quinta-feira, 19 de julho de 2007

"Sabes o que foram?" 20/07/2007, 21:30 horas


A Associação José Afonso leva a efeito amanhã, dia 20/07/2007, no Fórum Luisa Todi, em Setúbal, uma sessão de Canto Livre.

Não faltes!

domingo, 15 de julho de 2007

Da insubmissão solidária em Urbano Tavares Rodrigues

Saiu nesta quinzena uma extensa entrevista ao resistente antifascista Urbano Tavares Rodrigues, conduzida por José Carlos Vasconcelos para o JL.
Urbano nasceu em Lisboa em 1923, mas passou a infância no Alentejo, próximo da vila de Moura, o que o iria influenciar nas suas preocupações sociais, cívicas e políticas. Como diz o próprio: “Um paraíso, depois perdido, a que sempre quis voltar – e a descoberta de que esse paraíso é também um lugar de horrores. E a descoberta ainda da miséria, do povo. Eu e o Miguel falávamos e confraternizávamos com eles, nesse tempo que era o da Guerra Civil de Espanha, em que o meu pai deu guarida no monte a republicanos [espanhóis]”. Sobre a sua vivência alentejana pode ler-se «A casa da minha infância».
Foi preso pela primeira vez durante a II Guerra Mundial, por ter dado vivas aos Aliados e à liberdade no cinema Tivoli, onde fora com outros colegas do Liceu Camões ver um documentário sobre a guerra. Com o fim da guerra, apoiou o Movimento de Unidade Democrática, mas já não enquanto simpatizante do PCP, de que se afastara por causa do Pacto Germano-Soviético e ao qual só regressaria após as eleições de 1969 (foi então candidato da CEUD em Lisboa, mas tb. ajudou a CDE no Alentejo).
Foi leitor de Português em diversas universidades estrangeiras (Montpellier, Aix-en-Provence e Paris, entre 1949 e 1955). Nessa estada recolheu várias vezes assinaturas de intelectuais anti-fascistas como Louis Aragon, em prol da libertação dos presos políticos e da liberdade de imprensa em Portugal.
Por ter apoiado a campanha oposicionista de Humberto Delgado é expulso da Universidade de Lisboa, para onde fora convidado por Vitorino Nemésio. Interpelado por Urbano na Liv.ª Bertand, o ministro da Educação da altura, eng. Leite Pinto, confirmou que essa fora uma retaliação política: “«Então, demitiram-me por motivos políticos». Ao que ele respondeu: «Pois claro». «Mas eu não fazia política nas aulas», retorqui. «Mas fazia cá fora», disse ele. Voltei-lhe as costas”.
Em 1959, participa na revolta da Sé e entra para as Juntas de Acção Patriótica. Em 1961, envolve-se no malogrado assalto ao quartel de Beja, donde escapa ileso. Acusado de «actividades subversivas», é impedido de dar aulas nas escolas portuguesas, tendo que sair do Colégio Moderno e só podendo exercer a sua profissão na secção francesa do Liceu Francês. O seu envolvimento nas Juntas leva-o a ser preso pela PIDE em 1963. Depois de liberto, ajudou à fuga para o exílio de muitos desertores e antifascistas perseguidos, com o apoio de comunistas. Voltará a ser preso pela polícia política em 1968, tendo sido torturado com a tortura do sono e tendo estado em isolamento durante os 5 meses de detenção.
Segundo o ensaísta João de Melo, a obra de Urbano caracteriza-se por “uma literatura de combate e de experiência pessoal”, retratando um século de contrastes, sofrimento e sonhos: “Chama a si a crónica miúda e persistente deste último século português, ela mesma o trânsito de um país que viajou das trevas profundas para a luz da liberdade e das dos universos das injustiças sociais, da opressão, da cadeia e de todos os abusos para a celebração do país do povo, da terra, da revolução e da fraternidade” (in O Imaginário alentejano de Urbano Tavares Rodrigues, 1996; fonte: aqui). É uma elegia da resistência popular à injustiça social e à opressão política, assim o assume o próprio Urbano: “Compreendi que o meu destino estava verdadeiramente ligado ao mundo do Alentejo, dos trabalhadores rurais, dos pequenos camponeses e por esses, por um Alentejo diferente eu havia de lutar, de escrever, havia de viver”.
Sobre o seu perfil cívico vd. Urbano Tavares Rodrigues – cidadão e escritor, Moura, Câmara Municipal de Moura, 2005. Veja-se ainda um encantatório texto de Urbano sobre Lisboa antiga no site Teia Portuguesa. Existe uma breve biografia literária na DGLB.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O Tarrafal visto em Cabo Verde



