segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O Fundo Carlos Vilhena (guia de fontes sobre a resistência-I)

No âmbito do pedido de informações às câmaras municipais do país, com vista à feitura dum guia de fontes sobre a resistência antifascista em Portugal por parte do NAM, chegou-nos informação relativa ao município de Santiago do Cacém, a cujos responsáveis da câmara municipal local aproveitamos para agradecer publicamente.
Neste município existem 2 fundos: o Fundo da Sociedade Harmonia de Santiago do Cacém, abrangendo o período de 1847-1983, e o Fundo Carlos Vilhena, abrangendo o período de 1921-1988.
Este último espólio, totalizando 17 cxs., contém documentação relativa à vida pessoal e às actividades do titular, Carlos Vilhena. O estado de conservação é regular. As condições de acesso e reprodução são as previstas na Lei 16/93 (de 23 de Janeiro), as normas de funcionamento do Arq.º Municipal e demais legislação aplicável. Existe um Guia de Fundos do Arquivo Municipal de Santiago do Cacém, disponível só para consulta presencial.
Eis uma biografia sucinta de Carlos Vilhena:
"Carlos Vilhena nasceu em Abela em 1889 e morreu em 1988. Pertenceu à guarda de honra do rei D. Carlos, participou na Primeira Guerra Mundial e foi um dos tenentes do 28 de Maio de 1926, integrando o Comité Revolucionário de Lisboa presidido por Mendes Cabeçadas. Chefiou, nessa qualidade, a força militar que encerrou o Parlamento em 31 de Maio de 1926. Participou no movimento reviralhista em Lisboa (26 de Agosto de 1931) e em muitas outras conspirações e tentativas de golpe militar contra Salazar. Esteve preso por diversas vezes. Foi um dos fundadores do Partido Trabalhista em 1945. Integrou a comissão central de candidatura de Humberto Delgado às eleições presidenciais de 1958. Fundou a Organização Republicana (1963) e foi membro activo da Liga dos Direitos do Homem e do Tribunal Cívico Humberto Delgado. Após o 25 de Abril de 1974 foi-lhe reconhecido o posto de coronel. E, em 1980, recebeu a Ordem da Liberdade".
Fica aqui ainda a bibliografia de apoio à biografia, também da responsabilidade do Arquivo da CM de Santiago do Cacém:
*MADEIRA, João (1996), "Carlos Vilhena", in Fernando Rosas & José Maria Brandão de Brito (dir.), Dicionário de História do Estado Novo, Lisboa, Círculo de Leitores, vol. II.
*MATTOSO, José (dir.; 1994), História de Portugal, Lisboa, Círculo de Leitores, vol. VII.
Por fim, registe-se a informação útil que nos chegou sobre a entidade detentora, o Arquivo da CM de Santiago do Cacém:
Endereço: R. Eng. Costa Serrão, 5-A, Santiago do Cacém
Tel.: 269829002
Fax: 269829008
E-mail: arquivomunicipal@cm-santiagocacem.pt
Horário: 3.ªs feiras (9h30-12h30, 13h30-18h30); 4.ª a 6.ª (9h30-12h30, 13h30-16h30); encerra aos sábados, domingos, feriados e 2.ªs.

domingo, 19 de agosto de 2007

Federico García Lorca


No dia 19 de Agosto de 1936 foi assassinado o poeta Federico García Lorca

O Poeta diz a verdade

"Quero chorar meu sofrimento e digo-o
para que tu me queiras e me chores
num poente de rouxinóis cantores,
com um punhal, com beijos e contigo.

Quero matar o único testigo
do assassínio destas minhas flores
e converter meu pranto e meus suores
num eterno montão de duro trigo.

Que não se acabe nunca esta madeixa
do quero-te e me queres, sempre encendida
com lua velha, com sol que se queixa;

Coisa que negas, por mim não pedida,
para a morte será, que jamais deixa
nem sombra pela carne estremecida."


Tradução de José Bento

Poeta e dramaturgo espanhol, Federico García Lorca nasceu a 5 de Junho de 1898 em Fuentevaqueros, Granada, e morreu em Viznar, Granada, a 19 de Agosto de 1936.

O filho mais velho de quatro irmãos do proprietário rural Federico García Rodriguez e da professora Vicenta Lorca Romero começa em 1914 os estudos de Direito, Filosofia e Letras na Universidade de Granada. Cinco anos depois muda-se para uma residência de estudantes em Madrid e, na capital, prossegue os estudos até 1928. Conhece os elementos da chamada “Geração de 27”, entre eles o cineasta Luis Buñuel, o mestre do surrealismo Salvador Dalí e o poeta Juan Ramón Jiménez. Em Madrid nascem as suas primeiras obras literárias: Libro de Poemas (1921) e a obra teatral Marina Pinedo (1925). Funda em 1928, em Granada, a revista literária Gallo, mas não serão publicados mais que dois números. O segundo número da Gallo publica O Manisfesto Anti-Artístico Catalão assinado por Dalí.

