No passado dia 25 de Abril, ao fim da tarde, ocorreram, lamentavelmente, incidentes que foram noticiados como tendo sido protagonizados pelo Movimento Não Apaguem a Memória!
Passamos, por isso, a divulgar o Comunicado à Imprensa que hoje foi enviado para a agência Lusa:
COMUNICADO:
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! terminada a sua participação no desfile das comemorações do 25 de Abril, organizou uma concentração junto da antiga sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, para lembrar e dignificar a resistência de tantos portugueses que ali foram submetidos às mais bárbaras torturas e para expressar, uma vez mais, o seu protesto contra o não cumprimento do compromisso já assumido pela CM de Lisboa e pelo Promotor imobiliário do futuro condomínio, de criação de um espaço museológico, naquele local.
Este acto cívico de protesto, no qual participaram muitas centenas de cidadãos, decorreu em condições de absoluta normalidade com as forças de segurança presentes no local.
Por tal razão – e muito embora deplorando os confrontos posteriormente ocorridos no dia da celebração do 25 de Abril – o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! vem expressar o seu total repúdio pelas notícias difundidas, ontem e hoje, as quais de forma inaceitável pela desinformação que revelam, associaram repetidamente o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! a estes lamentáveis acontecimentos.
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória!
Lisboa, 26 de Abril de 2007
Passamos, por isso, a divulgar o Comunicado à Imprensa que hoje foi enviado para a agência Lusa:
COMUNICADO:
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! terminada a sua participação no desfile das comemorações do 25 de Abril, organizou uma concentração junto da antiga sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, para lembrar e dignificar a resistência de tantos portugueses que ali foram submetidos às mais bárbaras torturas e para expressar, uma vez mais, o seu protesto contra o não cumprimento do compromisso já assumido pela CM de Lisboa e pelo Promotor imobiliário do futuro condomínio, de criação de um espaço museológico, naquele local.
Este acto cívico de protesto, no qual participaram muitas centenas de cidadãos, decorreu em condições de absoluta normalidade com as forças de segurança presentes no local.
Por tal razão – e muito embora deplorando os confrontos posteriormente ocorridos no dia da celebração do 25 de Abril – o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! vem expressar o seu total repúdio pelas notícias difundidas, ontem e hoje, as quais de forma inaceitável pela desinformação que revelam, associaram repetidamente o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! a estes lamentáveis acontecimentos.
O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória!
Lisboa, 26 de Abril de 2007
9 comentários:
É com muita estranheza que leio neste comunicado qualificar-se de "confrontos" uma carga policial violentíssima, que espancou indiscriminadamente pessoas que se manifestavam pacificamente contra o fascismo e outras que passavam simplesmente no local. Se acaso na manifestação participavam pessoas com atitudes violentas, tal não justifica uma repressão indiscriminada, que só tem paralelo com o que se fazia antes do 25 de Abril.
A atitude da polícia e de quem manda nela contrasta em absoluto com a benevolência com que toda a extrema-direita racista e fascista é habitualmente tratada.
Nos comunicados policiais e em boa parte da comunicação social, constato uma atitude absolutamente inadmissível e que me faz lembrar os tempos do capitão Maltez e da censura prévia. Rotulam-se os manifestantes de "anarquistas" (ou até de "extrema-esquerda"), logo são perigosos e devem levar porrada. Leio no comunicado da PSP (v. "Público", última página) que entre os objectos apreendidos aos manifestantes se encontrava "propaganda anarquista" !!!Leio e não acredito. Estes tipos andaram a tirar um curso na PIDE ? Eu não sou anarquista, mas declaro que tenho em meu poder imensa propaganda anarquista! Será que o António Costa me vai mandar a bófia a casa?
Com tanto dinheiro gasto em "segurança interna", SIS ou lá como se chamam, não me admira nada que andem lá no meio dos miúdos uns tipos inflitrados pela polícia, a arranjar "bagunça".
