Um ano e meio após a sua criação, o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! marcou presença na sociedade portuguesa, cresceu e consolidou-se.
Não foi por acaso. O Movimento veio indiscutivelmente responder a um anseio de muitas portuguesas e portugueses que se identificaram com a natureza cívica deste Movimento que foi capaz de chamar a si activistas e apoiantes dos mais distintos quadrantes políticos conseguindo, desta forma, mobilizar inúmeras pessoas em torno de uma causa nacional.
Aos poucos o Movimento ganhou credibilidade, conseguiu criar condições favoráveis para divulgar os seus objectivos, tanto no foro parlamentar, quanto no âmbito do Governo e sobretudo na opinião pública. Progressivamente ganhou força a ideia de um “dever de memória” que viesse dignificar e fazer justiça à coragem de tantos resistentes antifascistas.
Por isso, a Petição apresentada pelo Movimento para a preservação desta memória está na ordem do dia do debate parlamentar.
Assim sendo, é importante, em termos de organização do Movimento, divulgar as finalidades e as responsabilidades dos grupos existentes – sejam eles de carácter temático, geográfico ou de articulação das actividades – porque precisamos reforçar o Movimento aumentando o número de activistas. Mas, sobretudo, é indispensável uma participação activa e responsável. A adesão ao Movimento supõe acordo quanto aos princípios estabelecidos na Carta e a adesão aos métodos de trabalho adequados para o alcance dos fins perseguidos. A organização do Movimento repousa no plenário de activistas e no trabalho dos grupos acima referidos. E, conforme o âmbito e alcance das decisões, as questões são livremente discutidas, as propostas são apresentadas, debatidas e democraticamente votadas em plenário. Uma vez aprovadas por uma maioria, as deliberações do Plenário devem ser executadas.
Para abordar estes temas a Ordem de Trabalhos do 10º Plenário do Movimento Não Apaguem a Memória! que se realiza dia 1 de Março às 21 horas na Associação 25 de Abril, é a seguinte:
1. Leitura da Acta do plenário anterior.
2. Proposta para a Organização do Movimento.
3. Participação nas Listas TODOS e INFO.
4. Próximas actividades:
4.1. Dia 8 de Março – Colóquio de homenagem ao papel da mulher na resistência.
4.2. Início de Abril – Colóquio, na Ordem dos Arquitectos, para apresentação do projecto museológico realizado pelo grupo de arquitectos, designers, engenheiros e historiadores que nos apoiam, núcleo a ser criado no edifício ex-sede da PIDE/DGS, em Lisboa.
Vamos participar!
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
domingo, 25 de fevereiro de 2007
As Vidas dos Outros
Fui hoje ver o filme alemão As Vidas dos outros do realizador alemão Florian Henckel von Donnersmarck.
O filme retrata a evolução de um polícia da STASI, a polícia política da ditadura na RDA, que, tendo como missão espiar um famoso dramaturgo, acaba por encobrir o seu acto “subversivo” de ter escrito um artigo para uma revista da Alemanha Ocidental.
A história começa nos meados dos anos 80 e termina já depois da reunificação da Alemanha.
Um famoso dramaturgo alemão, admirador de Brecht, vê-se confrontado, sem o saber, com o desejo do Ministro da Cultura pela sua namorada, uma actriz famosa, admirada pelos amantes de teatro.
Disposto a tudo fazer para encontrar motivos políticos para a prisão do referido autor, ordena à STASI que o vigie. É a partir daqui que o polícia encarregue da sua vigilância começa um percurso de interrogações que o vão levar a acabar numa cave da STASI como funcionário menor.
O dramaturgo da história, homem com interrogações quanto ao regime mas que nunca o pôs verdadeiramente em causa, é confrontado com o suicídio de um amigo que fora, entretanto, colocado na lista negra do regime.
Resolve então escrever o referido artigo na Alemanha Ocidental sobre os suicídios na RDA, escondidos na estatística como homicídios.
Confrontado com as verdadeiras razões por que está a desempenhar aquela missão (o capricho sexual de um ministro) e assistindo, ao longo de vários dias, aos sentimentos, diálogos e razões dos que espia, o oficial da polícia acaba, também ele, por interrogar-se sobre o regime que o faz vasculhar “As vidas dos outros”. Acaba por sacrificar a sua vida profissional salvando o dramaturgo da prisão, mas não consegue impedir mais um suicídio – o da namorada que acaba por denunciar o dramaturgo, quando presa pela STASI e ameaçada com a destruição da sua vida, apesar de ter confiado no polícia que a quis salvar. Infelizmente, este não conseguiu fazê-la compreender a tempo a sua cumplicidade.
É um filme de esperança, pois que os homens pensam e, ao pensarem, podem alterar a vida - a sua e a dos outros.
É também um filme de e com Memória.
Vão vê-lo.
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cinema,
Florian Henckel von Donnersmarck
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
Somos nós os teus cantores
Como já noticiámos, este é um ano rico de tributos ao cantautor Zeca Afonso. Aproveita-se para registar aqui alguns dos eventos ainda por vir:
>22/2: documentário da RTP1 «José Afonso 20 anos depois... (0h30, mesa-redonda c/Otelo, José Jorge Letria, Cristina Branco, Viriato Teles e Rui Vieira Nery, além de vários depoimentos gravados);
>23/2: exp. «O que faz falta» (org. Mundo da Canção, 18h) e espectáculo «O Menino de Oiro» (21h30), uma teatralização da vida e obra de José Afonso dirigida por Gil Filipe (org. CMGuimarães); espectáculo «O andarilho das bruxas - uma homenagem a José Afonso», c/Fátima Santos, Jorge Quaresma, José Luis Iglésias, Luis Manuel, Sila Santos, Paula Seca, Jennifer Vincent e Todd Isler (8:30pm, org. Sport Club Português, 51-55 Prospect Street, Newark, NJ, EUA, programa aqui); exposição e colóquio sobre a sua vida e obra (org. da CMLoures; CMOdivelas); exp. «No tempo do Zeca Afonso» e concerto de João Afonso (org. CMEntroncamento); concerto c/Cantadores da Rusga, Jorge Jordan, Mingo Rangel, Rogério Charraz e poesia de Jorge Castro (Lx., org. Mercado da Ribeira, 22h30).
>24/2: concerto com a Banda Militar do Norte (15h30), seguido de debate com Hélder Costa, José Mário Branco, José António Gomes, Alípio de Freitas e Mário Barradas (17h30), concerto do grupo ARDENTÍA, e espectáculo «Maio, maduro Maio», com Amélia Muge, João Afonso e José Mário Branco (21h30; org. CMGuimarães); espectáculo/colóquio de homenagem a Zeca Afonso (Gal.ª de Arte do Convento Espírito Santo), debate sobre a sua vida e obra e concerto do grupo Ecos de Coimbra (org. CMLoulé); concerto (org. CMLoures, em parceria com a Assoc. de Moradores de St. Ant.º Cavaleiros); conc. do Quinteto de Jazz de Lisboa (org. CM Lajes do Pico, Açores).
