segunda-feira, 30 de abril de 2007

Roma, Cidade Aberta



Revi hoje o filme Roma - Cidade Aberta de Rossellini

Ficha Técnica
Título Original: Roma, Città Aperta
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 98 minutos
Ano de Lançamento (Itália): 1945
Estúdio: Excelsa Film / Minerva Film AB
Distribuição: Arthur Mayer & Joseph Burstyn Inc.
Direção: Roberto Rossellini
Roteiro: Sergio Amidei e Federico Fellini, baseado em estória de Sergio Amidei e Alberto Consiglio
Produção: Giuseppe Amato, Roberto Rossellini e Ferruccio de Martino
Música: Renzo Rossellini
Fotografia: Ubaldo Arata
Desenho de Produção: Rosario Megna
Direção de Arte: Rosario Megna
Edição: Eraldo da Roma


Elenco
Aldo Fabrizi (Don Pietro Pellegrini)
Anna Magnani (Pina)
Marcello Pagliero (Giorgio Manfredi)
Vito Annichiarico (Marcello)
Nando Bruno (Agostino)
Harry Feist (Major Bergmann)
Giovanna Galletti (Ingrid)
Francesco Grandjacquet (Francesco)
Maria Michi (Marina Mari)
Carla Rovere (Laurette)
Joop van Hulzen (Major Hartman)


Sinopse
"Roma, 1944. Um dos líderes da Resistência, Giorgio Manfredi (Marcello Pagliero), é procurado pelo nazistas. Giorgio planeja entregar um milhão de liras para seus compatriotas. Ele se esconde no apartamento de Francesco (Francesco Grandjacquet) e pede ajuda à noiva de Francesco, Pina (Anna Magnani), que está grávida. Giorgio planeja deixar um padre católico, Don Pietro (Aldo Fabrizi), fazer a entrega do dinheiro. Quando o prédio é cercado, Francesco é preso pelos alemães e levado para um caminhão. Gritando, Pina corre em sua direção e é metralhada no meio da rua. Giorgio foge para o apartamento de sua amante, Marina (Maria Michi), sem imaginar que este seria o maior erro da sua vida.
Para além de ser um filme fantástico em que, cada vez que o vejo, o cinema afirma a sua arte, é também um hino à resistência, à bondade do ser humano, ao amor entre os homens."


Passado na época da Resistência italiana ao Fascismo, o filme retrata a sociedade italiana da época, na sua mais feroz repressão.

Personagens que não podem ser esquecidos (Pina, Don Pietro, Francesco) são o exemplo daquilo de que os homens são capazes, sem pedir nada em troca a não ser a preservação da sua honestidade, a sua auto-estima, a verdade dos seus valores.

De um só fôlego, Rossellini retrata uma lição de vida e, ao mesmo tempo, mostra-nos a morte como Luta, Resistência e Amor ao próximo.

Uma Obra Prima.

Homenagem a Palma Inácio



Palma Inácio fez da sua vida a bandeira da liberdade

Considerado «perigoso» foi preso e torturado pela PIDE. O amor pela liberdade nunca o deixou vergar-se perante a ditadura

Participou numa tentativa de golpe de Estado, protagonizou o primeiro desvio político de um avião, participou no assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, planeou tomar a Covilhã. Aos 85 anos, Hermínio da Palma Inácio vai ser homenageado na sua terra-natal, Ferragudo.

Foi nesta pequena aldeia de pescadores, no concelho de Lagoa, que nasceu em 1922, mas passou a juventude em Tunes, no concelho de Silves.

Hermínio Palma Inácio foi um homem de combate pela liberdade e pela democracia.

Sem partido ou ideologia, Palma Inácio, como um verdadeiro homem da terra, arregaçou as mangas e pôs mãos à obra contra a ditadura de Salazar. Ditadura que estrangulou Portugal durante 48 anos.

Desde jovem que mostrou garra e vontade de mudar o cenário político. Aos 18 anos, abandonou Tunes e alistou-se voluntariamente na Aeronáutica Militar, sendo colocado na Base Aérea nº 1, em Sintra.

Aqui tirou o curso de mecânico de aeronaves e o de piloto civil para aviação comercial. Foi também nesta altura que estabeleceu relações com Humberto Delgado e com os círculos contestatários a Salazar.

Jovem sonhador e amante da liberdade, Palma Inácio viveu tentando cumprir a missão da sua vida: devolver a liberdade ao povo português.

«Conheci-o em Paris, em 1969. Ele tinha acabado de fugir da cadeia», relembrou o médico Ruy Pereira, amigo do tempo de exílio em França, que hoje vive no concelho de Lagoa.

«Encontrámo-nos como resistentes antifascistas. Palma era um combatente. Sempre preocupado com a acção. A sua única obsessão era a acção», contou ao «barlavento» Ruy Pereira.

Palma Inácio conseguiu sempre fugir aos tentáculos da PIDE, tendo, pelo meio, protagonizado algumas das mais rocambolescas acções de luta pelo derrube da Ditadura.

Em 1947, participou numa tentativa de golpe de Estado, ao lado de vários oficiais generais, entre eles o general Marques Godinho. O papel de Palma Inácio consistia em sabotar os aviões. Cumpriu a missão como planeado, mas a operação correu mal.

Começou aqui a sua primeira fuga. Foi preso perto de Loures e encarcerado no Aljube. Torturado durante doze dias e impedido de falar durante cinco meses, Palma Inácio nunca revelou o nome do oficial que o tinha incumbido da operação.



«Nós dizíamos que as celas [no Aljube] eram as gavetas. Tinham qualquer coisa como três metros por um metro e meio. Mantinham os presos isolados, para os intimidar. Era uma grande pressão psicológica, nomeadamente através da supressão do sono. Palma passou muitos dias em supressão de sono», explicou o amigo Ruy Pereira.

Mas nada demoveu Palma Inácio. «Era um homem de combate à ditadura. A essência da sua luta era o derrube da ditadura e conquista da liberdade», asseverou Ruy Pereira.

O algarvio fleumático protagonizou também o primeiro desvio político de um avião, que haveria até de fazer as manchetes nos jornais internacionais.

Na manhã de 10 de Novembro de 1961, véspera das eleições gerais em Portugal, Palma Inácio e mais quatro operacionais tomaram de assalto o avião da TAP que fazia o percurso Casablanca para Lisboa, obrigando o piloto a sobrevoar a capital a baixa altitude, lançando panfletos antifascistas sobre a capital portuguesa.

Mas foi o assalto ao Banco de Portugal da Figueira da Foz que fez correr muita tinta nos jornais. O grupo de operacionais que acompanhavam Palma Inácio, e que viriam a formar a LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária), estudaram as alternativas para angariar fundos para a sua causa.

Para os revolucionários, deveria ser o próprio regime a pagar as ofensivas revolucionárias. O assalto ao Banco de Portugal da Figueira da Foz foi considerado o mais rude golpe de que há memória nas finanças da Ditadura.

O grupo levou cerca de 30 mil contos, fugiu num avião, que o trouxe até Vila do Bispo, de onde fugiu de carro para Espanha e depois França.

Depois deste, talvez o seu plano mais arrojado tenha sido a tentativa de tomada da Covilhã. Tomar a cidade, fazendo explodir todos os seus acessos, nomeadamente estradas e pontes, era um dos objectivos desta operação da LUAR.

No entanto, foi uma tentativa mal conseguida. Palma Inácio foi preso, seguiu para Lisboa para depois ser julgado no Porto. Através da ajuda da sua irmã, a residir em Londres, o algarvio evadiu-se novamente da prisão, sem deixar rasto.

«O que mais admiro nele é a sua coragem, a sua honestidade em relação à luta. Tinha e tem uma personalidade íntegra, era muito preocupado com os aspectos pragmáticos», contou Ruy Pereira.

Considerado pela PIDE como um dos indivíduos mais perigosos, quem o conheceu de perto sabe bem o valor de um homem que tudo fez para lutar contra a repressão.

«Era uma pessoa calma. Comunicava segurança. Era desportista, tinha uma grande disciplina física e mental. O Palma era corajoso e a sua presença dava coragem aos outros».

Hoje, com 85 anos, Palma Inácio reside num lar em Lisboa, fundado por antigos alunos da denominada «Velha Guarda Casapiana».

Em breve, a terra o que o viu nascer vai prestar homenagem ao homem que se «casou com a revolução».


«Revolucionário ingénuo» preocupado com as suas gentes

Era ainda um jovem quando se alistou na Aeronáutica Militar. Aí aprendeu a profissão de mecânico e tirou o curso de piloto civil para a aviação comercial. O monstro da II Guerra Mundial pairava sobre a Europa.

Atento ao racionamento de comida a que os seus conterrâneos estavam sujeitos, pegou num avião Tiger e lançou pelos ares alimentos.

Numa entrevista à revista «Grande Reportagem», em 2000, o contestatário algarvio explicou que, durante a II Guerra, «havia falta de comida, sobretudo daquela que os portugueses mais gostavam, o bacalhau. E havia na Figueira da Foz uma grande seca de bacalhau que tinha ao lado um campo de aviação pequeno. Nós íamos lá, aterrávamos, comprávamos o bacalhau, embrulhávamos o bacalhau em plástico e depois lançava-o sobre Tunes [no Algarve]».