Dois jovens jornalistas caboverdianos, Silvino Évora e José Tavares, fizeram um artigo muito interessante sobre a Memória do Campo de Concentração do Tarrafal. A base do artigo foi a tese de Mestrado de José Soares, intitulada: O Campo de Concentração de Tarrafal (1936-1954): A Origem e o Quotidiano.

Em homenagem aos que travaram a Ditadura com o sofrimento, os autores quiseram recordar os 70 anos do “Campo da Morte”.

"O Campo de Concentração de Tarrafal: 70 anos de História

Entra o século XX e encontra a relação entre os países em ebulição. A Europa está a passar por um momento de convulsão política. O desentendimento tem o desfecho trágico: um primeiro ensaio bélico à escala planetária que dura cinco anos (1914-1919) e arrasta consigo cerca de 40 milhões de vidas. O fim da Grande Guerra não significa o fim das hostilidades. Os conflitos não têm unicamente a dimensão internacional. Alguns países atravessam momentos de verdadeira “hemorragia interna”, a nível político, com várias facções ideológicas a disputar o poder.

Portugal não foge à regra. O “Reviralho” (esquerda republicana) separa-se da Ditadura, desde a primeira hora, e combate-a ferozmente; o Movimento Operário Organizado através do Anarco-Sindicalismo testa a sua força hegemónica no seio da classe operária; o Partido Comunista Português, com fraca influência, tenta fazer ecoar a sua voz; e, por fim, o Partido Socialista adopta uma posição ambígua em relação à Ditadura. As cartas estão lançadas e os “jogadores” delineiam estratégias. A História segue o seu curso natural e o processo de transição para o Estado Novo causa várias “baixas” entre as forças que disputam a hegemonia a partir do interior da Ditadura. O Salazarismo, enquanto Regime Político, emerge como vencedor. As hostilidades continuam. O Reviralhismo e o Movimento Operário declaram guerra à derrota, não aceitando o triunfo do Salazarismo. O clima é de grande tensão. As desconfianças são mútuas. Salazar precisa de manter o regime. Aposta fortemente nos instrumentos de repressão e instala o Estado Novo. A Polícia Política, o sistema de saneamento e o sistema prisional são apenas alguns exemplos. E, de repente, surge um milagre; uma espécie de “mão invisível” que convida todos os “irrequietos” ao “culto do silêncio”. Parece o fim da linha. O silêncio é profundo. Ensurdecedor, até.

Um novo dia: 29 de Outubro de 1936. O Campo de Concentração do Tarrafal abre as portas e acolhe “amavelmente” os primeiros “hóspedes”. É o Decreto-Lei número 26: 539 de 23 de Abril de 1936, que surgiu no âmbito da reorganização dos serviços prisionais, que passa o certidão de nascimento à “Colónia Penal”. Não se trata de uma prisão qualquer. É um verdadeiro Campo de Concentração, construído com o objectivo de (des)“amparar” os indivíduos sobre os quais recaem “penas especiais”, tendo em conta o teor do Decreto-Lei número 26:643 de 28 de Maio de 1936, que reorganiza os estabelecimentos Prisionais. Os parágrafos 1 e 2 do artigo 2 do Decreto Lei 26:539 de 23 de Abril de 1936 não nos enganam. Dizem-nos que a “Colónia da Morte” serve para receber os presos políticos e sociais, sobre quem recai o dever de cumprir o desterro, aqueles que internados em outros estabelecimentos prisionais se mostram refractários à disciplina e ainda os elementos perniciosos para outros reclusos. Também o documento abrange os condenados a pena maior por crimes praticados com fins políticos, os presos preventivos, e, por fim, os presos por crime de rebelião.
Campos de Concentração antes do Tarrafal
Tarrafal não é a causa, mas sim a consequência. É o resultado da agudização da luta de classes em Portugal, que leva o regime salazarista, encorajado pela situação política na Alemanha e na Itália, a incrementar a repressão. Por isso, a história da “Colónia Penal de Tarrafal” começa verdadeiramente depois de 18 de Janeiro de 1934. Antes do Tarrafal, o regime opressor criara, na Ilha de São Nicolau, um Campo de Concentração que servira para o degredo, maioritariamente, dos oficiais do exército detidos na Revolução da Madeira de 1931. E anterior ainda às prisões de Cabo Verde, o Decreto-Lei de 17 de Fevereiro de 1907, havia criado, em Angola, uma Colónia Penal Militar. Contudo, o Campo de Concentração da Ilha de S. Nicolau e os campos de concentração alemães, principalmente o de Dachau, são apresentados por muitos, especialmente pelos presos que estiveram no Tarrafal, como os antecedentes que justificam a criação daquilo que uns designam de Colónia Penal e outros de Campo de Concentração de Tarrafal. O nome pouco importa. Interessa, sim, as finalidades, os objectivos. O fim.

