia de que o Regimento de Infantaria 1 (Amadora) não adere, deixando, assim, de garantir o cerco à prisão de Caxias e a protecção de Spínola. Entrega os comunicados ao seu adjunto para que este os faça chegar ao grupo de comandos que tomará o R.C.P.
- O capitão Salgueiro Maia, que vai comandar a coluna militar da EPC, na "Operação Fim Regime", dá início a uma breve reunião, no piso dos quartos dos oficiais, para dar a conhecer a Ordem de Operações, distribuir missões e definir detalhes para o desencadear da operação.
22h30 - No Posto de Comando encontra-se reunido o Estado Maior do Movimento das Forças Armadas, dirigido pelo major Otelo Saraiva de Carvalho e constituído pelos tenentes-coronéis Garcia dos Santos e Nuno Fisher Lopes Pires, major Sanches Osório, capitão Luís Macedo, adjunto operacional, e comandante Vítor Crespo, que assegura a ligação com a Marinha, garantida pela presença permanente do comandante Almada Contreiras no Centro de Comunicações da Armada (CCA). Contam, também, com a colaboração de quatro oficiais do RE 1 (Frazão, Máximo, Reis e Cepeda).
c. 22h48 - Uma falha técnica suspende, durante alguns minutos, a transmissão dos Emissores Associados de Lisboa, facto que causa natural apreensão nas largas dezenas de militares que aguardam ansiosamente o primeiro sinal para entrar em acção.
c. 22h51 - Restabelecimento da emissão dos E.A.L..
22h55 - 1ª senha: a voz de João Paulo Dinis anuncia aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74 «E Depois do Adeus». Era o primeiro sinal para o início das operações militares a desencadear pelo Movimento das Forças Armadas.
23h00 - Na Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas, os capitães Mira Monteiro e Oliveira Patrício e os tenentes Marques Nave, Cabaças Ruaz, Sales Grade, Andrade da Silva e António Pedro procedem à detenção dos comandante e 2º comandante da unidade, respectivamente coronel Mário Belo de Carvalho e tenente-coronel João Manuel Pereira do Nascimento, ocupam as centrais rádio e telefónica e assumem o controlo do quartel.
- Recolhem à Escola Prática de Infantaria (EPI) as forças que se encontravam em exercícios de campo.
- O «10º grupo de comandos» divide-se em equipas, distribuídas por 4 automóveis, para constituir patrulhas destinadas, além de manter a vigilância ao R.C.P., a observar as principais instalações das Forças de Segurança (GNR, PSP, LP e DGS), e dos quartéis da Calçada da Ajuda (RC 7 e RL 2):
- No BC 5 o major Cardoso Fontão comunica aos oficiais presentes o que está a acontecer e os objectivos do MFA. A adesão é total.
- O capitão António Ramos abandona as instalações do Jornal do Comércio e dirige-se para a residência do general Spínola, aonde acorreram, durante a madrugada, o tenente-coronel Dias de Lima e o major Carlos Alexandre de Morais.
23h25 - O capitão Garcia Correia chega à porta de armas da EPC, acompanhado do 2º comandante, tenente-coronel Henrique Sanches, que nessa noite havia convidado para jantar em sua casa, na expectativa de o aliciar para o movimento, o que se revelara infrutífero. Este, verificando que o oficial de dia fora substituído, ordena-lhe que retire imediatamente o braçal, no que não é obedecido.
23h30 - Henrique Sanches convoca para o seu gabinete o major Costa Ferreira, os capitães Garcia Correia e Correia Bernardo, o tenente Ribeiro Sardinha e o oficial de dia substituto, capitão Pedro Aguiar. O seu objectivo é demovê-los da acção revolucionária. No entanto, é informado da sua determinação em prosseguir a acção, bem como de todos os oficiais presentes nessa noite na EPC.
(Estes textos foram retirados dos Sites da Associação 25 de Abril e Instituto Camões)
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