Ferragudo mostra orgulho em Palma Inácio

Nasceu na vila de Ferragudo, em 1922, no seio de uma família humilde de ferroviários. Na altura em que se comemoram os 33 anos da Revolução de 25 de Abril, a Junta de Freguesia de Ferragudo vai homenagear Hermínio da Palma Inácio.

No dia 1 de Maio, às 11 horas, será atribuído o seu nome a um largo da vila, seguindo-se a inauguração de uma exposição sobre Palma Inácio, na ACD Ferragudo.


Texto de Mara Dionísio, publicado no Jornal Barlavento na sua edição on-line

domingo, 29 de abril de 2007

Absolutamente imperdível!


Férias Grandes com Salazar, está em cena no Teatro da Politécnica até dia 13 de Maio.
Esta comédia corrosiva e bem documentada tem como cenário uma mercearia, cujo merceeiro é, obviamente, Salazar, que faz a rigorosa contabilidade do negócio dos ovos do galinheiro que também faz parte do cenário. Ao longo da peça desfilam: Maria, a poderosa e infeliz governanta do ditador; Christine Garnier, a jornalista francesa que foi o "anjo" de Salazar, ao escrever o livro que serviu de mote ao título desta peça ("Férias com Salazar", 1952); o atormentador fantasma do general Humberto Delgado; o indispensável Cardeal Cerejeira, a tentar casar Maria com o ditador, para que este não morresse em pecado; os pides Barbieri Cardoso e Silva Pais, sempre à escuta e várias outras figuras políticas da época.
Trata-se de um excepcional texto do espanhol Manuel Martinez Mediero, numa visão do ditador e da ditadura tão distanciada quão rigorosa, irrepreensivelmente encenada por José Carretas e com um desempenho notável de punhado de actores, numa co-produção do Teatro das Beiras e do Teatro Nacional D. Maria II e com a colaboração da espanhola Junta da Extremadura.
Para quem não sabe se deve rir ou chorar com as memórias das tristes figuras da ditadura, é obrigatório ver as "Férias Grandes com Salazar", pois chorará de tanto rir.
Em Cena: até 13 de Maio
Horário: de 3ª a domingo às 21h30 sábado e domingo também às 16h
Preço: 10 euros
Local: Rua da Escola Politécnica, nº 56
Metro: Rato
Reservas: 213955209

Jorge Martins

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Comunicado acerca dos incidentes ocorridos no dia 25 de Abril

No passado dia 25 de Abril, ao fim da tarde, ocorreram, lamentavelmente, incidentes que foram noticiados como tendo sido protagonizados pelo Movimento Não Apaguem a Memória!

Passamos, por isso, a divulgar o Comunicado à Imprensa que hoje foi enviado para a agência Lusa:

COMUNICADO:

O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! terminada a sua participação no desfile das comemorações do 25 de Abril, organizou uma concentração junto da antiga sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, para lembrar e dignificar a resistência de tantos portugueses que ali foram submetidos às mais bárbaras torturas e para expressar, uma vez mais, o seu protesto contra o não cumprimento do compromisso já assumido pela CM de Lisboa e pelo Promotor imobiliário do futuro condomínio, de criação de um espaço museológico, naquele local.

Este acto cívico de protesto, no qual participaram muitas centenas de cidadãos, decorreu em condições de absoluta normalidade com as forças de segurança presentes no local.

Por tal razão – e muito embora deplorando os confrontos posteriormente ocorridos no dia da celebração do 25 de Abril – o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! vem expressar o seu total repúdio pelas notícias difundidas, ontem e hoje, as quais de forma inaceitável pela desinformação que revelam, associaram repetidamente o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! a estes lamentáveis acontecimentos.


O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória!

Lisboa, 26 de Abril de 2007

quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril de 2007 - Desfile para a António Maria Cardoso

Aqui a liberdade venceu a tortura
Milhares de pessoas responderam afirmativamente ao convite do Movimento para prolongar o desfile do 25 de Abril até à Rua António Maria Cardoso, onde clamaram o seu desejo de a antiga sede da PIDE/DGS ser recordada como lugar por excelência da resistência à ditadura fascista do Estado Novo.
Numa silêncio, que deve sublinhar-se depois de um desfile colorido como foi o do 25 de Abril, ouviram com extrema atenção em os testemunhos de Fernando Vicente e Garcia Pereira sobre o significado da manifestação: assegurar realmente que no condomínio que ali se constrói se reserve um espaço museológico que recorde para a história o que foi a luta pela conquista da democracia.













Fernando Vicente, um dos presos políticos que mais sofreu a tortura do sono nos longos interrogatórios que ali se fizeram, foi directo e conciso na explicação que deu sobre o que era a polícia política do regime ditatorial.
Ali interrogava-se até à morte para arrancar aos detidos a confissão que interessa ao ditador para se perpetuar no poder. Ali se concentrava um sistema de devassa da vida privada de todos os cidadãos, que era alimentado por uma rede de bufos sem rosto, pela violação sistemática da correspondência, por um sistema de escutas arbitrário e sem controlo, por buscas domiciliárias selvagens, por cargas policiais brutais. Ali a única lei que comandava era a que a PIDE decretava.

Garcia Pereira deu o seu testemunho do dia 25 de Abril de 1974, quando ao fim da tarde um grupo de cidadãos se dirigiu à sede da sinistra polícia reclamando a sua extinção e por esta foi recebida a tiro. Recordou a rajada que ceifou de imediato quatro manifestantes e deu parte da sua convicção de que alguns dos feridos devem ter soçobrado, mas cujo falecimento deve ter ficado ignorado nos registos hospitalares. Recordou que quando chegaram as ambulâncias, das janelas da morte saíram duas granadas de fumos, para impedir o socorro às vítimas. Recordou que os únicos mortos que naquele dia da libertação ocorreram foram os praticados pelo polícia política fascista – nomeando o inspector da PIDE/DGS que comandou as acções homicidas, Óscar Cardoso.
Fernando Vicente
Garcia Pereira












Fernando Vicente em palavras sucintas explicou a motivação daquela concentração.
Há dois anos, no 5 de Outubro de 2005, um grupo de cidadãos reuniu-se junto da antiga sede da PIDE-DGS em Lisboa, para expressar o seu protesto pelo apagamento de qualquer referência à memória histórica daquele local. Desse acto nasceu o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! e surgiu igualmente a possibilidade de corrigir o erro: inserir numa parte do condomínio um espaço que testemunhe o papel da resistência democrática à ditadura. Deu conta dos contactos estabelecidos com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e o promotor imobiliário, e como foi possível estabelecer um protocolo tripartido no sentido de concretizar esse espaço de memória e lhe conferir a dignidade indispensável.
Chegado a esse ponto, o processo entrou num impasse devido à incapacidade da CML e o promotor chegarem a um entendimento suficientemente claro quanto à definição jurídico-administrativa a conferir ao futuro espaço museológico. As conversações arrastam-se desde Maio de 2006, daí a necessidade de repor o assunto na praça pública. Daí a justificação daquela concentração.
O Movimento, reforçado com a adesão popular que a sua iniciativa alcançou, vai insistir com os seus interlocutores para que assumam os seus compromissos e dêem os passos necessários para que o projecto museológico se torne numa realidade a muito curto prazo.
Por isso, e para lá destes contactos, o Movimento vai avançar para estudos concretos quanto ao desenho a conferir ao espaço – já referenciado – onde há-de construir-se a memória da liberdade que naquele lugar venceu a tortura.
O primeiro passo nesse sentido vai dar-se no próximo 16 de Maio, com a realização de um colóquio na sede da Ordem dos Arquitectos (Edifício dos Banhos de São Paulo – Travessa do Carvalho, 23, em Lisboa), onde o grupo técnico, que o Movimento já mobilizou para esse trabalho, porá em discussão pública as ideias que já concebeu para um espaço que se quer que seja um hino à liberdade e à democracia.

No final, num gesto espontâneo de respeito e amor, os cravos vermelhos foram colocados junto ao edifício.


Manifestação do 25 de Abril de 2007

A Manifestação do 25 de Abril contou com milhares de pessoas que quiseram, mais uma vez, manifestar a alegria da libertação, a celebração da Democracia e a afirmação da Liberdade.
O Movimento Não Apaguem a Memória! esteve presente ao lado dos milhares de cidadãos e cidadãs que inundaram a Av. da Liberdade, em Lisboa.
Sindicatos, Partidos, Movimentos Cívicos, reivindicações das chamadas “minorias”, Imigrantes e cidadãos anónimos juntaram-se para comemorar a data em que Portugal passou a ser uma nação, mais uma vez, orgulhosa de si e da sua história.
Num dia bonito, em que a luz única desta cidade brilhou, o 25 de Abril de 1974 foi recordado e defendido pelo povo da cidade de Lisboa.
25 de Abril Sempre, Fascismo Nunca Mais! foi a palavra de ordem mais gritada.
Vale a pena guardar estas imagens.
Não Apaguem a Memória!

Cravos vermelhos para sempre

O Povo está com o MFA!