O Governo salazarista e os seus apologistas defendem apenas que o Campo de Concentração do Tarrafal é arquitectado como “Colónia Penal” e que tem como fim primordial a recolha dos condenados a pena de desterro pela prática de crimes políticos e os prisioneiros de delitos comuns que, na Metrópole, mostram-se intransigentes à disciplina prisional. O Governo justifica ainda que a Colónia Penal do Tarrafal é, em tudo, semelhante às prisões da Metrópole, dirigidas pelo Ministério da Justiça, como os casos de Caxias, Aljube, Peniche.

Tarrafal e a Construção da Morte
O Decreto-Lei que dá “vida” ao “Campo da Morte” determina a instalação do estabelecimento prisional na zona de Achada Grande e Ponta de Achada de Chão Bom, no Concelho de Tarrafal, a norte da Ilha de Santiago (Cabo Verde). A construção do Campo é entregue ao Ministério das Obras Públicas e Telecomunicações, com responsabilidades para elaborar a planta e levar a cabo a construção da obra. O Ministério das Obras Públicas e Telecomunicações elabora, assim, uma planta constituída por diferentes pavilhões para a instalação dos serviços e o agrupamento dos presos, de acordo com as suas afinidades políticas. O projecto está pronto, mas tem que ser aprovado. Têm responsabilidades na aprovação, o Ministério das Obras Públicas e Telecomunicações, o Ministério da Justiça e a Comissão das Construções Prisionais. O Ministério da Guerra, da Marinha e da Colónia também pode garantir um apoio essencial para a instalação e funcionamento dessa prisão. O projecto apresenta uma cadeia de 1.700 hectares, ampliáveis, caso justificar.

A Instalação do Campo da Morte
A instalação da “Colónia Penal” obedece a duas etapas: a primeira correspondente ao período que vai de 1936 até 1938. Durante este período, o Campo de Concentração do Tarrafal recebe os primeiros 150 presos antifascistas de diversas profissões: camponeses, operários, soldados, marinheiros das revoltas dos navios Dão, Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque, estudantes, intelectuais, entre outros. A segunda fase compreende a época da construção dos primeiros pavilhões de pedras e a chegada do médico Esmeraldo Pais de Prata, até ao encerramento que acontece em 1954.

Os primeiros presos instalam-se em tendas de lona, sem as mínimas condições de habitabilidade e de higiene. As barracas não têm luz eléctrica, nem ventilação, nem qualquer protecção contra a chuva e o sol. São doze barracas de lona, com sete metros de comprimento e quatro de largura. Cada uma tem capacidade para alojar doze prisioneiros. O prazo de validade destas barracas é de dois anos, altura em que surgem os pavilhões feitos de pedras. O espaço envolvente à “Colónia Penal” é vedado com arame farpado em toda a sua volta, para impedir qualquer contacto com o exterior. O único edifício de pedra na primeira fase é a cozinha que, entretanto, não fica completamente construído.

A Morte Lenta no Campo de Tarrafal
Os compartimentos da “Colónia Penal” estão longe de obedecer um parâmetro mínimo de humanidade. Depois de 16 anos na “jaula prisional”, João Faria Borda testemunha que “o Campo de Concentração é um rectângulo (cerca de 250m por 180) situado num dos sítios mais insalubres do arquipélago de Cabo Verde. Como alojamento, existem umas barracas de lona onde são metidos cerca de 12 presos em cada uma”. A par da falta de condições das instalações, existe também o castigo da Frigideira, uma pequena construção completamente fechada cujas paredes, chão e tecto são constituídos por cimento, que é a pior “dor de cabeça” para qualquer preso. A Frigideira é uma espécie de purgatório. É um antro de cimento onde as almas ‘pecaminosas’ são levadas a “purificar”. Só que muitas delas nunca mais voltam ao “paraíso terrestre de Salazar”.