>27-2: 21.30H homenagem a Zeca Afonso, concerto c/Afonso Dias e Francisco Fanhais (org. Clube Farense, apoio da CMFaro);
>?-2: espectáculo musical «A formiga no carreiro - 25 canções para Abril» (Viseu, org. Companhia De Mente).
Em Março há mais comemorações; serão então noticiadas.
>22/2: documentário da RTP1 «José Afonso 20 anos depois... (0h30, mesa-redonda c/Otelo, José Jorge Letria, Cristina Branco, Viriato Teles e Rui Vieira Nery, além de vários depoimentos gravados);
>23/2: exp. «O que faz falta» (org. Mundo da Canção, 18h) e espectáculo «O Menino de Oiro» (21h30), uma teatralização da vida e obra de José Afonso dirigida por Gil Filipe (org. CMGuimarães); espectáculo «O andarilho das bruxas - uma homenagem a José Afonso», c/Fátima Santos, Jorge Quaresma, José Luis Iglésias, Luis Manuel, Sila Santos, Paula Seca, Jennifer Vincent e Todd Isler (8:30pm, org. Sport Club Português, 51-55 Prospect Street, Newark, NJ, EUA, programa aqui); exposição e colóquio sobre a sua vida e obra (org. da CMLoures; CMOdivelas); exp. «No tempo do Zeca Afonso» e concerto de João Afonso (org. CMEntroncamento); concerto c/Cantadores da Rusga, Jorge Jordan, Mingo Rangel, Rogério Charraz e poesia de Jorge Castro (Lx., org. Mercado da Ribeira, 22h30).
>24/2: concerto com a Banda Militar do Norte (15h30), seguido de debate com Hélder Costa, José Mário Branco, José António Gomes, Alípio de Freitas e Mário Barradas (17h30), concerto do grupo ARDENTÍA, e espectáculo «Maio, maduro Maio», com Amélia Muge, João Afonso e José Mário Branco (21h30; org. CMGuimarães); espectáculo/colóquio de homenagem a Zeca Afonso (Gal.ª de Arte do Convento Espírito Santo), debate sobre a sua vida e obra e concerto do grupo Ecos de Coimbra (org. CMLoulé); concerto (org. CMLoures, em parceria com a Assoc. de Moradores de St. Ant.º Cavaleiros); conc. do Quinteto de Jazz de Lisboa (org. CM Lajes do Pico, Açores).
>27-2: 21.30H homenagem a Zeca Afonso, concerto c/Afonso Dias e Francisco Fanhais (org. Clube Farense, apoio da CMFaro);
>?-2: espectáculo musical «A formiga no carreiro - 25 canções para Abril» (Viseu, org. Companhia De Mente).
terça-feira, 20 de fevereiro de 2007
Cartas de IWO JIMA
A Memória da Guerra pela Paz
Cartas de IWO JIMA
Quando se fala de nazi-fascismo, a guerra do Pacífico, entre os Estados Unidos da América e o Japão, tornou-se um ícone de filmes em que o inimigo japonês aparece como algo de diabólico, torturador dos americanos, sem piedade, como que anti-humano.
O regime fascista japonês enviou para a guerra o melhor da sua Juventude para combater por uma causa de crueldade e de terror.
O filme de Clint Eastwood, Cartas de IWO JIMA, mostra-nos que, na guerra, como em tudo na vida, os homens são apenas homens.
O filme de Clint Eastwood, Cartas de IWO JIMA, mostra-nos que, na guerra, como em tudo na vida, os homens são apenas homens.
De uma beleza estética própria de uma obra de arte, Cartas de IVO JIMA, mostra-nos o lado de um Povo que sofreu tanto com a guerra como todos os outros. Os japoneses, com uma cultura muito própria, viveram a guerra, morreram pela sua Prátia, sofreram a vida e a morte.
Obra maior do cinema americano, Cartas de IWO JIMA, celebra a vida na morte, demonstra que os homens são todos iguais, são fruto do amor, da família, do sofrimento feito terror, da solidão feita das emoções da tristeza e da revolta, do medo.
Nesta Obra Maior, Clint Eastwood dá uma lição de humanismo e solidariedade face ao sofrimento da guerra combatida por soldados anónimos e mostra-nos que a Memória da guerra pode ser um hino à Paz.
A não perder.
Fernando Ruiz Vergara: crónica de uma perseguição política
Por sugestão da Paula Godinho, deixada na caixa de comentários do post dedicado a Dionísio Pereira, reproduzimos a seguir as informações que Dulce Simões nos fez chegar sobre o cineasta Fernando Ruiz Vergara, o qual foi, tal como aquele historiador galego, julgado em tribunal simplesmente porque fez um documentário em que denunciava crimes do franquismo. Aí foi condenado e se proibiu a exibição do seu filme «El Rocio» (1980). Aproveita-se ainda para deixar aqui um texto de enquadramento de Germinal e uma resenha crítica ao filme.
"Fernando Ruiz Vergara realizou nos finais dos anos 70 um documentário denominado «Rocio», que para além da famosa romaria de Huelva, aludia à guerra civil em Almonte e à repressão franquista, identificando as vítimas e os principais responsáveis pela repressão. Como consequência, a família Reales destruiu-lhe a vida, a película foi censurada e proibida em Espanha, e Fernando Ruiz Vergara foi condenado a dois anos e meio de prisão, a uma multa de 50.000 ptas., e ao pagamento de dez milhões de pesetas de indemnização à família Reales. Isto ocorreu durante a transição da UCD para a maioria absoluta do PSOE, em 1982. Arruinado, destroçado e deprimido Fernando Ruiz Vergara ficou só, e o advogado apenas conseguiu livrá-lo da prisão. 25 anos passados, outra «família Reales» mantém o Poder de destruir a vida de um historiador que, como Fernando Ruiz Vergara, apenas lutava pela recuperação da memória histórica. No site http://www.rojoynegro.info/2004/article.php3?id_article=13282 podem aceder ao movimento de solidariedade para com Dionisio Pereira, encetado por um grupo de historiadores espanhóis. 17 de Fevereiro de 2007."
"Fernando Ruiz Vergara realizou nos finais dos anos 70 um documentário denominado «Rocio», que para além da famosa romaria de Huelva, aludia à guerra civil em Almonte e à repressão franquista, identificando as vítimas e os principais responsáveis pela repressão. Como consequência, a família Reales destruiu-lhe a vida, a película foi censurada e proibida em Espanha, e Fernando Ruiz Vergara foi condenado a dois anos e meio de prisão, a uma multa de 50.000 ptas., e ao pagamento de dez milhões de pesetas de indemnização à família Reales. Isto ocorreu durante a transição da UCD para a maioria absoluta do PSOE, em 1982. Arruinado, destroçado e deprimido Fernando Ruiz Vergara ficou só, e o advogado apenas conseguiu livrá-lo da prisão. 25 anos passados, outra «família Reales» mantém o Poder de destruir a vida de um historiador que, como Fernando Ruiz Vergara, apenas lutava pela recuperação da memória histórica. No site http://www.rojoynegro.info/2004/article.php3?id_article=13282 podem aceder ao movimento de solidariedade para com Dionisio Pereira, encetado por um grupo de historiadores espanhóis. 17 de Fevereiro de 2007."
