sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Colóquio sobre o “Dever da Memória” III

Colóquio sobre o Dever da Memória

Carta a uma jovem portuguesa – revisitação

A propósito da realização do colóquio sobre o dever da memória para com a resistência antifascista, a realizar no próximo 5 de Dezembro no auditório do SPGL (18h), recuperam-se aqui algumas recordações desse tempo que caracterizam a mentalidade da época. No final propõe-se um contraste sarcástico, feito por uma mente libertária, de hoje e sempre, a propósito do que se escrevia nas revistas desse tempo e os modelos sociais que se propunham às mulheres.

No dia 19 de Abril de 1961 a Via Latina, revista da Associação Académica de Coimbra publicou uma Carta Aberta que tinha por destinatária “uma jovem portuguesa”. Era afectuosa e despreconceituosa. A revista foi objecto de uma polémica de tal modo feroz por parte dos sectores conservadores da sociedade portuguesa, com os jornais ultra-católicos Voz e Novidades a comandar as hostes, que a Via Latina foi obrigada a afastar o autor da Carta a uma Jovem Portuguesa, Marinha de Campos, para evitar o seu encerramento compulsivo pelas autoridades administrativas, por ultraje à moral pública.

O que dizia assim de tão escandaloso esta Carta? Transcrevem-se as partes principais (retiradas de Álvaro Garrido, Movimento Estudantil e Crise do Estado Novo, ed. Minerva, Coimbra, 1996):

Vou escrever para ti jovem portuguesa e particularmente para ti, jovem estudante da nossa cidade. Não tenho a fazer a apologia de qualquer tipo de ideal; ensinar-te qualquer doutrina, defender fanaticamente uma moral (…)
A minha liberdade não é igual à tua. Separa-nos um muro alto e espesso, que nem tu nem eu construímos. A nós, rapazes, de viver do lado de cá, onde temos uma ordem social que em relação a vós nos favorece. Para vós, raparigas, o lado de lá desse muro; o mundo inquietante da sombra e da repressão mental (…)
Só nos é permitido atravessar o muro para escolhermos. E eu escolho-te a ti jovem portuguesa (…)
Tu, vítima de todos nós e de ti mesma. Tu, vítima do nosso desejo não concretizado e portanto falseado e iludido (…)
Tens a inconsciente e mal definida sensação de que há um sistema social mais forte que tu ou eu e no qual devemos integrar, sob pena de ficarmos sós e desamparados. Há um determinismo social que te oprime e te define (…)
Viver dentro da juventude não se ensina, aprende-se vivendo. E a jovem e o jovem português não vivem dentro dela (…)
Jovem Portuguesa! Dou-te a minha mão e o meu corpo. Sinto os teus dedos, o teu braço. Sinto um corpo jovem junto do meu. Mas não sou um molde; sou um jovem diferente de ti. Um rapaz para quem o amor por ti é a concretização sexual, única diferença nas relações entre o homem e a mulher que devem decorrer no mesmo plano de homem para homem.


O autor desta Carta tornou-se advogado, afastou-se das lides literárias e nunca mais esqueceu a mágoa de ter ficado sozinho no meio da aridez de inteligência e generosidade que era o meio social do seu tempo. Ele, um humanista que politicamente tinha uma atitude discreta, estivera em Paris alguns meses e, quando regressara, o choque cultural com a realidade atávica do Portugal beato fê-lo lançar um grito de alerta e dor. Mas melodioso. Foi calado. Não esqueceu.

Há algumas semanas um anónimo libertário, para quem a memória não se deve apagar, pegou nalgumas “pérolas” da investigação que andava a fazer, enfiou-as num colar deu-as aos porcos, o que é uma maneira de dizer aos marialvas.

Porque o mundo de hoje se faz também com esta massa, que embora levedada tem tendência a azedar, mas sem a hipocrisia do falso pudor, aqui se reproduz este Canto de Saudade aos Homens de Hoje.