Com as dimensões de 0.60m por 1.70m de altura, o portão de ferro da Frigideira parece com as portas dos navios. As celas são separadas por portões de ferro semelhantes. O equipamento é construído a uma distância considerável de qualquer outro compartimento da “casa da morte”, para que a sombra não proteja os seus habitantes do calor infernal que lá se faz, ficando permanentemente exposto ao raio solar durante o período diurno. No seu interior, só há dois companheiros: a solidão e o silêncio. Dias e noites a fios, os homens que lá estão apenas “falam” que a chuva que cai, apreciando o som da água que corre da Ribeira Prata para ir alagar os terrenos de Colonato. “Em Cabo Verde, região de clima variável, calha chover bastante nestes anos. A lona das barracas apodrece de tal maneira que lá dentro chove como na rua e de manhã acordamos com a cara negra da poeira que se pega à humidade que sobre nós cai. As águas acumuladas formam pântanos onde se desenvolvem mosquitos transmissores do paludismo. A saúde de todos nós, presos, arruína-se”. Desabafo de quem, durante 16 anos, dormiu na mesma cama que a morte, abraçado por ‘putríficas’ condições higiénicas.
Por outro lado, o quotidiano dos reclusos no Tarrafal é pautado principalmente pelos trabalhos forçados, pelas provocações e castigos de diversa ordem. O contacto com o exterior é escasso, sendo-lhes proibida, frequentemente, a troca de correspondência com os amigos e os familiares. E assim reza a história. Triste história de uma passado que teima em ficar. Os anos passam mas a verdade fica. A verdade da História.

Era um dia como hoje: 29 de Outubro de 1936. O Campo de Concentração do Tarrafal abre as portas. E hoje, um dia como aquele: 29 de Outubro de 2006, a história teima em trazer a verdade. A verdade dos factos. Tarrafal… há 70 anos, abre a porta da morte. E é atravessado por Esmeraldo Pais de Prata, médico Licenciado em “Assassínio”. Chega, entra e diz a sua primeira frase: “não estou aqui para curar, mas para passar certidões de óbito”."

domingo, 8 de julho de 2007

Jean Moulin


A 8 de Julho de 1943 morreu Jean Moulin, um dos principais heróis da Resistência Francesa.

Jean Moulin nasceu em Béziers, no Languedoc-Roussillon, em 20 de Junho de 1899 . Morreu ao largo de Metz, no dia 8 de Julho de 1943.

Formado em Direito, membro da Maçonaria, seguiu uma carreira administrativa que se adivinhava brilhante. Sendo bom desenhador, publicou também algumas caricaturas e desenhos humorísticos na revista Le Rire, sob o pseudónimo de Romanin.

Em 1925, foi o Vice-prefeito mais jovem de França e, doze anos mais tarde, o Prefeito mais novo, quando foi nomeado para Aveyron.

Foi já nestas funções, mas em Chartres, que recusou, em 1940, assinar um documento que os alemães lhe apresentaram. O Governo colaboracionista de Vichy destitui-o, foi preso e tentou suicidar-se, cortando o pescoço com um caco de vidro. Não morreu, mas ficou com uma cicatriz que ele tapava sempre com um cachecol.

Fugiu para Londres, passando por Espanha e por Portugal, sob nome falso, vindo a encontrar-se com o General Charles De Gaulle na capital britânica. Juntou-se à Resistência e foi encarregue da unificação dos vários movimentos de resistência ao ocupante nazi. Foi lançado de pára-quedas sobre o território francês, no primeiro dia de 1942, passando a ser conhecido por Rex e, mais tarde, por Max. Deslocou-se em várias ocasiões a Londres, para relatar a situação em França, na última das quais foi condecorado por De Gaulle com a Cruz da Liberdade.

