domingo, 15 de junho de 2008

Suspensão do Blogue

Por decisão da Direcção da Associação Movimento Cívico «Não Apaguem a Memória!», este blogue suspende hoje a sua actividade.

Os objectivos que procurou atingir serão em parte assegurados pelo «site» da Associação. Num outro registo, serão complementados por um novo blogue que acaba de ser lançado, «Caminhos da Memória», não institucional – na medida em que não vincula a Associação nem os seus Órgãos Sociais –, mas cujo núcleo redactorial é, na sua maioria, constituído por sócios do NAM.

A ligação à Associação fica assim assegurada, bem como a identificação com a sua missão e a promoção, na blogosfera, da sua presença e das suas actividades.

Esperamos que «Caminhos da Memória» possa vir a ser uma montra da nossa procura constante de dar voz a diferentes formas de lembrar, de evocar e de interpretar o passado, recorrendo a leituras contemporâneas da história e da memória.

Endereço do novo blogue:

«Caminhos da Memória»


P.S.– Este blogue continua disponível para consulta, mas deixarão de ser publicados novos comentários.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O 10 de Junho, o chefe de estado e a sua memória

Um Texto de RUI FERREIRA

Aníbal Cavaco Silva, cumprindo o seu turno como chefe de estado, veio, neste dia 10 do mês de Junho, contribuir, uma vez mais, para motivar os seus concidadãos para a acção cívica e luta política.

Já como testa do poder executivo, Aníbal Cavaco Silva (ACS) havia motivado uma geração de alunos do secundário e do superior (sempre tão distraídos com rituais académicos e roques no rio ou noutros sítios) a vir para a rua gritar, nesse caso contra os seus visionários (e visionária) ministros da educação e respectivas políticas de acesso ao financiamento do ensino superior. Daquele impulso motivador ficou, como se sabe, a denominada “geração rasca”, uma das mais politizadas depois do 25 de Abril porque lhe foi mostrado que o conceito de aparato repressor do estado não é uma mera abstracção tardo-marxista; é o que emerge do processo de negociações, mesmo em democracia, quando a tutela se aborrece com a conversa.

Agora, ACS veio informar-nos que comemora (?) o “dia da raça”(!). A mim, o termo “raça” provoca-me a evocação das chegas de bois das regiões do Barroso ou de Miranda do Douro. Aparentemente, as chegas são muito úteis para aprimorar as respectivas raças e para melhorar as também respectivas postas, vianda a servir em sangue com acompanhamento a gosto. Aliás, a metáfora do sangue é útil: toda a proposta eugénica acaba em sangue, literalmente, e no prato, no caso bovino (que, de resto, tendo a dispensar) e, o que é infinitamente mais triste, também literalmente no caso humano, como atestam o Shoa, a Nakba, o genocídio Arménio,… a lista seria infindável.

O solarengo feriado do chefe de estado obriga-nos a colocar algumas questões e a proceder a uma reflexão. ACS é racista?… nada leva a crer, concedo. ACS é fascista?… espero bem que não. ACS tem automatismos psíquicos que, sob pressão, o levam a recuperar o vocabulário e os conceitos aprendidos nos bancos da escola sob o crucifixo e o retrato vigilante do senhor de Santa Comba? aparentemente sim, e aqui temos material para reflectir, especialmente porque as suas funções de estado o devem colocar frequentemente sob pressão.

Lembremo-nos que, se a memória é a matéria-prima da história (Jacques le Goff), a matéria-prima da memória são as micro-narrativas que se constituem quando se interpreta e se racionaliza a experiência. Se é evidente que a construção de qualquer narrativa histórica está sujeita a condicionamentos, desde logo por parte poder político, não é menos verdade que o processo de constituição da memória colectiva está sujeito a fortíssimas pressões. Este último é um processo que se desenrola na linguagem e que, portanto, é permeável a influxos, nomeadamente aqueles provindos da superstructura de um dado modo de organização social e cujo propósito ideológico é o de garantirem a subsistência desse mesmo modo de organização. Um exemplo concreto é precisamente a ficção engendrada pela máquina de propaganda do regime salazarista quanto à “raça portuguesa”, paternalismo racista, com vago enquadramento teórico na ideia de V Império, que leva, ainda hoje e apesar de toada a documentação em contrário, a que alguns portugueses pensem que o colonialismo português foi “mais brando” e que procurava uma comunhão de culturas.