Para que não nos esqueçamos dos outros tempos…

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Colóquio sobre o “Dever da Memória” II

Deixamos aqui a biografia dos intervenientes no Colóquio já anunciado:

Joana Lopes
Nasceu em Moçambique, licenciou-se em Filosofia e doutorou-se em Lógica Matemática na Universidade de Lovaina (Bélgica). Pertence à geração dos católicos progressistas que se desenvolveu no Encontro, jornal da JUC (Juventude Universitária Católica), com Bénard da Costa. Mas o seu caso é particular, pois tendo chegado a Lisboa já no rescaldo da crise académica, em 1963, a sua participação, para além da docência na Faculdade de Letras de Lisboa, centrou-se na informação. Colaborou no Tempo e o Modo, de Alçada Baptista e Pedro Tamen, e, principalmente, no Direito à Informação, publicação animada por Nuno Teotónio Pereira e a sua mulher, Natália (já falecida), que surgiu sob a égide da encíclica Pacem in Terris, do Papa João XXIII. Esteve na fundação da cooperativa cultural Pragma, em 1964, que três anos depois foi encerrada pela PIDE, devido a um ciclo de conferências sobre a emigração.
A sua formação académica levou-a a especializar nas tecnologias da informação , nesse campo, fez parte da direcção executiva da IBM em Portugal e participou em diversas acções de formação em La Hulpe, no centro belga desta conhecida marca de material de informática.
Em Fevereiro deste ano pôs em livro as memórias e actividades do sector conhecido por católicos progressistas, com o título Entre as Brumas da Memória – Os católicos portugueses e a ditadura, onde coligiu documentação essencial sobre o percurso de alguns dos membros deste grupo, que os levou à luta armada para derrubar o regime corporativo do Estado Novo e muitos outros mais à prisão.

José Augusto Rocha
Pertence à geração da crise académica de 1961/62. Membro da direcção da Associação Académica de Coimbra (AAC) foi um dos organizadores do I Encontro Nacional de Estudantes, que se realizou em Coimbra de 9 a 11 de Março de 1962, contra a proibição ministerial, e se destinava a preparar o Dia do Estudante de 24 de Março. A proibição da realização deste evento desencadeou uma crise académica em Lisboa e em Coimbra, que teve repercussão nacional. A repressão fez-se sentir sobre centenas de estudantes, em particular sobre os mais expostos. José Augusto Rocha foi detido em 19 de Maio, com mais 38 colegas, e conduzido para a prisão de Caxias, acusado de ter participado na ocupação das instalações da AAC. Do processo disciplinar que daí resultou foi expulso de todas as Universidades do país por dois anos.
Humanista e homem de esquerda, foi, já advogado uma das figuras mais constantes nos famigerados “tribunais plenários”, na defesa dos presos políticos.
Nos tribunais plenários, “as sentenças estavam previamente fixadas, o diálogo era quase impossível e a margem de manobra era muito estreita”. Numa notável intervenção que fez na sede da Ordem dos Advogados [24/6/07], contou como os julgamentos atingiam “momentos dramáticos” e como foi “necessária muita coragem e muita determinação para travar combates desiguais em defesa dos presos políticos, pelos seus direitos, pela liberdade, contra a opressão e a violência”.
É a segunda parte dessa palestra que J. A. Rocha traz ao colóquio de 5 de Dezembro.

Fernando Rosas
Integrava a comissão pró-Associação dos Liceus quando eclodiu a crise académica de 61/62. Participou, a esse nível, na contestação estudantil, que se politizou e levou à contestação radical do regime corporativo de Salazar. Foi preso em Dezembro de 1964, por pertencer ao PCP, de que se afastou mais tarde, e fez parte dos acusados no processo dos estudantes de 1965, sem deixar de participar na luta político-estudantil. A denúncia dos crimes da guerra colonial e da política ultramarina do regime levou-o à fundação do MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado), de que se afastou já depois do 25 de Abril. Teve um papel activo na criação do Bloco de Esquerda, de que é deputado e por quem foi candidato à Presidência da República em 2001.
A sua carreira de historiador levou-o a interessar-se pela contemporaneidade do século XX, onde o Estado Novo ocupa um espaço de 48 anos e de que Rosas se tornou num dos mais importantes historiadores. Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, de que é catedrático, organizou em Novembro o curso História, memória e democracia, onde em discussão esteve o “dever de memória” e o exemplo espanhol foi largamente abordado, com a participação de académicos e políticos espanhóis, entre eles, Santiago Carrillo e Raul Morodo.
No decorrer de uma das intervenções que fez neste curso, Fernando Rosas deu conta de uma investigação que está a dirigir sobre os juízes dos “tribunais plenários” e do seu percurso na magistratura portuguesa.