"Minorias"?

Ninguém vai esquecer

O futuro

Uma fotografia do 25 de Abril


Primeiro as árvores cobriram-se de folhas
depois de pássaros e depois de
homens.

Jorge Sousa Braga, Porto de Abrigo, 2005.

Há 33 anos caiu o Fascismo!


Há 33 anos:
00h20 – Nos estúdios da Rádio Renascença, situados na Rua Capelo, ao Chiado, Paulo Coelho, que ignora os compromissos assumidos pelos seus colegas do programa Limite, lê anúncios publicitários. Apesar dos sinais desesperados de Manuel Tomás, que se encontra na cabina técnica acompanhado de Carlos Albino, para sair do ar, o radialista prossegue paulatinamente a sua tarefa. Após 19 segundos de aguda tensão, Tomás dá uma "sapatada" na mão do técnico José Videira, provocando o arranque da bobine com a gravação que continha a célebre senha: a canção Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso.

Comunicado do MFA às 04,20 horas
Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.
As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.

Comunicado do MFA às 04,45 horas
Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.
A todos os elementos das forças militarizadas e policiais o comando do Movimento das Forças Armadas aconselha a máxima prudência, a fim de serem evitados quaisquer recontros perigosos.
Não há intenção deliberada de fazer correr sangue desnecessariamente, mas tal acontecerá caso alguma provocação se venha a verificar.
Apelamos para que regressem imediatamente aos seus quartéis, aguardando as ordens que lhes serão dadas pelo Movimento das Forças Armadas.
Serão severamente responsabilizados todos os comandos que tentarem, por qualquer forma, conduzir os seus subordinados à luta com as Forças Armadas.


Comunicado do MFA às 05,15 horas
Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.
Atenção elementos das forças militarizadas e policiais. Uma vez que as Força Armadas decidiram tomar a seu cargo a presente situação, será considerado delito grave qualquer oposição das forças militarizadas e policiais às unidades militares que cercam a cidade de Lisboa.
A não obediência a este aviso poderá provocar um inútil derramamento de sangue cuja responsabilidade lhes será inteiramente atribuída.
Deverão, por conseguinte, conservar-se dentro dos seus quartéis até receberem ordens do Movimento das Forças Armadas.
Os comandos das forças militarizadas e policiais serão severamente responsabilizados caso incitem os seus subordinados à luta armada.


Comunicado do MFA às 07,30 horas
Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.
Conforme tem sido transmitido, as Forças Armadas desencadearam na madrugada de hoje uma série de acções com vista à libertação do País do regime que há longo tempo o domina.
Nos seus comunicados as Forças Armadas têm apelado para a não intervenção das forças policiais com o objectivo de se evitar derramamento de sangue. Embora este desejo se mantenha firme, não se hesitará em responder decidida e implacavelmente a qualquer oposição que se venha a manifestar.
Consciente de que interpreta os verdadeiros sentimentos da Nação, o Movimento das Forças Armadas prosseguirá na sua acção libertadora e pede à população que se mantenha calma e que se recolha às suas residências.
No momento presente encontram-se já dominados e ocupados os seguintes objectivos:
- Rádio Marconi
- Rádio Clube Português
- Emissora Nacional
- Radiotelevisão Portuguesa
- Banco de Portugal
- Quartel General do Porto
- Aeroporto da Portela
- Terreiro do Paço
- Quartel General de Lisboa
As tropas prosseguem decididamente no desempenho das missões que lhes foram atribuídas.
Viva Portugal!



12h30 - É montado o cerco ao Quartel da GNR, no Carmo, pela coluna da EPC.

12h45 - Forças hostis da GNR ocupam posições na retaguarda do dispositivo de Salgueiro Maia.

13h00 - Um comunicado do MFA tranquiliza as famílias dos militares envolvidos no movimento revoltoso.
- Face ao cerco do Quartel do Carmo, o brigadeiro Junqueira dos Reis dirige-se, com os dois CC/M47 e os lanceiros e atiradores que lhe restavam, para o Largo de Camões, na esperança de, conjuntamente com forças da GNR, tentar libertar o Presidente do Conselho. Tais intenções rapidamente se verificam inexequíveis. A companhia do RI 1 passa-se para as fileiras do MFA e uma parte da guarnição de um M/47 abandona-o, confinando o brigadeiro a uma posição de crescente fraqueza face ao aumento do poderio dos revoltosos.

Comunicado do MFA às 19,50 horas
Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Continuando a dar cumprimento à sua obrigação de manter o País ao corrente do desenrolar dos acontecimentos, o Movimento das Forças Armadas informa que se concretizou a queda do Governo, tendo Sua Ex.ª o Prof. Marcelo Caetano apresentado a sua rendição incondicional a Sua Ex.ª o General António de Spínola.
O ex-presidente do conselho, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e o ex-ministro do Interior encontram-se sob custódia do Movimento, enquanto Sua Ex.ª o Almirante Américo Tomás e alguns ex-ministros do Governo se encontram refugiados em dois aquartelamentos que estão cercados pelas nossas tropas e cuja rendição se aguarda para breve.O Movimento das Forças Armadas agradece a toda a população o civismo e a colaboração demonstrados de maneira inequívoca desde o início dos acontecimentos, prova evidente de que ele era o intérprete do pensamento e dos anseios nacionais.Continua a recomendar-se a maior calma e a estrita obediência a todas as indicações que forem transmitidas. Espera-se que amanhã a vida possa retomar o seu ritmo normal, por forma a que todos, em perfeita união, consigamos construir um futuro melhor para o País.Viva Portugal!


c. 20h30 - Na Rua António Maria Cardoso, onde se situa a sede da PIDE/DGS, agentes desta polícia política abrem fogo sobre a multidão que se aglomera na referida artéria, causando 4 mortos e dezenas de feridos.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Diário do 25 de Abril - 24/04/1974


Preparativos para a transmissão da senha para início das operações:
Álvaro Guerra é o elemento de ligação com Carlos Albino (ambos jornalistas do diário República), a quem pede a transmissão da canção «Venham mais Cinco» no Limite de 25 de Abril. Carlos Albino pede a Álvaro Guerra para devolver a resposta de que tal canção estava proibida pela censura interna da Renascença embora a censura oficial a tolerasse. Sugeridas alternativas, entre as quais e à cabeça, a canção «Grândola».

MFA. Preparativos para a Acção:
No início da manhã, Álvaro Guerra comunica a Carlos Albino a escolha definitiva da Grândola como senha nacional e a hora da sua transmissão no programa «Limite»: das 0h 20m para as 0h 22m. Carlos Albino contacta outro elemento da equipa do «Limite», Manuel Tomás. Por precaução e para evitar atrasos e imprevistos na emissão da senha, fazem todas as diligências necessárias à gravação de um alinhamento de programa com cerca de 10 minutos em que a leitura da primeira estrofe da Grândola aparecia ligada à leitura de outros textos. Pedem a um dos locutores habituais do «Limite», Leite de Vasconcelos, que grave esse alinhamento de textos, mas mantêm segredo sobre o verdadeiro destino dessa gravação.

Organização do posto de comando do MFA em Engenharia 1, na Pontinha.

NATO:
Várias unidades da NATO (StaNavForLant) chegam ao porto de Lisboa alegadamente para tomarem parte nas manobras aero-navais «Down Patrol», programadas para o dia 26 no Mediterrâneo. A Fragata portuguesa Almirante Gago Coutinho integra a força.

Preparativos para a transmissão da senha para início das operações:
Álvaro Guerra novamente serve de elo de ligação de Almada Contreiras com Carlos Albino, a quem comunica a escolha definitiva de «Grândola Vila Morena» como senha para o movimento militar. Carlos Albino garante a transmissão, sem que qualquer outro elemento do Limite soubesse da decisão. Carlos Albino adquire na então Livraria Opinião, a Madeira Luís, o disco "Cantigas de Maio" para garantia, sabendo que os estúdios e escritórios do Limite poderiam ser devassados pela polícia política, a qualquer momento. Desde Dezembro de 1973, havia indícios de que a PIDE preparava o assalto dos escritórios do Limite, na Praça de Alvalade.

Carlos Albino opta por chamar à colaboração o elemento da sua maior confiança no Limite e que era o responsável técnico e de sonoplastia, Manuel Tomás que adere por completo. Encontro decisivo com Manuel Tomás, para a execução da senha e garantia de transmissão contornando as duas censuras que o Limite enfrentava: a da Rádio Renascença e a oficial (um coronel que acompanhava as emissões em directo e visava previamente os textos). Carlos Albino e Manuel Tomás decidem sair dos estúdios para um local onde possam prosseguir com segurança o diálogo. Ajoelhados na Igreja de S. João de Brito e simulando rezar, Carlos Albino e Manuel Tomás combinam todos os pormenores técnicos da senha.


03h00 - O agente de ligação entrega ao major Albuquerque, do Centro de Instrução e Condução Auto 1 (CICA 1), as ordens de operações referentes às unidades da Zona Norte.

Madrugada – Recepção, no Regimento de Infantaria 14 (RI 14), em Viseu, da ordem de operações. O capitão Ferreira do Amaral transmite as instruções a Lamego e o capitão Aprígio Ramalho à Guarda.

