segunda-feira, 19 de março de 2007

Morreu Lucie Aubrac, heroína da resistência francesa

Para o grande público português Lucie Aubrac é um nome desconhecido. Para os mais velhos, que guardam uma permanente recordação do que foi a Libertação de Paris e do papel que no combate ao nazi-fascismo tiveram os Franc-Tireurs Partisans (FTP), ela conserva-se como uma memória viva de coragem, abnegação e modéstia. Um exemplo cívico que aqui se recorda através de um excerto do Le Monde (16/3/07):
"Umas das últimas grandes figuras da Resistência, Lucie Aubrac, morreu quarta-feira, 14 de Março na região parisiense, com 94 anos. A sua vida, marcada por um compromisso de todos os dias, e mais exactamente durante os anos negros da Ocupação, fez dela, em definitivo, uma incarnação da coragem e da capacidade de revolta. A sua acção, em Lyon, em 1943, então capital da Resistência [à ocupação alemã], foi transposta para o cinema por Claude Berri, em 1997, num filme em que a sua figura foi interpretada por Carole Bouquet. Um filme que dá bem conta da detenção, em Caluire, dos dirigentes da Resistência – entre eles Jean Moulin e Raymond Aubrac [seu marido] – mas dá pouca informação sobre a biografia destra mulher determinada, nascida a 29 de Junho de 1912, numa família de vinhateiros modestos da região de Mâcon.
Lucie Bernard, nome de solteira, não precisou que chegassem as horas sombrias [da ocupação] para tomar consciência da ascensão dos fascismos na Europa. Aluna excelente, apaixonada pela história, tornou-se professora efectiva na década de 1930. Foi por esta altura que, espontaneamente, ela se tornou uma militante. Inscreveu-se nas Juventudes Comunistas e o seu empenho foi total.
Quando a guerra se declara, está colocada em Estrasburgo. Vive com um jovem engenheiro, proveniente da burguesia judia, Raymond (...) No momento da derrota, Junho de 1940, quando Raymond é preso pela primeira vez pelas pelas tropas alemãs, Lucie consegue fazê-lo sair da prisão de Sarrebourg (Moselle), em Agosto, tirando partido de uma confusão que então ali se gerou. Os dois partem em seguida para Lyon (...)
O regime de Vichy [colaboracionista com o III Reich] está instalado, a colaboração impõe a sua vontade e o primeiro estatuto jurídico contra os judeus é publicado. O casal dispõe de dois vistos de saída para os Estados Unidos [onde Raymond fizera parte dos seus estudos]. Seria a atitude mais avisada: os dois estão referenciados como comunistas e ele é judeu. Recusam esse conforto, não por desafio aventureirista, mas por patriotismo. Por espírito de resistência (...)".

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