Irene Pimentel
Pertence à segunda geração dos investigadores da nossa história contemporânea e História da PIDE (ed. Círculo dos Leitores), que lançou no final do mês de Outubro, é o seu mais recente contributo para esse estudo. O seu anterior trabalho, feito em conjunto com João Madeira e Luís Farinha, tratava, como o título denota, das Vítimas de Salazar – Estado Novo e Violência Política (ed. Esfera dos Livros, 2007). Em 2000 publicou um exaustivo estudo sobre História das Organizações Femininas no Estado Novo (ed. Círculo dos Leitores), abrindo novos caminhos para a investigação sobre a formação das mentalidades no Portugal do século XX.
Outro campo das suas investigações incide sobre a II Guerra Mundial, em especial sobre os refugiados que chegaram a Portugal, destacando-se, aqui, a obra que publicou em 2006, Em Fuga de Hitler e do Holocausto (ed. Esfera dos Livros).
Dentro do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! integra o grupo de trabalho que estuda a criação de um espaço de memória na antiga sede da PIDE/DGS, que se situava na Rua António Maria Cardoso, onde hoje se edifica um condomínio privado.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Colóquio sobre o “Dever da Memória” - I



O projecto de Resolução que consagra o dever da memória em letra de lei da República aguarda votação desde que foi discutido em plenário, no passado 30 de Março. Todos os deputados intervenientes saudaram o NAM! e concordaram com o parecer de resolução apresentado pelo deputados Marques Júnior.
A muitos parece inexplicável este comportamento, que adia por mais um ano a concretização, por parte do Estado de Direito, do dever de memória para com a resistência antifascista e democrática, cujo legado faz parte insubstituível da História do século XX.
O projecto de Resolução resultou da Petição apresentada pelo NAM! em 26 de Julho de 2006 ao presidente da Assembleia da República. Consideramos ser fundamental desfazer o impasse que se criou em torno da sua votação.
Por isso lançamos uma Carta Aberta aos Deputados e vamos organizar um colóquio sob o tema Dever de Memória, para recordar aos deputados a urgência em votarem o parecer que aplaudiram em 30 de Março.
O colóquio de Lisboa realiza-se no próximo 5 de Dezembro, das 18h às 20h30, no auditório do SPGL, Rua Fialho de Almeida nº 3 (Bairro Azul) - Metro S. Sebastião.

O formato será o de intervenções de cerca de 15 minutos para cada orador, pela seguinte ordem:

Joana Lopes: Os católicos e a imprensa clandestina
José Augusto Rocha: Os “tribunais plenários”
Fernando Rosas: Os arquivos e os juízes dos “tribunais plenários”
A historiadora Irene Pimentel será moderadora do debate.

Contamos consigo para que o colóquio decorra com o êxito esperado.

Planta da Rua Fialho de Almeida

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Carta Aberta - Dever de memória, é urgente!


O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! (NAM!) apresentou à Assembleia da República uma Petição onde se reclamava o respeito pelo "dever da memória" por parte do Estado.
Essa Petição, em forma de projecto de Resolução, foi discutida em sessão plenária no passado 30 de Março, tendo recebido de todas as bancadas parlamentares acolhimento positivo.
A votação devia realizar-se numa das sextas-feiras seguintes, dia em que são votadas as matérias consensuais. Infelizmente desde então aguarda-se o agendamento dessa Resolução para uma destas sextas-feiras.