08h00 - O capitão Castro Carneiro e o alferes Pêgo, do CICA 1, iniciam a viagem destinada a entregar as ordens de operações às unidades de Lamego (capitão Delgado da Fonseca), Vila Real (capitão Mascarenhas) e Bragança (Capitão Freixo).

08h30 - Os oficiais da EPC, ligados ao MFA, iniciam nas paradas, no maior sigilo, os contactos com os cerca de cinquenta graduados (oficiais subalternos do Quadro Permanente, alferes, aspirantes, furriéis e cabos milicianos), individualmente, comunicando-lhes que, se a senha e contra-senha forem para o ar, a operação decorrerá nessa madrugada.

c. 09h30 - O capitão Santa Clara Gomes, oficial de ligação, entrega ao major Cardoso Fontão a ordem de missão referente ao Batalhão de Caçadores 5 (BC 5).

10h00 - Álvaro Guerra comunica a Carlos Albino a escolha definitiva de Grândola Vila Morena como senha nacional, garantindo este a sua transmissão.

c. 10h00 - Otelo envia, da estação dos CTT da rua D. Estefânia, o telegrama cifrado a Melo Antunes, contendo o GDH.

11h00 - Carlos Albino adquire na então livraria Opinião o disco «Cantigas de Maio», para garantia, já que, desde Dezembro de 73 havia indícios de que a PIDE se preparava para um assalto aos escritórios do Limite, na Praça de Alvalade.
- O capitão Costa Martins contacta João Paulo Dinis e informa-o que o sinal foi antecipado em uma hora.

14h00 - O jornal República insere uma curta notícia, intitulada «LIMITE», com o seguinte teor: "O programa «Limite» que se transmite em Rádio Renascença diariamente entre a meia-noite e as 2 horas, melhorou notoriamente nas últimas semanas. A qualidade dos apontamentos transmitidos e o rigor da selecção musical, fazem de «Limite» um tempo radiofónico de audição obrigatória.»

14h?? - O major Neves Rosa comunica a Otelo que o último elemento de ligação tinha cumprido a missão.

15h00 - Encontro decisivo de Carlos Albino com Manuel Tomás (técnico da Rádio Renascença e um dos responsáveis pelo programa Limite que regressara de Moçambique com fama de democrata) para a execução da senha e garantia da sua transmissão. Refira-se que, sendo o Limite um programa independente, era obrigado a passar por duas censuras: a da Rádio Renascença e a oficial, esta última corporizada num coronel que acompanhava as emissões em directo e visava previamente os textos. Para maior segurança, retiram-se dos estúdios para um local seguro.

15h30 - Na Igreja de S. João de Brito, simulando rezar, combinam todos os pormenores técnicos da senha.

17h00 - Os tenentes Baluda Cid, Ramos Cadete e Silva Aparício saem da EPC e dirigem-se a Lisboa, com a missão de "controlar", "aliciar" alguns oficiais e tentar "inoperacionalizar" algumas viaturas blindadas do RC 7.
- Manuel Tomás convoca Leite de Vasconcelos (um outro responsável pelo referido programa, companheiro de Manuel Tomás em Moçambique), em dia de folga na locução do Limite, para «gravar poemas». Carlos Albino escreve textos para serem visados pelo censor.

17h30 - Os graduados milicianos da EPC ultimam os preparativos para a operação, designadamente quanto a material e equipamentos.

19h00 - Os censores na Rádio Renascença autorizam os textos e o seguinte alinhamento do bloco com a duração de 11 minutos: quadra, canção Grândola, quadra, poemas Geografia e Revolução Solar, da autoria de Carlos Albino, e a canção Coro da Primavera.

20h00 - Na Rádio Renascença, Leite de Vasconcelos procede à gravação dos textos que lhe são apresentados, desconhecendo o seu objectivo.

21h00 - Otelo entrega ao capitão António Ramos, no Jornal do Comércio, o conjunto de documentos finais e um saco com granadas. Pede-lhe para permanecer toda a noite junto de Spínola, juntamente com outros oficiais de confiança, assegurando-lhe que uma força militar iria garantir a segurança próxima da residência do general, sita na rua Rafael Andrade, ao Paço da Rainha.
- Os oficiais da Força Aérea (tenente-coronel Sacramento Gomes, majores Costa Neves e Campos Moura e capitães Correia Pombinho, Mendonça de Carvalho, Santos Silva e Santos Ferreira) que constituem o «10º Grupo de Comandos» reúnem-se em frente ao Grill do Hotel Ritz e iniciam a vigilância ao Rádio Clube Português

21h30 - Fecho da porta de armas da EPC. Os militares contactados, que haviam saído da unidade, fazem a sua entrada, trajando à civil, para não alertar os elementos da PIDE/DGS que rondam o quartel.

21h50 - O tenente miliciano Sousa e Silva, oficial da dia na EPC, é substituído nesta função, para poder tomar parte na operação.

c. 21h45 - O capitão Santos Coelho, do RE 1, junta-se aos seus camaradas do «10º grupo de comandos» e distribui-lhes armas e munições. Procede, em seguida, à leitura da ordem de operações e à recapitulação das missões.

22h00 - Otelo regressa ao RE 1, onde se farda. Recebe do major Sanches Osório os primeiros quatro comunicados, entregues por Vítor Alves, bem como a notícia de que o Regimento de Infantaria 1 (Amadora) não adere, deixando, assim, de garantir o cerco à prisão de Caxias e a protecção de Spínola. Entrega os comunicados ao seu adjunto para que este os faça chegar ao grupo de comandos que tomará o R.C.P.
- O capitão Salgueiro Maia, que vai comandar a coluna militar da EPC, na "Operação Fim Regime", dá início a uma breve reunião, no piso dos quartos dos oficiais, para dar a conhecer a Ordem de Operações, distribuir missões e definir detalhes para o desencadear da operação.

22h30 - No Posto de Comando encontra-se reunido o Estado Maior do Movimento das Forças Armadas, dirigido pelo major Otelo Saraiva de Carvalho e constituído pelos tenentes-coronéis Garcia dos Santos e Nuno Fisher Lopes Pires, major Sanches Osório, capitão Luís Macedo, adjunto operacional, e comandante Vítor Crespo, que assegura a ligação com a Marinha, garantida pela presença permanente do comandante Almada Contreiras no Centro de Comunicações da Armada (CCA). Contam, também, com a colaboração de quatro oficiais do RE 1 (Frazão, Máximo, Reis e Cepeda).

c. 22h48 - Uma falha técnica suspende, durante alguns minutos, a transmissão dos Emissores Associados de Lisboa, facto que causa natural apreensão nas largas dezenas de militares que aguardam ansiosamente o primeiro sinal para entrar em acção.

c. 22h51 - Restabelecimento da emissão dos E.A.L..

22h55 - 1ª senha: a voz de João Paulo Dinis anuncia aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74 «E Depois do Adeus». Era o primeiro sinal para o início das operações militares a desencadear pelo Movimento das Forças Armadas.

23h00 - Na Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas, os capitães Mira Monteiro e Oliveira Patrício e os tenentes Marques Nave, Cabaças Ruaz, Sales Grade, Andrade da Silva e António Pedro procedem à detenção dos comandante e 2º comandante da unidade, respectivamente coronel Mário Belo de Carvalho e tenente-coronel João Manuel Pereira do Nascimento, ocupam as centrais rádio e telefónica e assumem o controlo do quartel.
- Recolhem à Escola Prática de Infantaria (EPI) as forças que se encontravam em exercícios de campo.
- O «10º grupo de comandos» divide-se em equipas, distribuídas por 4 automóveis, para constituir patrulhas destinadas, além de manter a vigilância ao R.C.P., a observar as principais instalações das Forças de Segurança (GNR, PSP, LP e DGS), e dos quartéis da Calçada da Ajuda (RC 7 e RL 2):
- No BC 5 o major Cardoso Fontão comunica aos oficiais presentes o que está a acontecer e os objectivos do MFA. A adesão é total.
- O capitão António Ramos abandona as instalações do Jornal do Comércio e dirige-se para a residência do general Spínola, aonde acorreram, durante a madrugada, o tenente-coronel Dias de Lima e o major Carlos Alexandre de Morais.

23h25 - O capitão Garcia Correia chega à porta de armas da EPC, acompanhado do 2º comandante, tenente-coronel Henrique Sanches, que nessa noite havia convidado para jantar em sua casa, na expectativa de o aliciar para o movimento, o que se revelara infrutífero. Este, verificando que o oficial de dia fora substituído, ordena-lhe que retire imediatamente o braçal, no que não é obedecido.

23h30 - Henrique Sanches convoca para o seu gabinete o major Costa Ferreira, os capitães Garcia Correia e Correia Bernardo, o tenente Ribeiro Sardinha e o oficial de dia substituto, capitão Pedro Aguiar. O seu objectivo é demovê-los da acção revolucionária. No entanto, é informado da sua determinação em prosseguir a acção, bem como de todos os oficiais presentes nessa noite na EPC.

(Estes textos foram retirados dos Sites da Associação 25 de Abril e Instituto Camões)

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Visita à sede da PIDE no Porto


Conforme anunciado, decorreu, no passado dia 21, a visita à ex-sede da PIDE-DGS no Porto.