Habitado por uma alma de artista, a par da literatura, os interesses de García Lorca ligam-se à música e à pintura.

Logo que termina os estudos universitários em Madrid, García Lorca viaja até aos Estados Unidos. Estuda e dá conferências na Universidade de Columbia em Nova Iorque e dessa experiência nasce o livro Poeta em Nova Iorque (1929). Viaja depois até Cuba e Argentina. Da viagem a Cuba trará uma impressão muito forte.

De volta a Espanha cria o teatro Universitário ambulante “La Barraca”, que representa obras de grandes mestres espanhóis como Calderón, Cervantes e Lope de Vega.

No ano de 1936 os Franquistas conquistam o poder em Espanha e Federico García Lorca será uma das primeiras vítimas do regime nacionalista. Apesar de não pertencer a nenhum partido político, como artista moderno, escritor e homossexual Lorca é, por definição, um inimigo do regime ditatorial. No dia 19 de Agosto de 1936 Federico García Lorca era arrastado para um descampado e sumariamente assassinado com um tiro na nuca.

A bibliografia do escritor inclui os títulos de poesia: Poemas Del Cate Jundo (1921); Primeras Canciones (1922); Canciones (1921-1924); Romancero (1924-1927); Llanto (1935); Seis Poemas Galegos (1935); Diván del Tamarit (1936); e no teatro: El Maleficio de la Mariposa (1919); Marina Pineda (1925); La Zapatera Prodiogiosa (1930); Bodas de Sangre (1933) Yerma (1934); La Casa de Bearda Alba (1936).

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Agir contra a guerra colonial

A publicação de dois relatórios militares secretos acerca da guerra colonial no Boletim Anti-Colonial (BAC) é uma das acções de maior impacto em que participa o sector oposicionista do Estado Novo de formação católica. O BAC é um periódico clandestino criado em 1972, que pretende contribuir para «uma acção imediata, persistente e organização» contra a guerra colonial. O grupo que o edita forma-se dois anos antes, tendo publicado duas séries de textos anti-coloniais: uma temática (ao todo sete «cadernos» com uma tiragem de mil exemplares) e uma periódica (nove números). Um dos centros nevrálgicos da actividade é um centro de documentação instalado em dois quartos alugados na rua António Taborda.
Integram o «núcleo duro» do grupo Nuno Teotónio Pereira, dedicando-se à recolha de informação; Manuel Alves, economista, responsável pelo ficheiro bibliográfico; Pedro Soares Onofre, encarregado da distribuição das publicações; Luís Moita que redige e selecciona textos. Através deste último elemento, um ex-padre, o grupo estabelece contactos e intercâmbios de informação com a Comissão Pontifícia Justiça e Paz; o IDOC – Centro de Documentação e Informação internacional; e o cónego François Houtart, professor da Universidade Católica de Lovaina e director de um centro de documentação relativo aos problemas do «terceiro mundo». Outras pessoas colaboram pontualmente com o grupo: Maria Gabriela Ferreira, José Dias, Francisco Solano de Almeida, Fernando Abreu, Maria Luísa Sarsfield Cabral e o Pe. José de Sousa Monteiro. Este último é um jesuíta que trabalha próximo do arquivo, na sede da Brotéria, e fornece alguns documentos, que recebe do estrangeiro. O grupo BAC mantém relações informais com a LUAR e a FPLN, a qual integra a BR. A partir de Setembro de 1973, a FPLN é reestruturada e adopta o nome de PRP, mas a organização responsável pela luta armada, BR (Brigadas Revolucionárias), conservam o nome.
Em 1972 dois elementos deste grupo, Nuno Teotónio Pereira e Luís Moita, assinam A situação política portuguesa – o fracasso do reformismo. É um diagnóstico do fracasso da «primavera marcelista», em cuja lista de signatários se encontram comunistas, socialistas e católicos. Apesar do grupo ligado ao BAC nunca ter apostado numa reforma do regime «por dentro», ao contrário de outros opositores católicos com quem se encontravam em sintonia nos anos finais do salazarismo, assume a radicalização da luta anti-colonial como a única atitude coerente face aos impasses da guerra e da ditadura. É neste contexto que são divulgados dois relatórios militares secretos no BAC: o Relatório Anual de Informações do Comando Chefe das Forças Armadas, em Angola (Quartel General – 2.ª Repartição), de 1970, e o Breves considerações sobre alguns aspectos focados no Plano de Contra-Subversão, elaborado, em 1969, pela Direcção dos Serviços de Centralização e Coordenação das Informações de Angola (SCCIA).
Nuno Bragança (na foto), que trabalhava no Ministério dos Negócios Estrangeiros, é um elemento-chave da operação, ficcionalizada no romance Square Tolstoi (1981). É um livro precioso, quer como obra literária, quer como documento do imaginário de um opositor do Estado Novo com referências culturais, religiosas, políticas e sociais bem diferentes das que Manuel Tiago exprime nos seus romances e novelas. Aqui fica um excerto:
«Desde quando é que tu estendes a mão esquerda aos amigos por causa de uma pasta como nunca te vi usar, nem trazias à chegada?»
«A mão esquerda?»
«Ao teu técnico de som»
Fiquei calado. Depois sorri-lhe:
«Pazinha, então se queres ser uma menina muito boa, fica a ver-me embarcar depois não deixes de olhar para o avião. Se antes dele levantar for lá um automóvel, telefona para este número» - dei-lhe o número e o nome do Hugo. «Ele conhece toda a gente que conhece toda a gente que deve ser alertada se eu for dentro.»
Deixei cair o saco e a pasta (mas encostei a perna e esta). Agarrei a Marta e dei-lhe um beijo a sério.
Quando a soltei, ela assoprou. «São Sifrónio», disse. «Ele descobriu.»
«Descobri o quê?»
«Que ainda não tinhas feito isso hoje.» Baixou-se, pegou na pasta e no saco e entregou-mos.
«Vai, pazinho. Se não tiver havido denúncia não há problema. Eles não te vão abrir os envelopes.»
«Eh, os envelopes. Sabes o que é que está em cada um? Uma colecção de palas de pirata para o olho. Até já, o povo agradece-te.»
Segui até ter ultrapassado a Polícia sem problema outro que o de não sorrir quando eles me abriram a pasta a voltaram a fechá-la com indiferença sonolenta. Então virei-me para a Marta, levantei o braço esquerdo em adeus e tapei o olho direito com dois dedos. Depois mandei-lhe um beijo com ambas as mãos. Ela, de longe, fez-me cornichos.»
Nuno Bragança, Square Tolstoi, Lisboa, Assírio & Alvim, 1981, pp. 92-93