Por isso, à beira do fim do ano, decidiu o NAM! desencadear um processo de sensibilização da opinião pública, no sentido de conseguir que antes do final de 2007 haja votação da Resolução, através de uma Carta Aberta aos Deputados.
Foi entregue na Assembleia da República no dia 22 de Novembro e foram seus primeiros signatários:

A. Borges Coelho (Historiador)
Ângelo Correia (Antigo deputado)
Carlos Brito (Antigo deputado)
Edmundo Pedro (Antigo deputado)
Fernando Rosas (Historiador e actual deputado)
Hélder Costa (Encenador)
Irene Pimentel (Historiadora)
Iva Delgado (Presidente da Fundação Humberto Delgado)
José Saramago (Prémio Nobel)
Martins Guerreiro (Almirante)
Nuno Teotónio Pereira (Arquitecto)

Carta aberta aos Deputados, aos Grupos Parlamentares e ao Presidente da Assembleia da República:

Em 5 de Outubro de 2005, um grupo de cidadãos que não se conformou com a transformação em condomínio privado da antiga sede da PIDE/DGS sem uma referência que evocasse a memória do mais sinistro local da repressão da ditadura, decidiu manifestar-se no local e exigir dos poderes públicos uma intervenção que traduzisse o Dever de Memória por parte do Estado Português.

Desta iniciativa cívica nasceu o Movimento Não Apaguem a Memória, um movimento aberto e plural, sem dependências partidárias, que tem desenvolvido, particularmente em Lisboa e no Porto, um conjunto de iniciativas, nomeadamente:

· apresentação de uma Petição com mais de 5000 subscritores dirigida à Assembleia da República para que o Parlamento vincule o Estado português a cumprir o Dever de memória;
· diligências visando a transformação da antiga prisão política do Aljube em museu da Resistência e da Liberdade;
· movimentações para a criação de uma área museológica no futuro condomínio privado em construção no local da antiga sede da PIDE/DGS, em Lisboa;
· acções tendentes à consagração do edifício onde funcionou a delegação do Porto da PIDE/DGS como local de memória da luta contra a ditadura na região do Grande Porto;
· contactos visando a transformação do antigo campo de concentração do Tarrafal num espaço de memória dos países da CPLP no seu processo de luta pela abolição da ditadura e do colonialismo e de conquista da liberdade e da soberania, através de entendimentos com o Presidente da República de Cabo Verde.

As iniciativas levadas a cabo pelo Movimento cívico Não Apaguem a Memória – exemplo a seguir pela sociedade civil – tem tido boa receptividade por parte do Governo, da Câmara Municipal de Lisboa, do construtor do referido condomínio privado e do Governo Civil do Porto.

Na sequência da Petição apresentada, o deputado Marques Júnior – um capitão do MFA que restituiu a Liberdade a Portugal, em 25 de Abril de 1974 – elaborou um projecto de Resolução parlamentar que foi discutido na generalidade em Março de 2007, reunindo largo consenso, e que aguarda aprovação desde então.
Urge que seja aprovada na Assembleia da Republica a Resolução que venha concretizar as legítimas aspirações da sociedade portuguesa, expressas pelo Movimento Cívico Não Apaguem a Memória!.

Por tal razão, vêm os subscritores desta carta aberta apelar aos Deputados, aos Grupos parlamentares e ao Presidente da Assembleia da República para que envidem os esforços necessários no sentido de permitir a aprovação ainda este ano da Resolução parlamentar que vincula o Estado português ao Dever de memória.

Memória de luta pela liberdade e pela democracia cujo exemplo deve ser salvaguardado para as novas gerações.

Porque sem memória colectiva não há identidade histórica, indispensável à construção do futuro.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Novas recensões a livros sobre a resistência anti-salazarista

Sairam na edição deste mês do Le Monde Diplomatique - ed. portuguesa recensões críticas aos livros Por teu livre pensamento e Entre as brumas da memória, ambas por Daniel Melo.
O livro Por teu livre pensamento é da autoria de Rui Daniel Galiza (textos) e João Pina (fotos), e recolhe um conjunto de testemunhos de 25 ex-presos políticos, contendo ainda notas biográficas sobre os mesmos.
O livro Entre as brumas da memória é um testemunho de Joana Lopes sobre a actividade dos católicos progressistas nos anos 60.
Às duas obras já aqui nos referiramos, aquando dos respectivos lançamentos este ano (vd. etiquetas na coluna da direita começadas com «livro», seguidas do título da obra correspondente).
Nb: imagem do Monumento aos presos políticos, escultura de Jorge Vieira.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Seminário "Memória & Testemunhos Orais"


A Fundação Mário Soares e o Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa realiza nos dias 22 e 23 de Novembro de 2007 um Seminário Internacional sobre o tema genérico Memória & Testemunhos Orais.

