terça-feira, 6 de março de 2007

Foi você que pediu um museu Salazar?

Um contributo extremamente lúcido e pertinente para reflexão sobre o projectado museu Salazar na terra natal do ditador foi publicado no Público de hoje. Trata-se do editorial assinado por Amílcar Correia, do qual reproduzimos aqui um excerto:
"Ser favorável à criação de um museu em Santa Comba Dão não significa que se seja igualmente favorável ao ideário do Estado Novo, como parece, por vezes, transparecer dos argumentos da União dos Resistentes Antifascistas Portugueses. O que deve ser exigido à Câmara Municipal de Santa Comba Dão é que a utilização de dinheiros públicos não se confunda com a transformação do local num santuário para fanáticos skinheads e nostálgicos do salazarismo, onde o regime seja abordado de forma acrítica ou panegírica e sem o respectivo contraponto político e histórico. [...] Mas este museu jamais terá a credebilidade necessária, caso não se associe a um centro de investigação sobre a temática, capaz de integrar o personagem e o seu hediondo e mesquinho regime no devido contexto histórico, para que a História também aqui não se apague. Sem caução científica não teremos um museu, mas sim o santuário de que falam os opositores à sua instalação. A função cívica de um museu com estes contornos não pode ser hipotecada em qualquer caso."
Nada parece indicar que as condições de rigor científico prescritas por Amílcar Correia venham a estar reunidas pela Autarquia de Santa Comba Dão. É isso que nos preocupa e reclama a nossa vigilância.
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Imagem: Paula Rego, "Salazar a vomitar a Pátria", 1960, óleo, FCG.

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