quarta-feira, 28 de março de 2007

Centenário do nascimento de Miguel Torga (1907-1995)

Comemora-se este ano o centenário do nascimento do médico Adolfo Rocha (1907-1995), mais conhecido como Miguel Torga, seu pseudónimo literário. A efeméride está a ser evocada por todo o país. Das várias iniciativas em andamento, destaque-se por ora 5 delas.
Em 1.º lugar, o Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo lançou agora on-line partes do processo do escritor na PIDE (vd. aqui; nb: infelizmente o acesso aos documentos digitalizados parece necessitar dum software específico que não é referido).
Em 2.º lugar, o historiador Renato Nunes vai lançar brevemente o livro Miguel Torga e a PIDE - a repressão e os escritores no Estado Novo, da editora coimbrã Minerva, com prefácio de Clara Rocha (filha de Torga) e a ser apresentado por Luís Reis Torgal. Este livro inaugura uma colecção de pesquisas do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX destinada a divulgar processos similares a este, como os de Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro e Fernando Namora.
Em 3.º lugar, o jornalista Sérgio C. Andrade publica hoje no Público um cuidado dossier dedicado ao assunto, intitulado «Já está na net a devassa da PIDE à vida de Torga» (sup. P2) e donde se retirou grande parte da informação aqui disponibilizada.
Em 4.º lugar, a Biblioteca Municipal de Arganil colocou em linha um núcleo dedicado ao escritor, com a sua biografia, bibliografia activa e muito material iconográfico.
Por fim, a Delegação Regional de Cultura do Norte prepara uma exposição com os referidos documentos, a inaugurar em Outubro, em Vila Real.
Para Renato Nunes, o processo de Torga documenta "o interesse quase obsessivo da PIDE pelos vários domínios da vida do escritor", patente em todas as dimensões da sua vida pessoal: "as violações sistemáticas da correspondência, o registo das suas viagens, dos encontros com amigos, até os rendimentos da sua actividade como médico".
Como refere ainda Sérgio C. Andrade, foi "uma vida devassada até à intimidade". Sobre essa violência escreveu o próprio escritor no seu Diário XII (1975), quando tomou conhecimento do processo: "Vista através daquele registo laborioso e tenaz de gusanos inexoráveis, a minha vida era a própria imagem da desolação. Descarnada de qualquer substância anímica, mais objectivamente exacta do que a biografia que porventura aflora à tona do que escrevi, parecia o relato de uma autópsia".
O escritor Miguel Torga foi preso em 1939 pelas ideias expressas no livro O quarto dia da creação do mundo, e toda a sua vida foi vigiado de perto pela PIDE. Sobre a sua passagem pelos cárceres do Aljube escreveram Artur Pinto e Margarida Sousa Reis o texto «Miguel Torga e o Aljube».
O autor de Novos contos da montanha foi também perseguido pelos Serviços de Censura, que lhe apreenderam vários dos seus livros e lhe censuraram inúmeros escritos seus na imprensa.
PS: uma biografia de Torga contendo bibliografia passiva seleccionada pode ser lida aqui.

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