De acordo com o site da Fundação, o Seminário Internacional Memória & Testemunhos Orais pretende dar a conhecer e discutir o estado da arte em matéria de História Oral, recolhendo experiências nacionais e internacionais.

Esta iniciativa reúne especialistas de diferentes unidades de investigação e visa incorporar conhecimentos e práticas de outras áreas, designadamente da comunicação social, procurando ainda abordar os desafios que a História Oral suscita nos âmbitos arquivístico e dos direitos de autor.

  • O programa pode ser consultado aqui.
  • Exposição "Memória da Guerra Colonial"


    A Fundação Mário Soares inaugurou, no passado dia 12, a exposição Memória da Guerra Colonial com fotografias de Américo Estanqueiro.

    Do anúncio da exposição:

    Ao evocar aqui a memória da guerra colonial – a memória concreta que esta exposição apresenta – estamos a “revisitar” esses tempos e, segundo espero, a retirar as lições de tais acontecimentos e dos sofrimentos que a guerra provocou em todos nós. Mas também a olhar para o futuro de amizade e cooperação que hoje nos aproxima tanto desses povos irmãos, agora independentes. Daí, também, os esforços que a Fundação Mário Soares tem desenvolvido na preservação e divulgação da Memória histórica de Portugal e dos países da CPLP, com a certeza de que o que nos une é um instrumento essencial do progresso dos nossos países.

    Encontro Ibérico - Reflexões em torno de María Zambrano


    No próximo dia 22 de Novembro decorre no Instituto Cervantes, em Lisboa, o Encontro Ibérico - Reflexões em torno de María Zambrano.

    Filósofa de referência, María Zambrano nasceu em Málaga em 1904.

    Em 1921 iniciou estudos de Filosofia como aluna livre na Universidade Central de Madrid. Completou os estudos em 1927 e, em 1931 já era professora auxiliar de Metafísica na Universidade Central.

    Casou, em 1936, e partiu para Santiago de Chile.

    Já durante a Guerra Civil de Espanha, em 1937, no mesmo dia em que caiu Bilbau, María e o marido regressaram a Espanha.

    Ele alistou-se no exército e María passou a colaborar na defesa da República como Conselheira de Propaganda e Conselheiro Nacional para a Infância Evacuada.

    Em Janeiro de 1939 partiu para o exílio.

    Passou por Paris, Nova Iorque, Havana e México. Neste último país leccionou filosofia na universidade.

    Viveu em Paris de 1946 a1949 e depois Havana, de novo.

    Em 1953 regressou à Europa e escolheu Roma para viver até 1964, relacionando-se com intelectuais italianos e com espanhóis exilados como Ramón Gaya, Diego de Mesa, Enrique de Rivas, Rafael Albertie Jorge Guillén.

    Em 1964, publicou Claros do bosque.

    Fixou residência em Genebra, quando no seu país começou a ser apreciada, ao ser nomeada Filha Adoptiva do Principado das Astúrias.

    Em 1981 recebeu o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades. Em 1982 foi-lhe atribuído o título de doutora honoris causa. Em 1987 abriu a Fundação com o seu nome e em 1988 foi a primeira mulher a receber o Prémio Cervantes. Em português tem diversas obras traduzidas, nomeadamente O Homem e o divino e Os Sonhos e o Tempo.

    Morreu em Madrid em 1991.

