Com este post queremos chamar a atenção para a necessidade de se proceder à elaboração de um guia das fontes de arquivo para a história da resistência ao Estado Novo. Esse guia podia ser um trabalho de equipa, que resultasse do contributo de todos os activistas do movimento «Não apaguem a Memória!» que quisessem disponibilizar informação.
Essas fontes fazem parte integrante de inúmeros fundos documentais públicos e privados, produzidos por pessoas individuais e colectivas, à guarda de arquivos, bibliotecas e centros de documentação públicos, de instituições particulares, de famílias e de indivíduos.
No Arquivo Nacional da Torre do Tombo encontram-se os principais fundos documentais produzidos pelo Estado Novo, a saber: o Arquivo Oliveira Salazar, o Arquivo Marcelo Caetano, o Arquivo da PIDE/DGS, o Arquivo do Ministério do Interior, o Arquivo dos Serviços de Coordenação e Centralização da Informação de Angola e o seu congénere de Moçambique, o Arquivo dos Serviços de Censura, os arquivos da Mocidade Portuguesa, da Mocidade Portuguesa Feminina, da Legião Portuguesa e da União Nacional. Também se encontram na Torre do Tombo, à guarda do Arquivo Distrital de Lisboa, os processos do Tribunal Plenário de Lisboa.
Na capital, há muitas outras instituições públicas com arquivos importantes para o estudo do Estado Novo, do colonialismo e das resistências antifascista e anticolonialista: o Arquivo Histórico-Militar, o Arquivo do Tribunal Militar Especial - Santa Clara, o Arquivo Geral do Exército, o Arquivo Geral da Marinha, o Arquivo Histórico Ultramarino, etc.
A Biblioteca Nacional (Lisboa) e o Centro de Documentação do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, dispõem de espólios literários de escritores e intelectuais antifascistas.
A Fundação Mário Soares tem vindo a acolher e a tratar dezenas de acervos particulares de opositores ao Estado Novo e ao colonialismo português.
O Centro de Documentação 25 de Abril (Universidade de Coimbra) disponibiliza um extenso guia de espólios, que lhe foram doados por particulares, relativos ao Estado Novo, à Oposição, ao Movimento Estudantil e ao 25 de Abril.
Por todo o país, diversos arquivos distritais e municipais têm à sua guarda documentação para a história local da oposição à ditadura e ao Estado Novo.
Há também um enorme manacial de informação no Arquivo do Partido Comunista Português (que urge divulgar), na posse de particulares e nas "arcas" da memória (para quando um arquivo virtual das gravações áudio ou vídeo com histórias de vida e testemunhos orais que historiadores e outros cientistas sociais têm, para trabalhos académicos, recolhido?).
5 comentários:
Estou de acordo e disposto a particpar na realização desta proposta. Considero que seria um bom contributo do Movimento para a memória da resistência à ditadura. Por isso peço à Cláudia que elabore uma especie de vade mecum, para que quem quiser participar saiba para onde o deve fazer e onde colocar as suas recordcações, os seus documentos e por aí fora. Aplaudo a ideia, fico à espera, como outros, da sua concretização
António Melo
Também acho essa iniciativa pertinente e necessária. Uma pequena achega : há no arquivo do ministério dos negócios estrangeiros (arquivo histórico diplomático) muitos documentos de interesse para o estudo da oposição e nomeadamente da oposição no exílio (como existe no estrangeiro – Brasil, França, Reino Unido, Estados-Unidos – documentação sobre os exilados portugueses).
Seria uma iniciativa que podia ser nacional, mas ultrapassando as utopias, as autarquias possuem espólios valiosos que podiam divulgar melhor. A Biblioteca Municipal e V.N. Famalicão (que deixei há pouco tempo) possui espólios ligados à Oposição Democrática, no distrito de Braga e outros, provenientes de Armando Bacelar, Lino Lima, Ruy Luís Gomes, etc. À parte um catálogo de uma exposição e um artigo no Boletim Cultural da câmara, nunca a autarquia se interessou a fazer mais nada, apesar de todo o meu esforço.
Ao trabalho!
Luísa Alvim
Obrigada aos três pelos vossos contributos.
Melo: A ideia é mesmo para avançar.
A informação fornecida pela Luísa Alvim faz-me pensar na necessidade de enviar um inquérito às Autarquias para conseguirmos um levantamento exaustivo dos espólios de oposicionistas à guarda das entidades públicas locais. Como o poder local muito deve ao 25 de Abril e ao regime democrático, tem particulares responsabilidades na salvaguarda e divugação desse património e dessa memória. A nós, cabe-nos estimular sinergias.
Aplaudo as ideias aqui expressas, acho uma excelente ideia contactarmos as autarquias locais e saúdo a referência da Claudia aos arquivos do PCP, cuja divulgação e acesso aos investigadores urge promover, ideia por que sempre me bati enquanto fui membro daquele partido político.
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