Joana Soares, jornalista do Primeiro de Janeiro, faz, na edição de hoje do Jornal, o relato do que lá se passou. A foto é de José Freitas.

Encontro dos que foram perseguidos pelo Estado Novo

“Não esteve no 25 de Abril? Nem sabe o que perdeu”

Opositores do fascismo salazarista. Ícones da liberdade. Abusaram da liberdade que havia no período que antecedeu o 25 de Abril. Estiveram em cativeiro, apanharam sovas da PIDE, e as marcas que carregam não transpiram um pingo de arrependimento. Pensaram-se loucos quando a liberdade lhes entrou pela rede da cela, nas instalações da ex-PIDE, no presente Museu Militar do Porto. Por favor, “não apaguem a memória”.

“Estou louco”. Estava no ano de 1974, do dia 24 de Abril deitado na cama, num quarto escuro, do estabelecimento da PIDE/DGS - Polícia Internacional e Defesa do Estado/ Direcção-Geral de Segurança na delegação do Porto, onde agora mora o Museu Militar.
Lá fora corriam palavras que não correspondiam à sua realidade. No seu entender aquela gente estava louca ou ele próprio, Jorge Carvalho, cognome «Pisco», 60 anos, “de tanto ter levado”, estava louco. “Morte à PIDE e seus apoiantes”, ouve Pisco, a tentar imaginar o que não podia ver. “Não pode ser”, exclamou para si mesmo. “Não percebia aqueles cantares. No recreio percebia que gente corria de lá p’ra cá”, Pisco dizia recorrendo aos retalhos de sua memória. “Há noite havia um cheiro a queimada” - quando não se pode ver, todos os outros sentidos ficam mais apurados. “Diziam-nos são manifestações, são flores queimadas”, tentavam enganar os sentidos de Pisco. Mas Pisco notava “à medida que avançava a noite e que o barulho” ecoava mais ferozmente pelo quarto que não era nada disso. “Foi o golpe de Spínola”, desvendou-se por fim. Depois viu-se “andar solto” pelo edifício “e ver pides”. Pisco chega, enfim, à varanda da sede da PIDE/DGS no Porto, e dali observou a Revolução dos Cravos, do povo, do 25 de Abril. E observou-se a ele mesmo: o último preso da PIDE no Porto. “Não esteve no 25 de Abril? Nem sabe o que perdeu”, jubilava Jorge Pisco. Estende-se na varanda do museu e recorda: “Foi daqui que vi os pides passar”. “Vi a Virgínia Moura [militante do Partido Comunista Português - PCP] a ser abraçada pelo advogado Arnaldo Mesquita, com tanta força que ela até caiu cheia de dores”, lembra Pisco incentivando uma gargalhada na sala do Museu Militar, onde se encontraram ex-presos, sejam políticos ou não, para trazerem ao presente a sua história passada.
No limiar do seu discurso, Jorge Pisco incita: “Isto [Museu Militar] devia ser Museu da Resistência já há muito tempo, e espaço de memória”.

“Não apaguem a memória”
Memória. A História tem que ver com esta palavra. Desfazer lugares é maquilhar a História. Perder a memória e perder traços do passado. Para “não apagar a memória”, como incentivou o coronel Manuel Pereira de Carvalho, responsável pelo actual Museu Militar. “Há factos que se podem apagar da memória”, preocupava-se o director do Museu, onde funcionou a PIDE. “Não apaguem a memória”, sublinhava o coronel, remetendo o recado para a juventude que vai percebendo menos e menos. “É preciso dizer sempre à juventude o que foi isto”, exortava. Enfim, “é preciso” continuar a “barafustar”. Para a memória ter o lugar dela - na lembrança, não no esquecimento. E, por isso, já está erigido o Movimento Cívico «Não apaguem a memória». Mas mesmo antes de falar sobre o movimento cívico, Manuel Pereira de Carvalho repetiu o trilho que aguardava a visita anual de todos aqueles que o conhecem de cor e salteado. “Começamos no rés-do-chão onde se resguardavam os presos, após o interrogatório, depois vamos visitar os gabinetes, onde funcionavam as enfermarias, e por fim vamos aos armazéns, onde eram as celas comuns”, explicava a agenda para a tarde, dando conta que este último espaço está decrépito e qualquer dia vai mesmo “cair”. “Às vezes não existe dinheiro para determinadas situações”, lastimou. E, por isso, “a memória vai ser mesmo apagada para sempre”. A assistência familiarizada com o local ansiava por aquele momento.
“Ainda tem a palavra PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa pelo Estado)? - perguntava um elemento do conjunto de visitantes. “Tem, tem” - ironizava o coronel, completando que “três ex-directores tentaram pintar a parede, mas é impossível aquela tinta continua ali”. Ou seja, a parede alinha com o recente movimento cívico - “não apaguem a memória”.

“As reuniões faziam-se como piqueniques”
Maria José Ribeiro é militante do PCP, e isto foi o passaporte para ser das primeiras e poucas mulheres, na altura do Estado Novo, a ser presa pela PIDE, torturada psicologicamente, com apenas 23 anos. Dos 23 anos aos 30, viveu assim - a ser torturada pela PIDE. Era considerada, então, “perigosa”. Não lhe falta uma vírgula para descrever os tempos “de malvadez” por que passou ao enfrentar o fascismo. E mesmo sentada no lugar, onde outrora foi maltratada, não lhe sobressaí pinta de arrependimento. Esta palavra não existe em nenhuma cara.
“Não estou comovida. Olho em redor e não reconheço este espaço”, atira Maria José, contrapondo que “a memória fica sempre, não se apaga assim”.
“Tenho 71 anos, e aos 23 vim para aqui pela primeira vez”, assim começou a ex-presa pela PIDE a sua história de vida. A sala silencia até ao último som. “Na época não era normal uma rapariga fazer parte dos grupos, e muito menos apanhadas pela PIDE”, diz. “As reuniões faziam-se como piqueniques”, conta Maria José, dando conta que inicialmente passava despercebido, mas depressa a PIDE alastrava o seu faro, ou então os “bufas” alastravam a sua boca, até à PIDE. “A PIDE detectava, torturava e prendia”. Estas palavras ganham outros contornos quando os espaços de tortura e prisão são (re)visitados. “Aqui são as salas onde a PIDE fazia os interrogatórios, e os outros presos esperavam à medida que ouviam os seus gritos”, comentava um visitante, a acompanhar os amigos ex-presos e ex-torturados pelo regime do Estado Novo.
Mas, naquela altura, Maria José não percebia o teor da prisão. A juventude não deixava. “Era natural conversar, porquê prender”, questionava. A ex-perseguida pelo fascismo português decidiu, “no meio de tantas detenções e perseguições”, não casar. “Tanta gente a ser presa, podia acontecer-me a mim”, reflectiu na altura. Mais tarde, decidiu levar avante a sua decisão - foi feliz durante 15 dias, porque a PIDE bateu-lhe à porta passados 15 dias de casar. “Uma malvadez”, repetia incansável Maria José. “Diziam que o casamento não ia sobreviver, a mim e ao meu marido”. “Uma tortura”. “Mas havia mais, muito mais e pior”, agudizava. Maria José falava em sustenido maior. A cada passo de avanço de cada palavra e a história agudizava, aumentava o volume, transpirava em dó maior - como numa orquestra.
“Numa manifestação, onde se queria tudo o que não se podia ter - a emancipação da mulher, a descolonização - senti uma mão nas minhas costas - era o meu pai”, relembra Maria José, “depois corremos os dois a rua 31 de Janeiro e ai, quando parámos, senti uma mão pesada”. “Fomos ambos levados”, reporta-se àquele tempo. Os pides afirmavam, parafraseados por Maria José, “são eles os cabecilhas”. “Uma pancadaria daquelas. De esquecer. Até insultos”, espelhava entre pausas. “Eu fiquei de joelhos, não podia levantar-me. O meu pai partiu a cabeça”, transpareceu. “Uma malvadez”.