    segunda-feira, 12 de novembro de 2007

    Os cantos do Zeca

    O cantautor José Afonso será homenageado este domingo com um espectáculo no Fórum da Maia, numa organização da Associação José Afonso.
    Aproveita-se para divulgar a informação sobre o mesmo inserta no blogue daquela associação:
    "No próximo dia 18, domingo, pelas 16 horas, no Fórum da Maia, vai ser levado à cena o espectáculo «OS CANTOS DO ZECA».
    Esta iniciativa da responsabilidade da Associação José Afonso (fundada em 18 de Novembro de 1987), por intermédio do seu Núcleo do Norte, mistura músicos, actores, técnicos, profissionais e amadores, com o objectivo central de celebrar a vida e obra de José Afonso e percorrer vários «cantos» do «poeta, andarilho e cantor».
    Os «CANTOS DO ZECA» significará prestar um tributo aos vários «cantos» por onde o Zeca passou: Portugal, África, Galiza.
    Os «CANTOS DO ZECA» significará, também, prestar um tributo aos vários «cantos» onde ele tem sido cantado por gente que faz da música e das palavras de José Afonso uma vontade de construir mundos sem muros nem ameias.
    Do Porto, de Castelo de Paiva, de Lisboa, do Alentejo, de Viana do Castelo, de Penafiel, de Braga, de Guimarães, da Galiza chegam cantores e actores que, principalmente durante este ano, têm sido «companheiros de estrada» do Núcleo do Norte da AJA.
    Os «CANTOS DO ZECA» significará, ainda, prestar um tributo aos poemas e canções que José Afonso nos legou como forma de, ainda hoje, conseguirmos perceber «o que faz falta».
    Num espectáculo construído e desenhado cenicamente pelo Núcleo do Norte da AJA, José Afonso vai «estar presente» porque com ele percorremos estes 20 anos de caminho.
    Os bilhetes, ao preço de 7,50€ estão à venda na Cooperativa UNICEPE (Praça de Carlos Alberto), Sindicato dos Professores do Norte (Rua D. Manuel II) e Sindicato dos Seguros (Rua do Breiner) podendo ser feitas reservas pelo endereço: ajanorte@gmail.com
    Contactos: Paulo Esperança (Telem. 917711964), José Carlos Pereira (Telem. 916090033)"

    domingo, 11 de novembro de 2007

    11/11/1975 - Independência de Angola




    Após 14 anos de guerra a independência de Angola foi proclamada por António Agostinho Neto, primeiro Presidente da República Popular de Angola e do MPLA.

    Foi às 23:00 horas do dia 11 de Novembro de 1975 que Agostinho Neto proclamava "diante da África e do mundo" a Independência de Angola.

    quarta-feira, 7 de novembro de 2007

    Blogger mais anciã do mundo é antifascista, galega e socialista

    É verdade, a blogger mais anciã do mundo é antifascista de velha cepa, galega e socialista. Chama-se María Amelia López, nasceu em Muxia (A Coruña) a 23/12/1911 e publica regularmente no seu blogue A mis 95 años, que criou com a ajuda do neto Daniel, em 2006. Ganhou esta 2.ª feira o Prémio Best of Blogs (BOBs) na categoria de blogues em língua castelhana.
    Numa entrevista que reproduz no seu blogue, López não tem papas na língua para descrever a barbárie franquista; veja-se esta resposta ao leitor Centauro:
    Abordou o franquismo em 4 posts (vd. aqui), referindo-se à Guerra civil (que trata como uma invasão, como diz acima), à fome e à violência política. Socialista desde jovem, nunca aderiu a um partido por saber que podia sofrer represálias por isso. Foi multada por se ter recusado a apoiar o movimento nacional falangista (vd. aqui).
    O seu blogue tem uma versão em língua portuguesa, que pode ser vista aqui.
    Aqui fica também o nosso reconhecimento pelo seu exemplo.
    Nb: o sup.º P2 do Público dedicou-lhe uma reportagem ontem, pela mão de Joana Amaral Cardoso (p. 10/11); a imagem foi retirada do próprio blogue.

    domingo, 4 de novembro de 2007

    Espanha e Portugal – o mesmo dever da memória


    As Cortes espanholas aprovaram no passado 31 de Outubro a Lei da Memória Histórica que reabilita as vítimas da ditadura franquista.

    A Assembleia da República tem para votação, desde 30 de Março deste ano, uma Resolução que nessa sexta-feira foi discutida em plenário sem oposição de nenhum grupo parlamentar.

    Esta Resolução, cujo parecer coube ao deputado Marques Júnior, foi suscitada por uma Petição apresentada pelo Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! (NAM!). Se querermos insistir em desnecessárias comparações, julgamos que é tempo do Estado português, representado na Assembleia da República, tomar uma posição de reconhecimento público e histórico sobre a resistência à ditadura do Estado Novo.