Vítima de uma traição segundo uns, de uma imprudência segundo outros, foi preso nos arredores de Lyon, em Junho de 1943, e alvo de interrogatórios e torturas por Klaus Barbie, chefe da Gestapo em Lyon. Acabaria por morrer dentro do comboio que o levava de Paris até Berlim, de onde seria então encaminhado para um campo de concentração.

As suas cinzas encontram-se no Panteão nacional francês desde 1964.

domingo, 1 de julho de 2007

Carlos de Oliveira - 01/07/1981


Soneto

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.


Escritor neo-realista, filho de emigrantes portugueses, só viveu no Brasil os dois primeiros anos de vida: em 1923, os seus pais regressam a Portugal, acabando por se fixar na região de Cantanhede, mais precisamente na aldeia de Febres, onde seu pai exercia medicina. Em 1933 muda-se para Coimbra, cidade onde permanece durante quinze anos, a fim de concluir os estudos liceais e universitários. Ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1941, onde estabelece amizade, convívio intelectual e solidariedade ideológica e política com outros jovens, entre os quais Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora.

Em 1942 publica o seu primeiro livro de poemas Turismo, com ilustrações de Fernando Namora, integrado na colecção Novo Cancioneiro e em 1943 publica o seu primeiro romance, Casa na Duna. Em 1944, o romance Alcateia, será apreendido, lançando nesse mesmo ano a segunda edição de Casa na Duna.

Em 1945 publica um novo livro de poesias, Mãe Pobre. Os anos 1945 e seguintes serão, para Carlos de Oliveira, bem profícuos quanto à integração e afirmação no grupo que veicula e auspera por um “novo humanismo”, com a participação nas revistas Seara Nova e Vértice e a colaboração no livro de Fernando Lopes Graça Marchas, Danças e Canções – colectânea de poesias de vários poetas, musicadas por aquele, canções que vieram a ser conhecidas por “heróicas”.

Termina em 1947 a sua Licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, e no ano seguinte instala-se definitivamente em Lisboa, não deixando, contudo, de se deslocar periodicamente a Coimbra e à Gândara. Em 1949 casa com Ângela, jovem madeirense que conhecera na Faculdade, que será sua companheira e colaboradora permanente.

Em 1953 publica Uma Abelha na Chuva, o seu quarto romance e, unanimemente reconhecido como uma das mais importantes obras da literatura portuguesa, estando integrado nos conteúdos programáticos da disciplina de português no ensino secundário.

Em 1957 organiza, com José Gomes Ferreira, numa abordagem do imaginário popular os dois volumes de Contos Tradicionais Portugueses, alguns deles posteriormente adaptados ao cinema por João César Monteiro.

Em 1968 publica dois novos livros de poesia, Sobre o Lado Esquerdo e Micropaisagem e colabora com Fernando Lopes no filme por este realizado e terminado em 1971, Uma Abelha na Chuva, a partir da obra homónima. Publica em 1971 O Aprendiz de Feiticeiro, colectânea de crónicas e artigos, e Entre Duas Memórias, livro de poemas, pelo qual lhe é atribuído no ano seguinte o Prémio de Imprensa. Em 1976 reúne toda a sua poesia em Trabalho Poético, dois volumes, apresentando os livros anteriores, revistos, e os poemas inéditos de Pastoral, livro que será publicado autonomamente no ano seguinte. Publica em 1978 o seu último romance Finisterra, paisagem povoada de inspiração gandaresa, obra que lhe proporciona a atribuição do Prémio Cidade de Lisboa, no ano seguinte.

Morre na sua casa em Lisboa a 1 de Julho de 1981.

Poesia

Turismo (1942);
Mãe Pobre (1945);
Colheita Perdida (1948);
Descida aos Infernos (1949);
Terra de Harmonia (1950);
Cantata (1960);
Micropaisagem (1968, 1969);
Sobre o Lado Esquerdo, o Lado do Coração (1968, 1969);
Entre Duas Memórias (1971);
Pastoral (1977).


Romance

Casa na Duna (1943; 2000);
Alcateia (1944; 1945);
Pequenos Burgueses (1948; 2000);
Uma Abelha na Chuva (1953; 2003);
Finisterra: paisagem e povoamento (1978; 2003).


Crónicas

O Aprendiz de Feiticeiro (1971, 1979).

Antologia

Poesias (1945-1960) (1962);
Trabalho Poético (1976; 2003).