Não sabe andar de bicicleta?
José Castro, deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal do Porto, recorda-se do “parlatório”, onde “os presos podiam ver os familiares e amigos, mas num espaço pequeno e através de uma rede”. “Quando aqui chegávamos tiravam-nos os cordões dos sapatos, o relógio e até os óculos. Ficávamos despojados dos nossos objectos”, conta Castro. O acto não é inocente, continua o deputado, “atribuía mais fragilidade ao preso”. “Estive aqui entre 6 a 20 de Abril de 1973, num período mais decente”, apelava à memória José Castro, para depois remeter para a razão que lhe serviu de bilhete para lhe bater à porta a PIDE. “Ocorreu uma acção de sabotagem aquando a candidatura de António Cruz para a direcção da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Fui chamado por causa disto”, partilhou, acabando por anunciar que “não houve explicação para a minha saída”. “No dia seguinte disseram que por ser Páscoa, poderia sair para estar com família”, citou a PIDE na altura.
Jorge Carvalho, de cognome «Pisco» revivia o edifício e a vida antes do 25 de Abril a cada cela e departamento cruzado. “Aqui era a enfermaria [hoje são os escritórios] onde o patife do Campilho, o médico, encharcou-me de álcool, depois de ter apanhado da PIDE”, agravou a voz e deplorou: “Ainda por cima quando me viu esmurrado perguntou-me se não sabia andar de bicicleta”. Mas quem Pisco não suportava era o «pide da brilhantina», como lhe chamavam: “Com ele ficávamos dois dias, dias, de estátua”. “Almoçávamos de pé, de frente para a parede, não nos podíamos mexer e se o fizéssemos, o que acabávamos sempre por o fazer, apanhávamos nas costas”, lembrava Jorge, o Pisco. Mas havia um que era mais benevolente. “Havia uns que a PIDE era um trabalho e que não nos faziam nada”. Mas pior do que a tortura da estátua, era mesmo a tortura do sono: “Adormecíamos, vinham, acordavam-nos para subir e descer as escadas, voltávamos para dormir, éramos novamente acordados, subíamos e descíamos as escadas”.
O director do Museu, reportava-se àquele lugar, o dos tempos da PIDE, como “sinistro”. “O antigo embaixador José Augusto Seabra conseguiu ludibriar a PIDE”, exortava Manuel Pereira de Carvalho. “Enviou um recado à mãe, que lhe trazia a alimentação, dentro da garrafa vazia do vinho a dizer, ajuda-me”, contava a história aos ex-presos, que davam sinal de confirmação com a cabeça. “Sim, porque a PIDE expressava sempre que não havia tortura”, lembrou. A PIDE negava os feitos, e “metia os bufas” nas celas juntamente com os outros presos para ver se caçava alguma coisa. Jorge Pisco apanhou dois: “Eu tinha metido um papel debaixo do bolo que veio dividido para comermos. Acabei por comer o papel para não ser apanhado”. “Quem foi?” vociferava Pisco. “Foram os dois bufas”, respondeu. O essencial ficou sublinhado, “não apaguem a memória”.

Jantares-convívio do 25 de Abril

Lembramos que amanhã, dia 24, se realiza o Jantar comemorativo do 25 de Abril da Associação 25 de Abril.O Jantar realizar-se-á a partir das 19:00 na FIL (Parque das Nações) e as inscrições podem ser feitas através do telefone 213241420, do FAX 213241429 ou para a25a.sec@25abril.org.

Agradecemos que os membros do Não Apaguem a Memória! nos comuniquem também a inscrição para paulacabecadas@sapo.pt.

Diário do 25 de Abril - 23/04/1974


A partir das dezoito horas, Otelo Saraiva de Carvalho entrega aos elementos de ligação as «Instruções Finais» e o «Anexo de Transmissões», em envelopes fechados e dissimulados no jornal A Época, operação realizada no Parque Eduardo VII. Entrega ainda alguns emissores receptores, destinados a equipar as unidades que não dispunham de aparelhos apropriados para entrarem nas redes de transmissão previstas.

Ao final da manhã, Álvaro Guerra, enviado por Almada Contreiras, encontra-se com Carlos Albino e comunica-lhe que o Movimento precisa de utilizar o programa «Limite», na madrugada do dia 25, para emitir o sinal de código para o desencadear das operações militares. O Movimento propõe a canção de José Afonso Venham mais cinco para funcionar como código. Carlos Albino sabe que essa é uma das músicas censuradas internamente na Rádio Renascença. Sugere outras alternativas, entre elas Grândola, Vila Morena.

Distribuição das «Instruções finais para as equipas de ligação», que incluem a «Hora H» e a senha e contra senha, e do Anexo de Transmissões.

Ficam definitivamente assentes as «Instruções Finais para as Equipas de Ligação» que Neves Rosa se encarrega de dactilografar. Delas constam data e hora do início das operações (25 de Abril, às três horas da manhã), algumas alterações às missões anteriormente recebidas pelas unidades, senha e contra-senha a utilizar pelas forças intervenientes (inicialmente «Fé imensa na vitória» e «Garantia melhor futuro» passam, respectivamente, a «Coragem» e «Pela vitória») e ainda outras instruções transmitidas a algumas unidades.

Reunião em casa de Vítor Crespo com a presença de vários oficiais da Armada. A Direcção do Movimento, aí representada por Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves , obteve a garantia da neutralidade dos Fuzileiros Navais.

Reunião no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, entre Otelo Saraiva de Carvalho, Garcia dos Santos e Jaime Neves. Fica pronto o Posto de Comando.

Álvaro Guerra é o elemento de ligação com Carlos Albino (ambos jornalistas do diário República), a quem pede a transmissão da canção «Venham mais Cinco» no Limite de 25 de Abril. Carlos Albino pede a Álvaro Guerra para devolver a resposta de que tal canção estava proibida pela censura interna da Renascença embora a censura oficial a tolerasse. Sugeridas alternativas, entre as quais e à cabeça, a canção «Grândola».

00h15 - Otelo Saraiva de Carvalho e Costa Martins, protegidos pelo major FA Costa Neves, avistam-se, no Apolo 70, com João Paulo Diniz. Este esclarece que apenas colabora no programa matutino Carrocel do R.C.P., razão pela qual não poderá emitir a senha pretendida. Obtêm, contudo, a garantia de transmissão do seguinte sinal, entretanto combinado, "Faltam cinco minutos para a meia-noite. Vai cantar Paulo de Carvalho «E depois do adeus»", através dos Emissores Associados de Lisboa (E.A.L), que apenas dispõem de um raio de alcance de cerca de 100 a 150 quilómetros de Lisboa. A limitada potência do emissor torna, assim, necessária a emissão de um segundo sinal, através de uma estação que alcance todo o País.- Deslocam-se, seguidamente, para junto da Penitenciária de Lisboa, onde aguardam que o ex-locutor do Programa das Forças Armadas em Bissau obtenha informação no Rádio Clube Português sobre a constituição da equipa que entrará de serviço na madrugada de 25. Este apura que o serviço de noticiário estará a cargo de Joaquim Furtado mas, conhecendo-o mal, não arrisca estabelecer contacto.

Manhã - Otelo carrega, no porta-bagagem do seu automóvel, estacionado na Academia Militar, os aparelhos rádio Racal, obtidos por Garcia dos Santos, que se destinam às unidades que não dispõem de material de transmissões, designadamente o Centro de Instrução Anti-Aérea e de Costa (CIAAC) e o Regimento de Cavalaria 3 (RC 3).

Final da manhã - Álvaro Guerra, contactado por Almada Contreiras em nome do Movimento para conseguir a emissão de um sinal radiofónico de âmbito nacional que sirva de código para o desencadeamento das operações, solicita a Carlos Albino, seu colega no República e um dos responsáveis pelo Limite - um programa independente que aluga tempo de antena à Rádio Renascença - a transmissão, no início da madrugada de 25 de Abril, da canção Venham mais cinco, de José Afonso. Carlos Albino pede a Álvaro Guerra para devolver a resposta de que tal canção estava proibida pela censura interna da Renascença. Sugere alternativas, entre as quais Grândola, Vila Morena.

15h00 - Otelo entrega ao major Neves Rosa os documentos finais para policopiar (anexo de transmissões, alterações de missão, indicação do grupo data-hora (GDH) de execução, modo de confirmação da Hora H e a senha e contra-senha a utilizar nos contactos com tropas). Esta missão é efectuada num período inferior a três horas, numa firma de artigos electrónicos na Rua Luciano Cordeiro, 78, pertencente ao referido oficial que coordena o sector da ligação operacional, coadjuvado pelo capitão Sousa e Castro.

Tarde - Encontro de Otelo com o tenente-coronel de cavalaria Correia de Campos, num bar na zona do Rego (Lisboa), onde o último aceita participar no Movimento e assumir o comando do Regimento de Cavalaria 7, coadjuvado pelos tenentes Cid, Cadete e Aparício, logo que concretizada a detenção dos oficiais superiores daquele regimento que deveria ser efectuada por grupos de comandos coordenados pelo major Jaime Neves.

18h00 - Otelo inicia, na Avenida Sidónio Pais, junto ao Parque Eduardo VII, a entrega dos sobrescritos lacrados contendo as instruções finais, bem como de um exemplar do jornal Época - porta-voz do regime, código escolhido para identificar as equipas de ligação (dois oficiais por unidade, circulando cada um na sua viatura e seguindo preferencialmente itinerários diferentes, de modo a prevenir diversas eventualidades) - e, ainda, em alguns casos, material de transmissões.

20h00 - Na residência do comandante Vítor Crespo, no Restelo, realiza-se uma reunião final de Otelo e Vítor Alves com representantes da Armada, nomeadamente os comandantes Geraldes Freire e Abrantes Serra, onde foi obtida a garantia da neutralidade das forças da Marinha.- O capitão Santa Clara Gomes, oficial de ligação, procede à entrega, na residência do capitão Teófilo Bento, da ordem de missão referente à Escola Prática de Administração Militar (EPAM).

2?h00 - Otelo decide pernoitar, por razões de segurança, no RE 1.

23h00 - Chegada a Santarém dos capitães Candeias Valente e Torres, oficiais do Movimento, portadores da ordem de operações para a Escola Prática de Cavalaria. Comunicam telefonicamente com o tenente Ribeiro Sardinha informando que já se encontram na cidade, na Pastelaria Bijou. Este contacta Salgueiro Maia.