    Espaço de memória na sede da ex-PIDE/DGS (Rua António Maria Cardoso)

    O NAM! criou-se a partir de uma manifestação de protesto pela destruição da antiga sede da polícia política salazarista, sem que naquele edifício da “Antónia Maria Cardoso”, em Lisboa ficasse qualquer memória do que ele significou de abnegação e de sacrifício por parte dos milhares de cidadãos que ali foram interrogados, torturados pelos esbirros do fascismo português, designados por “pides” ou “bufos”, até à morte, em alguns casos.

    A partir daí foi possível criar uma base de trabalho com a Câmara Municipal de Lisboa e com o promotor imobiliário do novo edifício, no sentido de preservar, num espaço apropriado, a luta pela democracia, que aquele lugar também personifica. As conversações principiaram em 10 de Abril de 2006, tiveram algum desenvolvimento e permitiram delimitar o espaço destinado ao memorial, mas foram interrompidas pelas recentes eleições intercalares para o executivo camarário.

    O NAM! entendeu que passados quatro meses sobre a eleição do novo executivo (1/8/07) era tempo de reatar as conversações e solicitou uma audiência ao novo presidente do município, António Costa.

    O pedido foi prontamente anuído e na passada terça-feira, 30 de Outubro, uma delegação do Movimento foi recebida pelo Dr. António Costa. A audiência prolongou-se por mais de uma hora e permitiu repor na agenda que o NAM! tem com a CML a necessidade de preservar a memória da resistência na Rua António Maria Cardoso e, também, de noutros locais e de outros modos que nos assegure que as novas gerações não esquecerão o que foi a luta pela democracia em Portugal.

    António Costa afirmou o seu empenho e o do seu executivo em colaborar com os fins do NAM! e referiu, em resposta à exposição que lhe fora feita por Fernando Vicente, coordenador do Grupo de Trabalho da “António Maria Cardoso”, ser lógico que a CML assumisse a propriedade do espaço no imóvel destinado ao memorial como um seu condómino. Considerou, em princípio, que o desenho museológico desse memorial poderia vir a ser feito pelo NAM!, se assim o entendêssemos. Assumiu o compromisso de vir e a estudar com a restante vereação e respectivos serviços a melhor forma de poder ajudar na concretização do projecto. Assegurou que a CML iria em breve indicar ao NAM! um interlocutor para este assunto.

    A reunião permitiu abordar outros aspectos da afirmação do dever da memória no município de Lisboa, pondo Raimundo Narciso, que fazia parte da delegação, a tónica na organização temática dos “roteiros” que permitam a realização de passeios históricos nos lugares da cidade onde a defesa da democracia implicou a prisão, o espancamento e a morte. Em complemento a esta proposta frisou a necessidade deste conhecimento do passado fazer parte dos curricula escolares, designadamente das escolas que estão a cargos da CML. Pôs ainda na agenda a possibilidade de o NAM! vir a usufruir de uma sede num dos edifícios que a CML lhe possa disponibilizar. Esta foi uma proposta que António Costa considerou merecer reflexão, bem como a que fizera o terceiro elemento da delegação, Duran Clemente, quando deu conta da possibilidade dos lugares da resistência ficarem assinalados com lápides, como a colocada no Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa, por iniciativa do NAM!, a 6 de Dezembro de 2006, recordando que ali funcionaram os “Tribunais Plenários”, um arremedo de justiça, na realidade extensão do braços repressivo da PIDE/DGS.

    A prisão do Aljube – Museu da Liberdade e Resistência

    O NAM! recorda que no passado 19 de Outubro teve uma outra audiência com o ministro da Justiça, Alberto Costa, a terceira com este titular, que teve por objecto a conversão do edifício da antiga prisão do Aljube, em Lisboa, num Museu da Liberdade e Resistência ou num pólo destacado de uma rede de Museus nacionais sobre este tema.

    A conversa decorreu de modo francamente coloquial, com o Dr. Alberto Costa a referir o seu empenho de cidadão na concretização desse objectivo, mas recordando que a propriedade do imóvel era do Ministério das Finanças, que podia ter outros desígnios para aquele espaço. Acrescentou, no entanto, que enquanto ele estivesse afecto ao Ministério da Justiça e ele fosse o seu titular tinha uma total disponibilidade para encontrar com o NAM! um lugar condigno para a instalação desse museu, que ele também considerava necessário no Portugal democrático.