Dulce Simões
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
O arquivo da PIDE, a propósito de «A vida dos outros»
Seguindo a sugestão de um companheiro de outro blogue, fui ver o filme «A vida dos outros» («Das Leben der Anderen», Alemanha, 2006) do jovem realizador Florian Henckel von Donnersmarck sobre a Stasi – a polícia política da República Democrática Alemã – e o sistema de controlo e vigilância a que foi submetido o seu meio cultural sob o regime comunista. A acção passa-se em Berlim Leste, em três períodos distintos: 1984-85, 1989 (logo após a queda do muro de Berlim) e 1991, depois da reunificação da Alemanha. O filme coloca-nos perante várias questões: o totalitarismo, a perseguição política, os interrogatórios, a tortura, o medo, o poder discricionário, a acção policial a soldo de paixões mesquinhas, as fraquezas humanas, o suicídio, a resistência, a liberdade de expressão...
Por deformação profissional, o filme também me interessou pelo que nos transmite sobre os arquivos. «A vida dos outros» põe em evidência o duplo poder dos arquivos já teorizado, nomeadamente, por Eric Ketellar, Professor de Arquivística na Universidade de Amesterdão: "The archives have a two-fold power: being evidence of oppression and containing evidence required to gain freedom, evidence of wrong-doing and evidence for undoing the wrong" (Archival Temples, Archival Prisons: Modes of Power and Protection. Archival Science. 2:3-4 (2002), 231). Os arquivos podem ser instrumentos de hegemonia mas também de resistência; de opressão e de liberdade; de poder e de contrapoder. Os mesmos arquivos que serviram regimes autoritários ou totalitários podem servir propósitos democráticos, como sejam a reparação de injustiças e a restituição de direitos violados. Nas transições políticas para a democracia, os arquivos jogam um papel decisivo: conservam, tratam e comunicam a prova documental das acções (arbitrárias) do passado e conservam, tratam e comunicam a prova documental de acções (escrutináveis) do presente.
No filme, o dramaturgo Georg Dreyman, que durante a vigência do regime comunista foi alvo da vigilância cerrada da Stasi (escutas em todas as divisões da sua casa e observação quotidiana da sua intimidade), apenas porque o ministro da Cultura cobiçava a sua mulher, pôde, após a instauração da democracia, aceder ao arquivo produzido pela polícia secreta. Pôde ainda saber o verdadeiro nome do agente que o vigiava e elaborava os relatórios diários da sua vida privada: Hauptmann Gerd Wiesler, com o n.º de código HGW XX/7.
Na Alemanha, ao invés do que acontece em Portugal, as vítimas da polícia política têm o direito de conhecer a identidade dos agentes policiais e dos informadores que as espiaram ou denunciaram. Após a reunificação alemã, o arquivo da Stasi transformou-se num instrumento de ressarcimento das vítimas e de reposição da verdade.
A jovem democracia portuguesa decidiu que o acesso público ao arquivo da PIDE/DGS não devia incluir o conhecimento da identidade dos agentes e informadores da polícia política. O nome dos agentes da PIDE e qualquer elemento que os possa identificar são expurgados dos processos que vão à consulta na Torre do Tombo (seguindo-se uma interpretação questionável da alínea 2 do art.º 17 do regime geral dos arquivos – decreto-lei n.º 16/93, de 23 de Janeiro). Considero que assim o arquivo da PIDE/DGS continua a não cumprir integralmente os propósitos que os arquivos de instituições autoritárias ou totalitárias devem cumprir, após transições democráticas. Afinal, a dificuldade em lidar com a verdade histórica e o conformismo de muitos continua a tolher-nos a acção e a perturbar o discernimento colectivo.
No filme, o dramaturgo Georg Dreyman, que durante a vigência do regime comunista foi alvo da vigilância cerrada da Stasi (escutas em todas as divisões da sua casa e observação quotidiana da sua intimidade), apenas porque o ministro da Cultura cobiçava a sua mulher, pôde, após a instauração da democracia, aceder ao arquivo produzido pela polícia secreta. Pôde ainda saber o verdadeiro nome do agente que o vigiava e elaborava os relatórios diários da sua vida privada: Hauptmann Gerd Wiesler, com o n.º de código HGW XX/7.
Na Alemanha, ao invés do que acontece em Portugal, as vítimas da polícia política têm o direito de conhecer a identidade dos agentes policiais e dos informadores que as espiaram ou denunciaram. Após a reunificação alemã, o arquivo da Stasi transformou-se num instrumento de ressarcimento das vítimas e de reposição da verdade.
A jovem democracia portuguesa decidiu que o acesso público ao arquivo da PIDE/DGS não devia incluir o conhecimento da identidade dos agentes e informadores da polícia política. O nome dos agentes da PIDE e qualquer elemento que os possa identificar são expurgados dos processos que vão à consulta na Torre do Tombo (seguindo-se uma interpretação questionável da alínea 2 do art.º 17 do regime geral dos arquivos – decreto-lei n.º 16/93, de 23 de Janeiro). Considero que assim o arquivo da PIDE/DGS continua a não cumprir integralmente os propósitos que os arquivos de instituições autoritárias ou totalitárias devem cumprir, após transições democráticas. Afinal, a dificuldade em lidar com a verdade histórica e o conformismo de muitos continua a tolher-nos a acção e a perturbar o discernimento colectivo.
domingo, 18 de fevereiro de 2007
Vozes ao Alto!
Decorreu ontem, 17/02, no Forum Lisboa, o anunciado Festival Vozes ao Alto.
A preservação da Memória da Resistência passa também por lembrar a Música e a Poesia que, durante o Estado Novo, lutou pela Liberdade e pela Democracia. O Vozes ao Alto quis lembrar todos aqueles que o fizeram, nomeadamente Zeca Afonso, expoente máximo dessa luta, agora que passam 20 anos da sua morte.
Cerca de 350 pessoas cantaram e aplaudiram os artistas que se quiseram juntar ao Não Apaguem a Memória nesta noite.
O espectáculo foi apresentado por Helder Costa.
Helder Costa
Júlia Lelo, Ângela Pinto e Jorge Castro disseram Poesia:
Júlia Lelo
Ângela Pinto
Jorge Castro
A Música da Resistência foi lembrada por Pedro Branco, Erva de Cheiro, Zé Pinho e Zé Manel Ésse, Carlos Alberto Moniz, Rui Curto, Bartolomeu Dutra e João Pimentel.