23h30 - O capitão Salgueiro Maia desloca-se à Pastelaria Bijou, no Largo do Seminário, em Santarém, para se encontrar com os agentes de ligação.

23h55 - Na viatura de Salgueiro Maia, estacionada junto ao Jardim da República, é-lhe entregue a ordem de operações e acertados os últimos detalhes. Uma viatura da PIDE/DGS ronda a zona e segue o capitão à distância.

(Estes textos foram retirados dos Sites da Associação 25 de Abril e Instituto Camões)

domingo, 22 de abril de 2007

Manifestação do 25 de Abril


Há dois anos, no 5 de Outubro de 2005, um grupo de cidadãos reuniu-se junto da antiga sede da PIDE-DGS em Lisboa para expressar o seu protesto pelo apagamento de qualquer referência à memória histórica daquele local.

Desse acto nasceu o Movimento Não Apaguem a Memória!.

Desse protesto surgiu igualmente a possibilidade de corrigir o erro: inserir no vasto condomínio em que se está a transformar a antiga sede da polícia política um espaço que testemunhe a coragem da resistência democrática à ditadura e ao fascismo vulgar.


Das conversas havidas até à data com as diversas partes implicadas (o nosso Movimento, a Câmara Municipal de Lisboa e o promotor da obra) estabeleceu-se algum consenso tendo em vista a criação de um espaço dessa Memória no edifício:

O Não Apaguem a Memória! criou um grupo técnico para estudar a melhor solução para a concretização desse espaço;

a Câmara Municipal de Lisboa designou um vereador para dialogar sobre a matéria;

o Promotor imobiliário dispôs-se a aceitar trabalhar com esta equipa técnica e designou duas arquitectas para acompanhar os estudos.

No entanto, o que parecia dever resolver-se num prazo de tempo que não iria além de meses, arrasta-se desde Maio de 2006, numa situação em que o estado de ingorvenabilidade camarária influencia o andamento da construção do Núcleo Museológico da António Maria Cardoso, resultando num arrastamento absurdo e inaceitável.

Por isso decidimos repor o assunto na praça pública.

Nada melhor para isso do que o desfile do 25 de Abril, que celebra a data em que a PIDE-DGS foi derrotada. Em sangue e raiva, acentue-se, recordando aqui os cidadãos anónimos que nesse dia ali caíram, vítimas da derradeira barbárie dos torcionários do sinistro regime do “Estado Novo”.

Do Rossio, onde termina o desfile do 25 de Abril, partiremos para a Rua António Maria Cardoso. Ali reforçaremos o protesto do 5 de Outubro de 2005.

É preciso que a CML e o promotor se entendam de uma vez por todas sobre a definição jurídico-administrativa ao espaço de memória a instalar no espaço da antiga prisão fascista.

É preciso que o memorial em homenagem às vítimas da PIDE-DGS se torne realidade.
Como Vladimir Jankélévitch, também dizemos: Os deportados, os massacrados, só nos têm a nós para pensar neles. Os mortos dependem inteiramente da nossa fidelidade (L’imprescriptible, Ed.du Seuil).

A Concentração do Movimento para a Manifestação é às 14,30 horas na Av. Duque Loulé.

A Concentração para o desfile para a António Maria Cardoso é junto ao Café Nicola, após a Manifestação.


O Grupo de Ligação

Diário do 25 de Abril - 22/04/1974


- Reunião em casa de Vítor Alves de um pequeno núcleo de oficiais do Exército, da Força Aérea e da Armada. Melo Antunes lê a primeira versão do programa político do Movimento, sendo por todos aprovada.
- Melo Antunes comunica que, por ironia do destino, em resultado de um pedido seu, deferido apenas naquela altura (!), irá partir nessa noite para Ponta Delgada, devido a ter sido colocado no Comando Territorial .....dos Açores (CTIA). Fica combinado o célebre telegrama em código que o irá informar do grande momento: "Tia Aurora segue dia...Um abraço António".

- O comandante Almada Contreiras acompanha Melo Antunes ao aeroporto, sendo apresentado por este a Álvaro Guerra, jornalista do República.

00h01 - A partir do início deste dia, todos os delegados do Movimento nas unidades entram em estado de alerta, preparados para receber o contacto do agente de ligação, portador das instruções finais. - A Escola Prática de Transmissões (EPTm), localizada em Sapadores, recebe autorização do Estado-Maior do Exército (EME), por proposta do tenente-coronel Garcia dos Santos, para o estabelecimento de uma linha directa com o RE 1, da Pontinha, numa extensão de 4 quilómetros. Inicia-se, sem demora, a sua instalação, efectuada por uma equipa comandada pelo furriel Cedoura, que ficará concluída em menos de 24 horas. Tal iniciativa viria a permitir ao Posto de Comando do MFA o acesso permanente às escutas das redes de transmissões militares e das forças de segurança, missão de apoio técnico cometida à primeira unidade militar, em que se destacaram os capitães Fialho da Rosa, Veríssimo da Cruz e Madeira.
c. 11H00 - O capitão FA Costa Martins contacta João Paulo Dinis, no Rádio Clube Português (R.C.P.), por incumbência de Otelo, que o tivera como subordinado no Comando Chefe na Guiné, com o objectivo de emitir um sinal radiofónico para desencadear o movimento. O radialista, que desconhecia o emissário, desconfia da sua identidade, mas aceita, depois de muito instado, aprazar um encontro entre os três, nessa noite, num bar lisboeta.
Noite - Reunião de Otelo, na Reboleira, com os grupos de comandos coordenados pelo major Jaime Neves.

Contactos do Movimento com elementos dos Emissores Associados de Lisboa e com a Rádio Renascença, para a transmissão de duas senhas através da rádio: «E depois do Adeus» de Paulo de Carvalho e «Grândola Vila Morena» de Zeca Afonso.

Junção do Anexo de Transmissões, elaborado por Garcia dos Santos, ao plano de operações do movimento militar.

(Estes textos foram retirados dos Sites da Associação 25 de Abril e Instituto Camões)

sábado, 21 de abril de 2007

Arraial do 25 de Abril


Arraial do 25 de Abril 2007

Lisboa - Largo do Carmo - 24 de Abril - das 18h ás 02h


O Arraial do 25 de Abril parte da iniciativa da Associação ABRIL, com a colaboração e participação de várias Associações e Grupos de carácter cívico e cultural e realiza-se na noite de 24 de Abril, no Largo do Carmo.

Um programa rico e diversificado, com ênfase na homenagem a José Afonso e com participações ao nível da música, poesia, artesanato, dança e gastronomia.

Esta Festa é também um apelo para que a chama dos ideais do 25 de Abril permaneça acesa no coração de todos.


Este evento conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, da Associação de Turismo de Lisboa, da Comunicasom e da Associação 25 de Abril.

O Movimento Não Apaguem a Memória! associa-se a este evento e, lá, terá uma pequena banca.

Diário do 25 de Abril - 21/04/1974


Encontro, na marginal em Oeiras, de Otelo e do major Moura Calheiros com os coronéis Rafael Durão (representante do general Spínola) e Fausto Marques, com vista a obter a adesão do Regimento de Caçadores Páraquedistas, comandado pelo último oficial, iniciativa que se revela inconclusiva.

(Este texto foi retirado do Site do Instituto Camões)

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Cartas a uma ditadura (ante-estreia)

O filme «Cartas a Uma Ditadura», de Inês de Medeiros, tem ante-estreia marcada para o próximo dia 23 de Abril, às 21h30, no Centro Cultural Malaposta (Odivelas).
A Malaposta solicita confirmação até dia 19 de Abril, visto a reserva estar sujeita à lotação da sala. Pode ser que ainda sobre algum bilhete...
«Cartas a Uma Ditadura» já foi exibido no DocLisboa de 2006 e dele já aqui falámos na altura. Fica aqui a sinopse do filme, a ficha técnica e contactos:
"Uma centena de cartas, escritas por mulheres portuguesas, em 1958, foram encontradas por acaso num alfarrabista que não as leu por achar que eram cartas de amor.
Respondem a uma circular enviada por um misterioso Movimento de apoio à ditadura do qual não há referência nos livros de história.
A circular a que respondiam nunca chegou a ser encontrada mas, pelas respostas que temos em mãos, percebe-se que era um convite para que as mulheres se mobilizassem em nome da paz, da ordem, e sobretudo em defesa do salvador da pátria: Salazar. Em todas as cartas, estas mulheres falam da gratidão e da admiração que têm pelo ditador.
Mas, como se a necessidade de falar fosse mais forte, por entre chavões e frases feitas, surgem por vezes o medo, a tristeza, o isolamento em que se vivia em Portugal nos anos 50. Uma costureira, muitas professoras primárias, donas de casa, algumas esposas de homens importantes do regime assinam as cartas.
Ao confrontar, hoje, estas mulheres com os fantasmas do passado, e graças a um material de arquivo inédito, Cartas a uma ditadura é um mergulho perturbador no obscurantismo que dominou Portugal por mais de 50 anos.