Voltando agora aos meus amigos do "Não apaguem a memória", movimento cujos objectivos perfilho inteiramente. Se compreendo a clarificação a esclarecer que nada teve a ver com a outra manifestação, já me parece injustificado assumir uma posição neutral, de "lavar as mãos", sobre uma repressão policial de tal violência. Ainda por cima no dia 25 de Abril e perto da António Maria Cardoso. O simbolismo não podia ser maior. Decerto que os presos, os torturados e os assassinados pela PIDE (mas pelas também sinistras PSP e GNR) não gostariam de ser lembrados e homenageados num contexto de repressão policial como este. Tenho a certeza que os amigos do "Não apaguem a memória", como democratas e antifascistas que são, concordarão comigo na necessidade de denunciar esta estranha atitude policial, que costuma emergir ciclicamente nas proximidades da António Maria Cardoso.
É que isto é um sinal muito preocupante do que vem aí. Primeiro levam os "anarquistas", depois a "extrema-esquerda", depois os "sindicalistas", depois os "desempregados" e os "disponíveis", mais tarde os "pretos" e os "ciganos". Que é que nos fica a faltar para termos um Estado policial, repressivo e censório, sob a capa da "democracia" e da "liberdade" ?
Também estranhei alguns depoimentos ...
Na sequência do que já aqui foi dito veio-me à memória este poema:
PRIMEIRO LEVARAM OS COMUNISTAS,
MAS EU NÃO ME IMPORTEI, PORQUE NÃO ERA COMIGO.
EM SEGUIDA LEVARAM ALGUNS OPERÁRIOS,
MAS A MIM ISSO NÃO ME AFECTOU, PORQUE EU NÃO SOU OPERÁRIO.
DEPOIS PRENDERAM OS SINDICALISTAS,
MAS EU NÃO ME INCOMODEI, PORQUE NUNCA FUI SINDICALISTA.
LOGO A SEGUIR CHEGOU A VEZ DE ALGUNS PADRES,
MAS COMO NÃO SOU RELIGIOSO, TAMBÉM NÃO LIGUEI.
AGORA LEVAM-ME A MIM, E QUANDO PERCEBI JÁ ERA TARDE.
Bertold Brecht
pois, não lhes ficava nada mal denunciarem a carga policial que houve ali tão perto...
Estando em trabalho na Galiza por estes dias nao me foi possível acompanhar a par e passo os lamentaveis acontecimentos que ocorreram em Lisboa no passado dia 25 de Abril.
Agora, quanto mais leio sobre o assunto mais me espanto com o alheamento de muitos concidadaos e a facilidade com que se aceitam e reproduzem versoes propagandisticas.
Julgo que o NAM fez bem em emitir um comunicado oficial, mas nele devia ter expresso solidariedade para com as pessoas alvo de violência policial claramente desproporcionada (independentemente de algumas delas poderam vir a ser acusadas em tribunal de actos criminosos, pois a policia deve limitar-se a deter para averiguaçoes as pessoas que julga terem cometido infracçoes dum modo correcto). O comunicado devia também ter evitado termos como "confrontos" que involuntariamente indiciam aceitaçao da versao oficial da PSP, tal como referiu o António Cardoso em comentário anterior neste post.
Corroboro a estranheza do António Cardoso e do Daniel Melo pelo comunicado emitido pelo Movimento. Estranho, não pela clarificação que se impunha, mas por não ser mais claro numa posição em relação à carga policial. Decerto que o movimento não esteve envolvido no ocorrido, mas serei só eu que conheço gente que, depois da nossa concentração junto às instalações da PIDE, tendo ficado por ali a tomar um café ou a apanhar sol, foi apanhada ao descer para o Rossio pela sanha dos agentes da policia de choque, em plena rua do Carmo? O próprio Movimento, quando realizou uma concentração junto do edifício da PIDE, em 5 de Outubro de 2005, já experimentara a atitude das forças policiais em relação aos que lembram o anti-fascismo e a resistência, então ainda com relativa brandura. Ninguém esqueceu que, em Dezembro passado, dois de nós tiveram que ir a tribunal por causa disso. No dia 25 de Abril, enquanto nos encaminhávamos pelo Chiado, íamos gritando «Em nome do futuro, não apaguem a memória». Muitos dos que iam connosco têm a memória de cargas policiais como estas, noutros contextos. Claro que é fácil pensar que os visados eram «os outros», que uma “jornalista” do DN enumerava: anarquistas, «rastas», negros. Como bem mostra o poema do Brecht que a Dulce Simões aqui colocou, os «outros» rapidamente podemos ser nós, num Estado que cada vez mais se vai desligando dos seus deveres quanto à prestação de cuidados de saúde ou de educação dos seus cidadãos e quanto à desvitalização da sua função pública, centrando-se antes no reforço da segurança (de quem?) e no aumento das despesas com as polícias. Esperava dos meus amigos do Não Apaguem a Memória, uma mais vigorosa atitude de condenação da actuação policial, assim como uma maior capacidade de se demarcarem da lamentável cobertura «noticiosa» em torno dos acontecimentos. Vai sendo cada vez mais pela net que conseguimos aceder a informação interessante, não necessariamente nos jornais oficiais. Sugiro, por exemplo, que vejam as fotos e os vídeos que circulam, aqui http://galerias.escritacomluz.com/ajlborges/album06, aqui http://www.youtube.com/watch?v=aI_XTwO57xA, aqui http://expresso.clix.pt/Multimedia/Interior.aspx?content_id=389405, aqui http://www.youtube.com/watch?v=gJXuWvsUdr0 , aqui http://www.youtube.com/watch?v=gJXuWvsUdr0 ou aqui http://expresso.clix.pt/Multimedia/Interior.aspx?content_id=389398 .
Inteiramente de acordo consigo, Daniel Melo. O facto de alguns indivíduos terem assumido atitudes ilegais e violentas não confere à polícia o direito de espancar com a maior brutalidade cidadãos pacíficos, que se encontravam no local, como as fotografias e inúmeros depoimentos comprovam.
A prática policial de correr à pancada quem quer que se encontre na rua quando a polícia intervém por qualquer motivo, é uma prática criminosa e cobarde, própria de uma polícia fascista.
Os agentes que espancaram pessoas desarmadas, que não resistiram à polícia, nem deram qualquer pretexto para o espancamento, devem responder criminalmente pelo crime de ofensas corporais voluntárias.
A PSP já mostrou por várias ocasiões a sua falta de cultura democrática, traduzida na facilidade com que inventa ou amplifica ameaças e tumultos, como sucedeu no caso do “arrastão”, que alimentou uma onda de racismo e xenofobia, que só não teve consequências mais graves, porque houve quem tivesse a coragem de o desmascarar.
Como todos sabem, o próprio movimento “Não apaguem a memória!” foi vítima do zelo persecutório da PSP, só porque um pequeno grupo de pessoas se reuniu em frente da sede da PIDE, para recordar os antifascistas que ali tanto tinham sofrido.
Por isso, não é de estranhar que se desconfie quando a PSP fala de cocktails Molotov e outras armas.
Mas a questão é simples: se alguém transportava tais artefactos ou praticou actos de vandalismo, obviamente devia ser detido. A questão é que a polícia espancou com toda a brutalidade pessoas pacíficas, sabendo perfeitamente que não tinham armas, nem estavam a praticar actos de vandalismo. Tanto mais que a polícia estava presente entre os manifestantes com agentes à paisana, como as fotografias evidenciam.
Tratou-se acima de tudo para de dar uma lição aos esquerdistas, comunistas e anarquistas, de que a polícia e os seus mandantes não gostam. Saber porquê levar-nos-ia aliás muito longe.
Agora quanto ao nosso movimento.
Como toda a gente sabe a PSP foi, a par da PIDE e da GNR, um instrumento fundamental na repressão do povo português. Todos os antifascistas, cuja memória justamente evocamos, foram vítimas da PIDE, mas também da PSP.
Circunstâncias várias levaram a que a PSP não tivesse respondido pelos crimes que cometeu, mas tal não significa que devam ser esquecidos.
Quando a PSP reproduz no presente comportamentos próprios da cultura repressiva, em que viveu durante décadas, entendo que este movimento não se pode calar.
A PSP chegou ao requinte de referir que aos manifestantes foi apreendida “propaganda anarquista”, como se isso agora fosse um crime. Em certa comunicação social, bastava referir que os manifestantes eram “anarquistas”, de “extrema-esquerda” ou “antiglobalização” para justificar a repressão policial.