Pedro Branco
Erva de Cheiro
Zé Pinho e Zé Manel Ésse
Carlos Alberto Moniz
Rui Curto, Bartolomeu Dutra e João Pimentel
O "Canto da Guitarra e da Poesia" mostrou que o Fado de Coimbra foi também um Resistente à ditadura. Acabaram com a assistência a cantar em coro "Trova do vento que passa":
Canto da guitarra e da poesia
A viola de Mingo Rangel encantou todos como um canto de amor e poesia:
Mingo Rangel
Os "Chuflage" trouxeram a memória da Juventude. Com o seu Rap demonstraram que os jovens sabem que é preciso preservar a Memória que os faz hoje cantar temas que são também gritos de revolta e protesto:
Os "Chuflage"
Tino Flores também trouxe Memória. A dos exilados e emigrantes que se juntavam em Paris a ouvir os cânticos da Resistência:
Tino Flores
Antes do final, Fernando Tordo trouxe-nos as memórias dos Festivais da Canção antes do 25 de Abril onde ele e tantos outros, como Ary dos Santos, levaram o protesto, e as canções que, depois de Abril, fizeram tanta gente cantar:
Fernando Tordo
Por fim o Coro Fernando Lopes Graça com "Vozes ao Alto".
Homenagem ao grande Maestro que fez da sua vida Resistência.
sábado, 17 de fevereiro de 2007
Festival Vozes ao alto!
No próximo dia 17, realiza-se o festival Vozes ao alto!, organizado pelo movimento Não apaguem a Memória!, em tributo à música de resistência e seus intérpretes. Terá lugar no Fórum Lisboa, às 21h.
O nome Vozes ao alto! pretende homenagear as Canções Heróicas, musicadas por Fernando Lopes Graça a partir de poemas de José Gomes Ferreira (sobre Lopes Graça demos, oportunamente, conta das celebrações do seu centenário natal aqui).
O nome Vozes ao alto! pretende homenagear as Canções Heróicas, musicadas por Fernando Lopes Graça a partir de poemas de José Gomes Ferreira (sobre Lopes Graça demos, oportunamente, conta das celebrações do seu centenário natal aqui).
Este espectáculo de canto livre será apresentado e conduzido por Hélder Costa e Maria do Céu Guerra, ambos do grupo teatral A Barraca.
A lista de convidados está praticamente fechada, podendo já anunciar-se a presença dos seguintes artistas: Ângela Pinto, António Toscano, Bartolomeu Dutra, Camacho Vieira, Carlos Alberto Moniz, Carlos Carranca, Carlos Couceiro, Clara Branco, Chullage (grupo de hip-hop), Coro Lopes Graça, Erva de Cheiro, Fado de Coimbra, Fernando Tordo, Francisco Fanhais, João Pimentel, Jorge Castro, Jorge Mendes, Júlia Lello, Mingo Rangel, Pedro Branco, Rui Curto, Teotónio Xavier, Tino Flores, Zé Manuel Esse e Zé Pinho.
A lista de convidados está praticamente fechada, podendo já anunciar-se a presença dos seguintes artistas: Ângela Pinto, António Toscano, Bartolomeu Dutra, Camacho Vieira, Carlos Alberto Moniz, Carlos Carranca, Carlos Couceiro, Clara Branco, Chullage (grupo de hip-hop), Coro Lopes Graça, Erva de Cheiro, Fado de Coimbra, Fernando Tordo, Francisco Fanhais, João Pimentel, Jorge Castro, Jorge Mendes, Júlia Lello, Mingo Rangel, Pedro Branco, Rui Curto, Teotónio Xavier, Tino Flores, Zé Manuel Esse e Zé Pinho.
Os bilhetes de entrada estão disponíveis na portaria da Associação 25 de Abril, agradecendo-se apenas um donativo de 5 euros para custear as despesas com a organização do evento.
Nb: informação tb. disponível no site do Movimento; este post foi originalmente publicado a 5/II, tendo sido transferido para hoje por razões de visibilidade informativa.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
O que faz falta é lembrar a malta!
O Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) realiza hoje um debate sobre «Os silêncios da História», em torno do dossier do seu n.º de Fevereiro. Terá início às 21h30, no novo espaço da Livraria Ler Devagar (R. da Rosa, 145, no Bairro Alto, a antiga rua das tipografias e jornais..).
Irene Pimentel escreveu nesse n.º sobre a memória pública da ditadura e da repressão, no qual salienta o contributo do movimento Não apaguem a Memória! para o reavivar do debate sobre o lugar da memória na pedagogia democrática. José Sobral reavaliou a importância da memória colectiva das comunidades rurais do Portugal salazarista. Sérgio Godinho evocou Zeca Afonso. Mais detalhes neste post anterior, dedicado exclusivamente ao último dossier do Diplô.
Irene Pimentel escreveu nesse n.º sobre a memória pública da ditadura e da repressão, no qual salienta o contributo do movimento Não apaguem a Memória! para o reavivar do debate sobre o lugar da memória na pedagogia democrática. José Sobral reavaliou a importância da memória colectiva das comunidades rurais do Portugal salazarista. Sérgio Godinho evocou Zeca Afonso. Mais detalhes neste post anterior, dedicado exclusivamente ao último dossier do Diplô.
Aqui fica o convite a todos para uma boa ocasião de se debater e reflectir sobre a nossa memória histórica recente. Porque, e parafraseando Zeca Afonso, o que faz falta é recordar a malta!
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
Em defesa de Dionísio Pereira, por uma memória histórica livre
O historiador galego Dionísio Pereira, especialista do franquismo, será hoje julgado em tribunal por ter firmado num livro de História (A IIª República e a represión franquista no concello de Cerdedo) os nomes dalguns algozes da repressão franquista. A situação é grave, e está a ser denunciada pela opinião pública. Esperemos que prevaleça o bom senso em tribunal e que a sentença dê antes um aviso aos acusadores de que quem cometeu crimes não pode ver esses crimes limpos pela amnésia forçada.
