quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Repensando a memória colectiva

Já saiu o n.º de Fevereiro do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa). O dossier português é sobre «Os silêncios da História», e pretende contribuir para a reflexão sobre a nossa memória histórica recente.
O dossier abre com o texto de José Sobral sobre «Os Sem-História», dedicado às comunidades rurais do Portugal salazarista omitidas pela História oficial, reservada que estava esta às grandes figuras 'nacionais' e às elites locais. Tal quadro teve a sua extensão simbólica na concepção urbanística da Belém ribeirinha: aos Jerónimos associaram-se os espaços de poder e leitura da História da ditadura (Padrão dos Descobirmentos, praças do Império e do Ultramar, Museu de Arte Popular) e da democracia (Centro Cultural de Belém, futuro Museu da Língua e dos Descobrimentos).
Os encobrimentos feitos pela História oficial e a memória oficial são vários. O texto de Irene Pimentel («A memória pública da ditadura e da repressão») revê criticamente como foram avaliados o salazarismo e a sua repressão ditatorial no trinténio democrático, do ponto de vista político e social. Demonstra o défice de justiça quanto ao aparelho repressivo, apresentando dados globais sobre as reduzidas condenações de agentes da PIDE. Refere ainda as entidades que, a contra-corrente duma imposta amnésia selectiva, pugnaram pela preservação da memória pública desse período, começando com a Associação dos Ex-Presos Políticos Antifascistas, a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, a Comissão do Livro Negro do Regime Fascista e o Tribunal Cívico Humberto Delgado, e detendo-se, por fim, no contributo do movimento Não apaguem a Memória!.
O dossier encerra com uma vibrante evocação de Zeca Afonso por Sérgio Godinho. Na data em que se celebram 20 anos do passamento do grande cantautor da resistência, um dos seus mais talentosos discípulos revê o mestre reescrevendo uma de suas músicas sob a forma de viva confidência a propósito do legado que dele recebeu.

2 comentários:

Isabel Victor disse...

Não conhecia este blog ...
vim aqui através do "Patrimónios". Agora estamos Linkados

Bom trabalho a favor das multiplas, controversas e plurais memórias sociais e da transversal (raramente consensual) Memória colectiva !

Daniel Melo disse...

Obrigado pelo incentivo, também desejo sorte ao Patrimónios na defesa do património cultural colectivo.
A propósito: na próxima 6.ª feira, 16 de Fevereiro, temos debate sobre o tema das memórias colectivas.
Na Livraria Ler Devagar (R. Rosa, 145), às 21h30.
Já há post sobre o assunto mais acima.
Aqui fica o convite!