Perante isto, não posso deixar de lembrar que muitos e sobretudo as primeiras vítimas do fascismo foram os “anarquistas”. Uma longa história, que começa na I República, com a polícia a prendê-los e a deportá-los, a pretexto das acções violentas da Legião Vermelha.
Talvez valesse a pena, um dia destes, trocarmos uma ideias sobre este assunto.
Como já tive oportunidade de referir na lista geral do Movimento Não Apaguem a Memória,também eu não concordo com a falta de solidariedade oficialmente manifestada pelo nosso movimento aos cidadãos que no Chiado foram vítimas da repressão policial no dia em que festejávamos a Liberdade e a Democracia no nosso país.
Um movimento como o nosso não pode nem deve alhear-se de factos desta natureza que colidem frontalmente com os principios por que lutamos.
Subscrevo os comentários aqui expressos.
Não nos podemos fechar em torno dos estrictos objectivos da Carta do Movimento (invocada como argumento por alguns) para ignorarmos o que nos rodeia e o contexto social e político em que nos movemos. As vítimas da prepotência de hoje não são muito diferentes das vítimas da prepotência de antes do 25 de Abril.
Serei sempre dos que têm presente as palavras de Sofia de Melo Breyner: "Vemos, ouvimos e lemos / Não podemos ignorar".
A indiferença é das armas mais mortíferas.
Aqui fica o meu sentimento e a minha solidariedade não só pessoal mas também enquanto membro fundador do movimento civico NAM.
Para memória futura.
Transcrevo a mensagem que enviei para a lista Todos no dia 28/04:
Caros Amigos e Amigas,
Já com a cabeça fria e após ter "investigado" os acontecimentos, através das variadas
mensagens enviadas por membros do nosso Movimento e também por diversos sites, blogues,
etc., etc., não ficaria bem comigo própria se não enviasse esta mensagem.
A primeira questão liga-se à posição do nosso Movimento. Não só participei nas tomadas de
posição assumidas oficialmente pelo "Não Apaguem a Memória" como estou em total
consonância com as mesmas. O nosso Movimento só deve ser envolvido naquilo em que
efectivamente participa. É minha convicção que nem toda a gente se encontra muita
satisfeita com o sucesso das nossas acções e que pretende enfraquecer-nos pela novidade
que representamos numa Democracia habituada a que só os partidos políticos sejam
protagonistas dos acontecimentos. Nem todos aceitam que as pessoas possam ser
independentes e livres.
A segunda questão liga-se aos incidentes ocorridos no dia 25 de Abril.
Ainda não tenho a certeza de nada. Muitos têm opinado. Muitos viram. Eu nã vi nada.
Depois do nosso desfile, fui calmamente para o metro. Só no dia seguinte de manhã me
apercebi dos acontecimentos. E, para meu espanto, O "Não Apaguem a Memória!" era
mencionado.
Após estes dois dias, de uma coisa tenho a certeza: o Zé Neves tem razão quando diz que a
legalidade é relativa. Na realidade, nós próprios, a 5 de Outubro de 2005, infringimos a
lei. Não temos que dar lições de moral a ninguém, nem o devemos fazer. Em muitos lugares
do mundo, actos ilegais têm feito com que sejam feitas leis para as suas reivindicações.
Foi o que também fizemos. E, para ser sincera, acho muito bem. A Democracia participativa
é assim mesmo: agitar para acordar, para revindicar, para conquistar.
Também tenho a certeza de que serem pessoas presas e espancadas no dia 25 de Abril porque
se manifestaram é lamentável. Há pessoas que dizem que foram feitos actos de vandalismo.
Não sei se é verdade ou não. Mas, com toda a certeza, não foram actos piores dos que, em
várias manifestações já ocorridas, os neo-nazis protagonizaram contra os imigrantes que
cá trabalham e descontam os seus impostos. A imagem de um polícia em protecção ao cartaz
do PNR no Marquês de Pombal é, para mim, suficientemente elucidativa para concluir que
algo está errado.
Por isso, e em meu nome pessoal, solidarizo-me com todos os que foram agredidos pela PSP
e, em particular, com os jovens que passaram a ser arguidos.
Para todos um grande abraço e 25 de Abril Sempre!!!
Paula Cabeçadas
Enviar um comentário