Uma carta aberta do Dionisio Pereira foi transcrita aqui pelo Daniel Lanero Táboas, outro historiador galego que já colaborou neste blogue. Aqui fica registado como tudo começou, em tradução livre dum texto original da Unión Libertaria reproduzido pela Indymedia Galiza:
Uma carta aberta do Dionisio Pereira foi transcrita aqui pelo Daniel Lanero Táboas, outro historiador galego que já colaborou neste blogue. Aqui fica registado como tudo começou, em tradução livre dum texto original da Unión Libertaria reproduzido pela Indymedia Galiza:
"A 12 de agosto de 2006, Verbo Xido, Asociación Ecoloxista e Cultural da Terra de Montes, organizou umas jornadas de recuperação da Memória. Falaram várias associações, apresentou-se um livro de Dionisio Pereira, organizou-se uma rota por lugares da repressão, e descerrou-se uma placa, colocada sobre uma formosa pedra talhada por um canteiro local, em memória de dois homens, Francisco Arca e Secundino Bugallo, canteiros e da CNT, torturados e assassinados a 13 de agosto de 1936 numa cuneta de Pedre. Não se sabe se os assistentes e as assistentes à homenagem choravam de emoção ou pelo fumo, pois ali mesmo alguém ateara fogo no monte há pouco tempo, e parecia provocado, pois atearam fogo em solo queimado, que ali já ardera há dois dias, como parte da vaga de incêndios deste Verão. Mais tarde alguém arrancou a placa de homenagem, que Verbo Xido repôs outra vez em novo acto, no mês de Novembro. Parece continuação destes actos que a Corporación Municipal de Cerdedo revira e anulara, de jeito não muito regular, um acordo prévio que exigia a retirada da placa com o nome dum edil implicado na repressão. E agora apresentaram duas denúncias contra Dionisio Pereira, por este parágrafo do seu livro sobre a repressão fascista na comarca de Cerdedo: «Persoas sinaladas pola súa presunta participación en diversas manifestacións da represión: Angel, Luis e Manuel Gutiérrez Torres (xefe da Falange, alcalde de Cerdedo nos anos 40 e 50), Eligio e Francisco Nieto (falanxistas)....», e por outro parágrafo semelhante nas Actas do Congreso de Memoria de Narón. Dionisio Pereira está citado a comparecer no Julgado de Paz de Cerdedo esta quinta dia 15, às 11 e às 12. Pedem-lhe que se retracte, coisa que Dionisio não pensa fazer (como pode retractar-se alguém dum trabalho de investigação?) e que indemnize os familiares."
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
Com José Afonso - 20 anos de caminho
O Clube Literário do Porto (CLP) e a Associação José Afonso (Núcleo do Norte) lançaram hoje um programa de 4 dias dedicado a Zeca Afonso. Chama-se «Com José Afonso - 20 anos de caminho» e decorre até sáb.º na sede do CLP, sito na R. Nova da Alfândega, 22, Porto. Eis o programa completo:
14/2, 21h30> inauguração de exposição temática sobre José Afonso;
14/2, 22h> debate «José Afonso - testemunhos», com a participação de Alípio de Freitas e Benedicto Garcia Villar;
15/2, 21h30> tertúlia «O prazer do texto», com intervenções poéticas e musicais a decorrer no Piano-Bar do CLP (música e poesia de José Afonso);
16/2, 21h30m> debate «José Afonso - a lírica», com a participação de José António Gomes e Elfriede Engelmayer
17/2, 21h30m> debate «José Afonso - a música», com a participação de Francisco Fanhais e José Mário Branco.
16/2, 21h30m> debate «José Afonso - a lírica», com a participação de José António Gomes e Elfriede Engelmayer
17/2, 21h30m> debate «José Afonso - a música», com a participação de Francisco Fanhais e José Mário Branco.
domingo, 11 de fevereiro de 2007
Para que a memória não se apague
“Vítimas de Salazar”, um volumoso trabalho de registo histórico feito por três historiadores, João Madeira, Irene Pimentel e Luís Farinha, editado pela Esfera dos Livros, foi lançado na passada quarta-feira, dia 7, no lugar altamente simbólico do antigo “tribunal plenário”, na Boa-Hora. Foi apresentado pelo antigo presidente da República, Mário Soares e pelo prefaciador da obra, o catedrático Fernando Rosas. Recorde-se que no 6 de Dezembro do ano passado, por iniciativa do Movimento, foi neste local descerrada uma lápide “à dignidade dos homens e das mulheres aqui julgados por se terem oposto ao regime da ditadura”. [Foto de Álvaro Fernandes: João Madeira, coordenador da obra, resume o que foi a realização da obra; Luís Farinha e Irene Pimentel, os outros co-autores, são os primeiros, a contar da direita]
Na sua intervenção – e recorrendo aqui ao relato o jornalista José Pedro Castanheira (cf Expresso on line de 8/2/07) –, Mário Soares realçou a importância de se proceder ao julgamento histórico do fascismo, considerando que esse é e foi o melhor método para “exautorar a moralidade e o crédito do regime salazarista”. Fernando Rosas apontou o seu protesto para uma certa suavidade de costumes que trata o passado sem distinções éticas, metendo vítimas e carrascos na mesma esmaecida fotografia. É o processo de “banalização do regime salazarista”, contra o qual se insurgiu e cuja denúncia pública e política, defendeu, continua actual.
Na sua intervenção – e recorrendo aqui ao relato o jornalista José Pedro Castanheira (cf Expresso on line de 8/2/07) –, Mário Soares realçou a importância de se proceder ao julgamento histórico do fascismo, considerando que esse é e foi o melhor método para “exautorar a moralidade e o crédito do regime salazarista”. Fernando Rosas apontou o seu protesto para uma certa suavidade de costumes que trata o passado sem distinções éticas, metendo vítimas e carrascos na mesma esmaecida fotografia. É o processo de “banalização do regime salazarista”, contra o qual se insurgiu e cuja denúncia pública e política, defendeu, continua actual.
sábado, 10 de fevereiro de 2007
Sérgio Vilarigues (1914-2007): «recordista da clandestinidade»
Faleceu na passada quinta-feira, aos 92 anos, Sérgio Vilarigues, um dos refundadores do Partido Comunista Português, militante antifascista envolvido durante várias décadas na luta contra o Estado Novo (32 anos na clandestinidade). Na qualidade de antigo tarrafalista, participara recentemente, em Cabo Verde, nas cerimónias que assinalaram os 70 anos da abertura do campo de concentração do Tarrafal.
Notícia retirada da TSF Online:
"O Partido Comunista Português retrata este antigo dirigente como um dos mais destacados exemplos da resistência ao fascismo e da luta pela liberdade e pela democracia. Logo em meados da década de 1930, Vilarigues foi detido e passou por diversas prisões, antes de ser enviado para a prisão do Tarrafal. Em 1942, no entanto, converteu-se à clandestinidade, uma condição em que manteve até ao 25 de Abril de 1974, altura em que caiu a ditadura de Salazar. Durante as sete décadas de militância no Comunismo, Vilarigues foi membro do Comité Central, da Comissão Politica e do Secretariado, mas, em 1988, deixou de pertencer a estes organismos, passando a integrar a Comissão Central de Controlo e Quadros. Carlos Brito, ex-líder parlamentar do PCP, recorda o antigo colega como um «dos reorganizadores do partido em 1941», ainda antes de Álvaro Cunhal, e um dos militantes mais jovens a ser preso, já que foi para a prisão do Tarrafal com apenas 17 anos. O ex-líder parlamentar do PCP lembra ainda Sérgio Vilarigues como um «recordista da clandestinidade» e uma pessoa com muita «confiança» e que sempre o apoiou.Também o resistente antifascista Edmundo Pedro recorda Vilarigues como um homem de força, que atravessou os piores anos da prisão do Tarrafal, o chamado «período agudo», e um dos poucos que se conseguiu manter de pé nessa altura".