Não sendo ACS conscientemente fascista ou colonialista, o seu lapso mostrou a eficácia do aparato de propaganda salazarista. A construção da memória faz-se, portanto, todos os dias e em conflito com ficções impostas, porque o passado não existe em si. E como a construção do aparato da memória social domina todos os problemas da evolução humana (André Leroi-Gourham), o futuro que queremos tem que ser desenhado hoje. Trabalhemos pois para salvaguardar a memória da resistência a para denunciar os aparatos fascistas que medraram durante o auto-denominado Estado-Novo. Muito trabalho ainda para o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória.


sexta-feira, 6 de junho de 2008

Assembleia da República aprova Resolução para a preservação da Memória da Resistência e da Liberdade

Os partidos uniram-se hoje na aprovação, por unanimidade e aclamação, de uma resolução para promover o conhecimento da luta contra a ditadura e pela democracia, por iniciativa do deputado do PS e capitão de Abril Marques Júnior.

Na hora da votação, os deputados de esquerda (PS, PCP, Bloco de Esquerda e PEV) e parte dos do PSD aplaudiram de pé, enquanto parte da bancada dos sociais-democratas e do CDS-PP optaram por bater palmas sentados.

O texto, subscrito pelos líderes de todas as bancadas, propõe o apoio, por parte do Estado, à criação de um Museu da Liberdade e da Resistência, com sede na antiga Cadeia do Aljube, em Lisboa e de um Roteiro Nacional da Liberdade e da Resistência espalhado pelo país de locais ligados à luta antifascista e à revolução de Abril de 1974.

Durante o debate, todas as bancadas exprimiram o apoio à resolução e aos seus objectivos, como permitir que as gerações que não viveram a ditadura conheçam a luta de quem se opôs ao regime de Salazar e Caetano.

Um dos objectivos traçado na resolução é a introdução, "ao nível do ensino, incluindo ao nível dos programas curriculares, dos valores da democracia e da liberdade através do conhecimento da história contemporânea, com referência ao período da ditadura, ao seu derrube em 25 de Abril de 1974 e ao processo de consolidação do regime democrático".

O deputado socialista Marques Júnior confessou que a aprovação da resolução foi "um dos momentos mais gratificantes" que viveu no Parlamento e em que se celebram "os ideais mais puros e sublimes" do 25 de Abril.

O PCP, através do líder parlamentar, Bernardino Soares, afirmou que a resolução e as propostas feitas são importantes para que se faça "um combate ao branqueamento do regime salazarista e fascista".

Já Guilherme Silva, deputado do PSD, realçou a importância da resolução para lembrar às novas gerações "a conquista da liberdade e da democracia" em 1974, afirmando que "o 25 de Abril vai muito além dos partidos", até "pelo consenso que [o texto] recolheu" no Parlamento.

Fernando Rosas, historiador e deputado do Bloco de Esquerda, justificou o apoio do seu partido à necessidade de, em democracia, se preservar a memória histórica e apelou à "celebração do longo caminho pela democracia em Portugal".

O deputado João Rebelo, do CDS-PP, registou a adesão dos democratas-cristãos à iniciativa de Marques Júnior e afirmou que a resolução, como os valores da liberdade, "é de todos partidos e não só de um".

Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista "Os Verdes", assinalou também que a aprovação do texto é "tanto mais importante quanto existe hoje um risco para o branqueamento da ditadura".

O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, qualificou a resolução como "uma homenagem àqueles que combateram pela liberdade, contra a ditadura".

A iniciativa da resolução, conduzida por Marques Junior, da discussão suscitada por uma petição do movimento "Não apaguem a memória" foi apresentada há mais de um ano.

Lusa 6/6/2008