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

6 de Agosto de 1945


A 6 de Agosto de 1945 foi lançada a 1ª bomba atómica. Chamava-se Little Boy e provocou a morte a mais de 256.300 pessoas em Hiroshima, no Japão, a maioria das quais civis.

A bomba foi lançada de um bombardeiro B-29, o Enola Gay, pilotado pelo coronel Paul Tibbets Jr.

Destruiu tudo num raio até 2 km de distância, devastando toda a vegetação e infra-estruturas da cidade. O barulho da explosão foi ouvido a quilómetros de distância. Os sobreviventes circulavam pela cidade sem saber ao certo o que havia acontecido. Áreas mais distantes também foram afectadas depois de uma chuva que possuía grande quantidade de radioatividade, contaminando rios, plantações, lagos e pessoas.

Após alguns dias, os sobreviventes começaram a ser atendidos e levados para hospitais de outras províncias. Muitos, por falta de medicação adequada, acabaram morrendo lentamente e de forma agonizante. Anos após o ataque a cidade foi-se reconstruindo, e as imagens de terror apagadas das paisagens. Mas as lembranças deixadas ficarão para sempre na História e nas pessoas. Ainda hoje, passados 62 anos, os seus efeitos se fazem sentir em malformações e doenças.

Três dias mais tarde, foi lançada a bomba Fat Man sobre Nagasaki.

O papel dos bombardeamentos na rendição do Japão, assim como os seus efeitos e justificações, foram submetidos a muitos debates. Nos E.U.A., o ponto de vista que prevalece é que os bombardementos terminaram com a guerra meses mais cedo do que o poderia ter acontecido, salvando muitas vidas que seriam perdidas por ambos os lados se a invasão planeada do Japão tivesse ocorrido. No Japão, o público em geral tende a crer que os bombardementos foram desnecessários, uma vez que a preparação para a rendição já estava em progresso em Tóquio.

Nós acreditamos que nada justifica tamanha carnificina sobre pessoas inocentes.

Foi construído um museu eternizando os acontecimentos: O Memorial da Paz de Hiroshima.



O Memorial da Paz de Hiroshima, chamado Cúpula Genbaku (原爆ドーム) ou Cúpula da Bomba Atómica , localiza-se em Hiroshima, Japão.

  • Memorial


  • O edifício foi originalmente projectado pelo arquitecto japonês Kenzo Tange. Foi terminado em Abril de 1915, e intitulado Exposição Comercial da Prefeitura de Hiroshima (HMI). Foi inaugurado oficialmente em Agosto desse ano.

    O hipocentro da explosão atómica de 6 de Agosto de 1945 situou-se apenas a 150 metros de distância do edifício, que foi a estrutura mais próxima a resistir ao impacto. O edifício foi imediatamente preservado exactamente como se encontrava após o bombardeamento, e serve hoje como uma memória da devastação nuclear e um símbolo de esperança na paz mundial e eliminação de todas as armas nucleares.