"O Partido Comunista Português retrata este antigo dirigente como um dos mais destacados exemplos da resistência ao fascismo e da luta pela liberdade e pela democracia. Logo em meados da década de 1930, Vilarigues foi detido e passou por diversas prisões, antes de ser enviado para a prisão do Tarrafal. Em 1942, no entanto, converteu-se à clandestinidade, uma condição em que manteve até ao 25 de Abril de 1974, altura em que caiu a ditadura de Salazar. Durante as sete décadas de militância no Comunismo, Vilarigues foi membro do Comité Central, da Comissão Politica e do Secretariado, mas, em 1988, deixou de pertencer a estes organismos, passando a integrar a Comissão Central de Controlo e Quadros. Carlos Brito, ex-líder parlamentar do PCP, recorda o antigo colega como um «dos reorganizadores do partido em 1941», ainda antes de Álvaro Cunhal, e um dos militantes mais jovens a ser preso, já que foi para a prisão do Tarrafal com apenas 17 anos. O ex-líder parlamentar do PCP lembra ainda Sérgio Vilarigues como um «recordista da clandestinidade» e uma pessoa com muita «confiança» e que sempre o apoiou.Também o resistente antifascista Edmundo Pedro recorda Vilarigues como um homem de força, que atravessou os piores anos da prisão do Tarrafal, o chamado «período agudo», e um dos poucos que se conseguiu manter de pé nessa altura".
Conforme informa o site do PCP, o corpo de Sérgio Vilarigues está em câmara ardente na Casa Mortuária da Igreja de S. Francisco de Assis, Avenida Afonso III (junto ao Cemitério do Alto de S. João), a partir das 11h de hoje, realizando-se o funeral às 18h, para o cemitério dos Olivais, onde o corpo será cremado.
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Foto de Jorge Caria, na entrevista de Sérgio Vilarigues ao jornal Avante! (8.3.2001).
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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
Repensando a memória colectiva
Já saiu o n.º de Fevereiro do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa). O dossier português é sobre «Os silêncios da História», e pretende contribuir para a reflexão sobre a nossa memória histórica recente.
O dossier abre com o texto de José Sobral sobre «Os Sem-História», dedicado às comunidades rurais do Portugal salazarista omitidas pela História oficial, reservada que estava esta às grandes figuras 'nacionais' e às elites locais. Tal quadro teve a sua extensão simbólica na concepção urbanística da Belém ribeirinha: aos Jerónimos associaram-se os espaços de poder e leitura da História da ditadura (Padrão dos Descobirmentos, praças do Império e do Ultramar, Museu de Arte Popular) e da democracia (Centro Cultural de Belém, futuro Museu da Língua e dos Descobrimentos).
Os encobrimentos feitos pela História oficial e a memória oficial são vários. O texto de Irene Pimentel («A memória pública da ditadura e da repressão») revê criticamente como foram avaliados o salazarismo e a sua repressão ditatorial no trinténio democrático, do ponto de vista político e social. Demonstra o défice de justiça quanto ao aparelho repressivo, apresentando dados globais sobre as reduzidas condenações de agentes da PIDE. Refere ainda as entidades que, a contra-corrente duma imposta amnésia selectiva, pugnaram pela preservação da memória pública desse período, começando com a Associação dos Ex-Presos Políticos Antifascistas, a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, a Comissão do Livro Negro do Regime Fascista e o Tribunal Cívico Humberto Delgado, e detendo-se, por fim, no contributo do movimento Não apaguem a Memória!.
O dossier encerra com uma vibrante evocação de Zeca Afonso por Sérgio Godinho. Na data em que se celebram 20 anos do passamento do grande cantautor da resistência, um dos seus mais talentosos discípulos revê o mestre reescrevendo uma de suas músicas sob a forma de viva confidência a propósito do legado que dele recebeu.
Hélder da Assunção Costa in memoriam (1927-2007)
O operário antifascista Hélder Costa faleceu recentemente. Armando Teixeira, do Não Apaguem a Memória!, evocou a sua vida e exemplo em texto publicado no jornal da terra de ambos, o Barreiroweb. Tomamos a liberdade de aqui publicar o trecho inicial.
"Homenagem a Hélder da Assunção Costa
"Homenagem a Hélder da Assunção Costa
A morte do nosso amigo e camarada Hélder Costa, despedaçou-nos o coração. Significa uma perda enorme para o Barreiro de gente honrada e séria, de que fez da coragem da resistência ao salazarismo e às estruturas e regime fascista, a bandeira de uma vida de luta, sacrifício e exílio, sempre norteada pela integridade de carácter e de princípios, e pela modéstia de uma enorme envergadura intelectual.
Hélder Costa foi um trabalhador honesto, democrata e sonhador pela liberdade na terra que o viu nascer em 1927, na zona do Largo Rompana, no Barreiro Velho. Filho de pai operário preso e violentado nas extraordinárias greves de 1943, ainda adolescente correu pelas ruas do Barreiro ocupado militarmente, entre selváticos espancamentos e prisões arbitrárias, para levar o almoço ao progenitor, detido com centenas de outros barreirenses nos armazéns do Teodoro Rúbio, por detrás da Bonfim, pelo «crime nefando» de terem feito greve e protestaram na vila, contra os salários de miséria e a falta de géneros alimentares, nas grandiosas «marchas da fome».
Hélder Costa ganhou nas ruas do Barreiro, a consciência da injustiça e da força brutal – a mando do próprio Salazar, perante as reticências do ministro do Interior, que tinha receio de tamanho complexo industrial!.. - de um regime terrorista que mais tarde, por ser activista do MUD Juvenil e do MUD (Movimento de Unidade Democrática) o haveria de encarcerar durante quase seis meses, sem culpa formada e sem motivos, porque valentemente assumiu na polícia politica que lutar pela liberdade e pela democracia não é crime!"
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
Auschwitz, 27 de Janeiro de 1945
Elie Wiesel, prémio Nobel da Paz, que retratou a sua vivência de sobrevivente dos campos de extermínio num livro para não esquecer, “Noite” (Ed Texto), ao referir-se um dia aos carrascos nazis de Auschwitz-Birkenau, disse:
“Deus, não tenhas compaixão para com aqueles que criaram este lugar; não perdoes aqueles que assassinaram milhares de crianças judias que aqui estiveram; lembra-te das procissões de crianças e mais crianças...”
Luís Ramos publicou no Expresso on line do passado 27 de Janeiro uma reportagem audiovisual que é igualmente inesquecível. Foi a Júlia Coutinho quem no-la indicou: http://expresso.clix.pt/Multimedia/Interior.aspx?content_id=376422 e consideramos um dever de memória divulgá-la.
A talhe de foice, fica também aqui um breve resumo do que foi Auschwitz, o campo da morte mais demente e horroroso do totalitarismo nazi, recorrendo às notas de um jornalista da France Presse, Hille Van Elst
Quando o mundo descobriu os campos nazis
No dia 27 de Janeiro de 1945, os soldados do 60º corpo do Exército Vermelho entravam no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polónia. Aí encontraram sete mil deportados num estado de agonia indescritível.