FICHA TÉCNICA:
Argumento e realização Inês de Medeiros
Ideia Original António Mendes Godinho / Sérgio Tréfaut
Consultora Histórica Irene Flunser Pimentel
Produtor Sérgio Tréfaut
(Portugal - Faux)
Co- Produtores Aurélien Bodinaux / Jean Christophe Zelis
(Bélgica – Néon Rouge Production)
Pascal Verroust
(França – ADR Production)
Música Original Anne Victorino D’Almeida
Montagem Inês de Medeiros / Dominique Pâris
Imagem Marta Pessoa / João Ribeiro
Som Raquel Jacinto / Armanda Carvalho
Narração Inês de Medeiros (Português e Francês)
Maria de Medeiros (Inglês)
Arquivos de imagem RTP – Radiotelevisão Portuguesa
ANIM – Arquivo Nacional das Imagens em Movimento
Arquivos de som RDP – Radiodifusão Portuguesa


Contactos de Imprensa:
Magda Gomes e Vera Almeida (Gabinete de Relações Públicas e Divulgação)
Centro Cultural Malaposta
Rua Angola
2620 - 492 Olival Basto
Telf.: 21 938 31 00"

Jantares comemorativos do 25 de Abril

Lembramos que hoje, dia 20, às 20h, no Espaço Ribeira (sito no Mercado da Ribeira) se realiza um jantar comemorativo do 25 de Abril. É a sua 5.ª edição e da Comissão Promotora fazem parte vários membros do movimento Não apaguem a Memória! (tels. de contacto: 213474098 - livraria do restaurante; 914548986 - Júlia Coutinho). A sessão contará com as intervenções públicas dos activistas do movimento arq.ª Helena Roseta e «capitão de Abril» Martins Guerreiro, além doutros membros da Comissão Promotora. José Afonso será evocado.

Diário do 25 de Abril - 20/04/1974


- Finalmente, na mais importante das reuniões, Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados das unidades da Região Militar de Lisboa (Lima), na residência, então vaga, do pai do tenente Américo Henriques, em Cascais.

- Conclusão do essencial dos textos políticos (em cuja redacção, coordenada por Vítor Alves, participaram Franco Charais, Costa Brás, Vasco Gonçalves, Nuno Lopes Pires e Pinto Soares, pelo Exército; Vítor Crespo e Lauret, com a participação menos activa de Teles e Contreiras, pela Marinha e a ocasional presença do major Morais e Silva e do capitão Seabra).

- A partir desta data, Otelo, que também assegura a ligação com Spínola, passa a efectuar os contactos, por razões de segurança, através do major de cavalaria na reserva Carlos Alexandre de Morais. São da lavra do general algumas das modificações introduzidas, nomeadamente a designação de Movimento das Forças Armadas (MFA), em substituição da versão anterior de Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA) e de Junta de Salvação Nacional (JSN) em alternativa à proposta de Directório Militar.

(Este texto foi retirado do Site do Instituto Camões)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

O Centro Republicano Almirante Reis faz 96 anos

O Centro Escolar Republicano Almirante Reis (CERAR) celebra o seu 96.º aniversário a 21 de Abril, sábado. Ali se realizaram importantes encontros da Oposição ao Estado Novo, nomeadamente reuniões do MUD.
O programa das comemorações inclui uma palestra sobre a implantação da República (às 18h) e um jantar (às 20h). Estará patente ao público uma exposição sobre a história do CERAR no contexto da história contemporânea de Portugal.
A sede do CERAR fica na Rua do Benformoso, n.º 77, Lisboa (metro Martim Moniz). Todos os que se quiserem associar às comemorações devem dirigir-se à Associação República e Laicidade.




Heróis da Resistência


Foi inaugurada a 14 de Abril, na Galeria de Exposições do Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira, a mostra fotográfica Heróis da Resistência, de Rogério Pedro.

Esta exposição, que se insere nas comemorações do 33º aniversário da Revolução dos Cravos, vai estar patente até ao dia 29 de Abril.

A ditadura, o fascismo, as prisões, as torturas, a censura, a guerra colonial são alguns dos temas retratados na mostra Heróis da Resistência.

Os museus da resistência no mundo

Uma efectiva política da memória da resistência à ditadura e da luta pela democracia deve incluir uma componente museológica.
Este tem sido o caminho trilhado internacionalmente, tanto nos países europeus que se libertaram da opressão dos países do Eixo como nos países latino-americanos que tiveram ditaduras militares sob a Guerra Fria.
Aqui ficam alguns exemplos e respectivos links, por países.
A maioria dos museus são museus da resistência, da memória da perseguição aos judeus ou a activistas políticos, do Holocausto, ou ligados à denúncia da tortura.
Alemanha: é inevitável falar dos campos de concentração nazis: sobre os lugares de memória relativos aos campos de Buchenwald e Mittelbau-Dora vd. o labor da Fundação da Memória de Buchenwald e Mittelbau-Dora, que articula investigação com divulgação científicas. Também a Fundação da Topografia do Terror fornece informação sobre os crimes contra a Humanidade perpetrados pelo regime nazi.
Argentina: relativamente à Ditadura Militar argentina (1976-83), foi criado recentemente um Museu na sede do tenebroso campo de concentração e tortura Escuela de Mecánica de la Armada (ESMA), de que demos conta aqui.
Brasil: quanto ao caso brasileiro, existem vários memoriais em homenagem às vítimas da Ditadura Militar local (1964-84), o mais importante dos quais é o Memorial da América Latina, concebido pelo arq. Óscar Niemeyer. Ignoro se existe algum museu específico. Existem várias associações activas, incluindo as relativas às lutas estudantis, que tiveram forte eco internacional, sobretudo a de 1968.
Chile: o caminho da memória da resistência à Ditadura militar de Pinochet (1973-90) tem sido mais difícil, e só possível graças à acção de associações cívicas como a Corporación de Promoción y Defensa de los Derechos del Pueblo, a qual foi fundada em plena Ditadura militar de Pinochet (1980), a Derechos Chile e o Proyecto internacional de Derechos Humanos, criado em Londres.
Espanha: em homenagem às vítimas da Guerra Civil (1936-39) foi criado o Museu da Paz, da Fundação Museu Guernica, no País Basco. Refira-se ainda a assumida criação do Centro Documental de la Memoria Histórica, por pressão da sociedade civil (vd. aqui e aqui), e a recente inauguração, em Madrid, de um memorial às vítimas do Holocausto, da autoria de Samuel Nahon (vd. Sofia Branco, «Parque de Madrid acolhe escultura em memória do Holocausto», Público, 16/IV, p. 15).
EUA: aqui os principais memoriais são relativos às guerras da Secessão e do Vietname. Ademais, existem inúmeras associações de defesa dos direitos cívicos, das minorias e do Holocausto; sobre estes vd. o excelente site The Holocaust History Project.
França: destaque para o Musée de la Résistance Nationale, com sede em Paris (Champigny-sur-Marne) e 7 núcleos dispersos pelo país (em Bourges, Champigny, Châteaubriant, Givors, Montluçon, Varennes-Vauzelles e Nice). Edita a revista Notre Musée. Este museu é juridicamente representado por uma federação, a Fédération Musée de la Résistance Nationale, que agrega 12 associações de amigos, parte delas responsáveis pelos núcleos museológicos referidos. É uma rede reconhecida oficialmente, pelos Musées et des Archives de France e pelo Ministère de la Jeunesse et des Sports. O núcleo museológico de Nice chama-se Musée de la Résistance Azuréenne. Menção especial ainda para o Centre d'Histoire de la Résistance et de la Déportation, um museu criado na ex-sede da Gestapo em Lyon. Nele existe, segundo informação de Helena Romão, um espaço para exposições temporárias sobre ditaduras/resistências (presentes ou passadas) em todo o mundo.
Holanda: a Casa de Anne Frank e o Dutch Resistance Museum Amsterdam são os locais obrigatórios para quem visita Amesterdão.
Hungria: dos países do ex-Leste comunista, refira-se o Museu da Casa do Terror.
Itália: aqui cabe mencionar o Museu Virtual do Anti-fascismo e da Resistência (da Província de Arezzo) e o labor do Istituto Nazionale per la Storia del Movimento di Liberazione in Italia, que tem ramificações por todo o país.
Japão: há vários museus relativos às vítimas da II Guerra Mundial, destacando-se o Museu da Paz de Hiroxima e o Peace Osaka, de que demos informação aqui.
Paraguai: destaque para a actividade da Coordinadora de Derechos Humanos, que desenvolve actividades por todo o país, inclusivé no Museu de Las Memorias, sedeado numa casa que funcionou como centro de tortura durante a Ditadura de Stroessner (1954-89) e que foi transformada em memorial do sofrimento, após muita luta das organizações de direitos humanos. Embora com material rico e interessante este museu conta só com o apoio da sociedade civil (vd. aqui).
Reino Unido: a especialidade britânica relaciona-se com a História oral, onde se evidencia o Refugee Communities History Project e o projecto Voices of the Holocaust do British Library. Saliente-se ainda a Exposição dedicada ao Holocausto patente no Imperial War Museum, que aí se mantém desde 2000, devido à grande procura.