Os nazis deixaram aqueles sete mil moribundos sem água nem mantimentos, por acharem que o estado em que se encontravam não permitia, de modo algum, a sua evacuação para outro campo. Os restantes 60 mil prisioneiros foram conduzidos em marcha acelerada para campos situados a Oeste. Foi a “marcha da morte” – a maioria morreu por cansaço, fome ou de tiro, em desesperadas tentativas de fuga.
O III Reich instalou em Auschwitz a maior fábrica de morte, das várias que montou entre a Alemanha e a Polónia. Aí, entre 1942 e 1945, foram asfixiadas com gás Zyclon B, depois queimados em fornos crematórios, um milhão de judeus vindos dos países ocupados pela Alemanha. Havia ainda prisioneiros de guerra polacos (80 mil) e soviéticos (15 mil), ciganos (20 mil) e 12 mil de diversas nacionalidades. Auschwitz, pela sua descomunal dimensão, tem o triste registo de maior cemitério da História.
Os alemães criaram o campo pouco depois da invasão da Polónia (Setembro de 1939). A construção começou no Verão de 1940, a partir de um antigo quartel em Oswiecim (nome polaco de Auschwitz). Inicialmente destinava-se aos opositores polacos, mas a partir de 20 de Janeiro de 1942 a sua finalidade passou a ser outra. A reunião do estado-maior nazi, que se realizou em Wannsee, decidiu proceder a partir dali à “solução final do problema judeu”.
O campo foi-se alargando, até chegar a Birkenau e ocupava uma área de mais de 200 hectares. Em 1941 foi utilizado para prisioneiros de guerra soviéticos e resistentes capturados na Jugoslávia, França, Áustria e na própria Alemanha. Funcionava como reservatório de mão-de-obra para a indústria alemã. Esta sua função nunca deixou de ser utilizada, mas a partir de meados de 1942 foi também a principal unidade de liquidação dos povos judeu e cigano – considerados “degenerados”.
As levas de deportados eram tríadas à chegada: idosos e crianças para um lado, adultos para outro; homens para uns barracões e mulheres para outros. As crianças, os idosos e os deportados de condição física débil eram conduzidos para as câmaras de gás, disfarçadas de chuveiros. Às vezes, se o campo tivesse capacidade para isso, eram liquidadas no próprio dia em que chegavam.
Auschwitz passou a ser igualmente um “espaço científico” experimental. Josef Mengele, nomeado médico-chefe do campo em 1943, desenvolveu aí um projecto de investigação de gémeos uniovulares, utilizando cobaias humanas.
Foi no Verão de 1942 que o campo se alargou até Birkenau e equipado com fiadas de fornos crematórios, ficando Auschwitz reservado para a recepção dos detidos e para os prisioneiros destinados a trabalhos forçados.
A indústria da morte aperfeiçoou-se e atingiu o seu clímax em 1943, com 20 mil pessoas a serem liquidadas diariamente nas câmaras de gás e cremadas em seguida nos fornos. Comboios vindos dos vários extremos da Europa ocupada pelos nazis, da França à Grécia, da Bélgica aos países bálticos, chegavam em cadência crescente, pois tinham prioridade sobre qualquer outro transporte, incluindo o militar. Traziam levas de seres humanos que descarregam no cais do campo de Auschwitz, onde, sob força militarizada, se processava à separação, segundo a idade e o sexo.
Os últimos meses de vida no campo foram particularmente lancinantes, à medida que a derrota nazi se avizinhava. Antes de abandonar o campo, os nazis tentaram destruir as câmaras de gás e os fornos. Não o puderam fazer na totalidade porque as ordens que vinham de Berlim eram de continuar até ao último momento com a “solução final”.
As tropas do Exército soviético aceleraram a marcha e há precisamente 53 anos ocuparam o campo. Foi o estupor que esta realidade provocou junto dos soldados que levou a que os campos de morte nazis se transformassem rapidamente em lugares de memória.
“Deus, não tenhas compaixão para com aqueles que criaram este lugar; não perdoes aqueles que assassinaram milhares de crianças judias que aqui estiveram; lembra-te das procissões de crianças e mais crianças...”
Luís Ramos publicou no Expresso on line do passado 27 de Janeiro uma reportagem audiovisual que é igualmente inesquecível. Foi a Júlia Coutinho quem no-la indicou: http://expresso.clix.pt/Multimedia/Interior.aspx?content_id=376422 e consideramos um dever de memória divulgá-la.
A talhe de foice, fica também aqui um breve resumo do que foi Auschwitz, o campo da morte mais demente e horroroso do totalitarismo nazi, recorrendo às notas de um jornalista da France Presse, Hille Van Elst
Quando o mundo descobriu os campos nazis
No dia 27 de Janeiro de 1945, os soldados do 60º corpo do Exército Vermelho entravam no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, no sul da Polónia. Aí encontraram sete mil deportados num estado de agonia indescritível.
Os nazis deixaram aqueles sete mil moribundos sem água nem mantimentos, por acharem que o estado em que se encontravam não permitia, de modo algum, a sua evacuação para outro campo. Os restantes 60 mil prisioneiros foram conduzidos em marcha acelerada para campos situados a Oeste. Foi a “marcha da morte” – a maioria morreu por cansaço, fome ou de tiro, em desesperadas tentativas de fuga.
O III Reich instalou em Auschwitz a maior fábrica de morte, das várias que montou entre a Alemanha e a Polónia. Aí, entre 1942 e 1945, foram asfixiadas com gás Zyclon B, depois queimados em fornos crematórios, um milhão de judeus vindos dos países ocupados pela Alemanha. Havia ainda prisioneiros de guerra polacos (80 mil) e soviéticos (15 mil), ciganos (20 mil) e 12 mil de diversas nacionalidades. Auschwitz, pela sua descomunal dimensão, tem o triste registo de maior cemitério da História.
Os alemães criaram o campo pouco depois da invasão da Polónia (Setembro de 1939). A construção começou no Verão de 1940, a partir de um antigo quartel em Oswiecim (nome polaco de Auschwitz). Inicialmente destinava-se aos opositores polacos, mas a partir de 20 de Janeiro de 1942 a sua finalidade passou a ser outra. A reunião do estado-maior nazi, que se realizou em Wannsee, decidiu proceder a partir dali à “solução final do problema judeu”.
O campo foi-se alargando, até chegar a Birkenau e ocupava uma área de mais de 200 hectares. Em 1941 foi utilizado para prisioneiros de guerra soviéticos e resistentes capturados na Jugoslávia, França, Áustria e na própria Alemanha. Funcionava como reservatório de mão-de-obra para a indústria alemã. Esta sua função nunca deixou de ser utilizada, mas a partir de meados de 1942 foi também a principal unidade de liquidação dos povos judeu e cigano – considerados “degenerados”.
As levas de deportados eram tríadas à chegada: idosos e crianças para um lado, adultos para outro; homens para uns barracões e mulheres para outros. As crianças, os idosos e os deportados de condição física débil eram conduzidos para as câmaras de gás, disfarçadas de chuveiros. Às vezes, se o campo tivesse capacidade para isso, eram liquidadas no próprio dia em que chegavam.
Auschwitz passou a ser igualmente um “espaço científico” experimental. Josef Mengele, nomeado médico-chefe do campo em 1943, desenvolveu aí um projecto de investigação de gémeos uniovulares, utilizando cobaias humanas.
Foi no Verão de 1942 que o campo se alargou até Birkenau e equipado com fiadas de fornos crematórios, ficando Auschwitz reservado para a recepção dos detidos e para os prisioneiros destinados a trabalhos forçados.
A indústria da morte aperfeiçoou-se e atingiu o seu clímax em 1943, com 20 mil pessoas a serem liquidadas diariamente nas câmaras de gás e cremadas em seguida nos fornos. Comboios vindos dos vários extremos da Europa ocupada pelos nazis, da França à Grécia, da Bélgica aos países bálticos, chegavam em cadência crescente, pois tinham prioridade sobre qualquer outro transporte, incluindo o militar. Traziam levas de seres humanos que descarregam no cais do campo de Auschwitz, onde, sob força militarizada, se processava à separação, segundo a idade e o sexo.
Os últimos meses de vida no campo foram particularmente lancinantes, à medida que a derrota nazi se avizinhava. Antes de abandonar o campo, os nazis tentaram destruir as câmaras de gás e os fornos. Não o puderam fazer na totalidade porque as ordens que vinham de Berlim eram de continuar até ao último momento com a “solução final”.
As tropas do Exército soviético aceleraram a marcha e há precisamente 53 anos ocuparam o campo. Foi o estupor que esta realidade provocou junto dos soldados que levou a que os campos de morte nazis se transformassem rapidamente em lugares de memória.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
A Revolução de Fevereiro de 1927 (continuação)
Reproduz-se neste post um excerto da Contribuição para uma cronologia dos factos económicos e sociais: Portugal, 1926-1985, de João Morais e Luís Violante (Lisboa, Livros Horizonte, 1986, p. 27).
"6 [Fevereiro de 1927] - Em Lisboa, grupos de civis provocam agitação, sendo reprimidos pela Polícia e pela GNR. O Café Brasileira é encerrado, por ser um recinto de comícios revolucionários. No Arsenal, marinheiros revoltam-se e civis armados assaltam a Brigada do Alfeite. Em Faro, revoltara-se a guarnição da canhoeira «Bengo», mas sem consequências. No Barreiro os ferroviários do Sul e Sueste declaram a greve geral, paralisando o tráfego de comboios a sul do Tejo a que o Governo responde com a ocupação militar das instalações ferroviárias.
- No Porto, Jaime de Morais atravessa o Douro de olhos vendados e tenta negociar a rendição, em Gaia, em troca da liberdade para os revoltosos. Passos e Sousa [ministro da Guerra] é inflexível: ou a rendição total ou bombardeamento da cidade.
7 - As forças revoltosas rendem-se no Porto.
Durante este período haverá também adesão à revolta de forças militares em outros pontos do País: Vila Real (Infantaria 13), Guimarães (batalhão de Metralhadoras 2), Lamego (infantaria 9), Guarda e Régua.
- Inicia-se um movimento militar em Lisboa sob o comando de Mendes dos Reis e Agatão Lança, com forças da GNR e da Marinha, apoiados por grupos de civis.
- Inicia-se um movimento militar em Lisboa sob o comando de Mendes dos Reis e Agatão Lança, com forças da GNR e da Marinha, apoiados por grupos de civis.
São assaltados o Depósito de Material de Guerra e a Fábrica das Armas, enquanto o Arsenal da Marinha adera à revolta. Os insurrectos controlam o triângulo Rato-Bairro Alto-Arsenal e são ocupados vários edifícios públicos.
Contudo, as unidades do Exército não aderem, como Artilharia 3, Infantaria 5, Caçadores 5, Infantaria 1, 7, 21 e 22."
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Imagens: 1) Parlamentários dos revoltosos, o comdt. Jaime Morais e o major Severino, vendados, a caminho do quartel-general do Ministro da Guerra, ten.-cor. Passos e Sousa, instalado num prédio da Avenida das Devezas; 2) Barricada na Rua da Escola Politécnica.
Fotógrafo não identificado. Fevereiro de 1927. Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, Colecção Revolução de Fevereiro de 1927.
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Vítimas de Salazar
Lançamento do livro:
Vítimas de Salazar
Estado Novo e Violência Política
de Irene Pimentel, João Madeira e Luís Farinha
4.ª feira, 7 de Fevereiro, 18h30
Vítimas de Salazar
Estado Novo e Violência Política
de Irene Pimentel, João Madeira e Luís Farinha
4.ª feira, 7 de Fevereiro, 18h30
(Sala do Plenário do Tribunal da Boa-Hora)
Apresentação por Mário Soares
Nb: este post foi originalmente publicado a 31/I, tendo sido transferido para hoje por razões de visibilidade informativa.
sábado, 3 de fevereiro de 2007
A revolta digna da Invicta
Faz hoje 70 anos que se iniciou no Porto a 1.ª revolta contra a Ditadura Militar, que derrubara a I República a 28 de Maio do ano anterior.
Este movimento republicano, sob o comando do gen. Sousa Dias, teve início na Invicta com as movimentações das tropas de Caçadores 9 e foi apoiado por grupos de civis liderados por José Domingues dos Santos, ex-presidente do Ministério e dirigente do Partido da Esquerda Democrática. Foram ocupadas instalações civis e militares e nas ruas ergueram-se barricadas. São presos os ministros do Comércio e Comunicações e da Instrução Pública. Do lado dos revoltos participam ainda as forças da GNR, efectivos da Póvoa de Varzim, Penafiel e Amarante. Foi distribuído pela Invicta um manifesto «Ao povo português», subscrito pelo Comité Militar Revolucionário, formado pelo gen. Sousa Dias, pelo cmdt. Jaime de Morais, pelo cap.-médico Jaime Cortesão, pelo cap. Sarmento Pimentel e pelo ten. Pereira de Carvalho.
A resposta oficial é violenta, mas só a 7 de Fevereiro consegue vergar a revolta portuense. Nesse mesmo dia inicia-se em Lisboa um movimento idêntico, de que falarei em próximo post.
Nb: como sugestão de leitura recomenda-se Luís Farinha, O reviralho, Lisboa, Estampa, 1998.
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Imagem: confrontos entre as ruas de Santa Catarina e de 31 de Janeiro (Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, Colecção Revolução de Fevereiro, fotógrafo não identificado, Fev. 1927).
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