    No decorrer da conversa foram avaliadas as possibilidades de transformação do antigo Aljube num espaço museológico, tendo o ministro avançado com duas hipóteses a considerar:

    1. Através da constituição de uma fundação tendo o NAM! como referência estatutária, com o objectivo específico de criar e gerir o futuro museu. Nesse caso o papel do Estado seria unicamente o de ceder o espaço para o efeito;
    2. Ou assumir esse papel de instalação do museu através do Ministério da Cultura. Considerou, nesse caso, que o NAM! deveria projectar-se como um assessor privilegiado de consulta e aconselhamento na realização do projecto.

    No decurso da audiência foi levantada a possibilidade de ali vir a instalar-se a sede do NAM! , proposta que o ministro considerou de ponderar, para ela muito contribuindo a decisão governamental de transformar ou não o Aljube num pólo museológico “Resistência e Liberdade”.

    Tarrafal – colóquio internacional em 2009

    Passou no passado 29 de Outubro mais um aniversário sobre a instalação em cabo Verde do “campo da morte lenta” do Tarrafal, um campo de concentração criado em 1936 pelo Estado Novo, para aí poder isolar até ao fim os seus opositores mais determinados.

    Vale a pena referir que a efeméride foi assinalada pela RTP2, com um documentário de qualidade, assinado por Fernanda Paraíso e produzido pela Take 2000. Através dele pudemos seguir os percursos e motivações de cinco antigos “tarrafalistas”: Sérgio Vilarigues, Josué Romão (entretanto falecidos) e de José Barata e Edmundo Pedro.

    O NAM! , através do Edmundo Pedro, seu membro desde a primeira hora, está a participar na organização de um colóquio internacional, a realizar no 1 de Maio de 2009, dia em que em no ano de 1974 uma manifestação popular fechou o presídio do Tarrafal e de lá libertou os derradeiros presos dos movimentos independentistas africanos, lá detidos desde 1961.

    Este colóquio está a ser concebido com o apoio do Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires, e do Ministério da Cultura de Portugal. Tem como seus principais impulsionadores Edmundo Pedro e Pedro Martins, arquitecto cabo-verdiano a residir em Nova Iorque, ambos antigos presos do Tarrafal.

    António Melo

    Alexandre Babo in memoriam (1916-2007)

    Faleceu esta sexta-feira o antifascista Alexandre Babo, aos 91 anos de idade. O seu féretro está hoje em câmara-ardente na Igreja Paroquial da Parede e o funeral realiza-se amanhã.
    Alexandre Babo nasceu em Lisboa a 30/9/1916. Em 1933 ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa e em 1936 entrou para a Maçonaria, militando na Acção Anticlerical e Antifascista e no Bloco Académico Antifascista, onde lutou contra o salazarismo.
    Com Amaral Guimarães e Abílio Mendes fundou as Edições Sirius, em 1941, que deram uma relevante contribuição cultural. Após a guerra, muda-se para Paris, como delegado da revista Mundo Literário.
    Tornou-se militante do PCP desde 1943, tendo também participado no Socorro Vermelho, uma organização ligada à Internacional Comunista. Como advogado interveio em defesa de presos políticos nos julgamentos do Tribunal Plenário do Porto. Fez parte do Conselho do Porto do MUD e da Comissão Distrital da Campanha do General Norton de Matos, em 1948/9.
    Foi co-fundador e director do Círculo de Cultura Teatral e do Teatro Experimental do Porto, tendo neste convidado António Pedro para encenador. Em 1959 saiu do TEP para fundar o Teatro Moderno, com Luís de Lima e Fernando Gaspar, sediado no Clube dos Fenianos, também no Porto. Várias das suas peças foram proibidas e apreendidas pela censura salazarista, nomeadamente Estrela para um epitáfio (1961) e Jardim público (1972), bem como os seus livros de contos Autobiografia (1957) e Sem vento de feição (1972).
    Em 1960 muda-se para Londres, como correspondente do Jornal de Notícias e colaborador da BBC. Em 1964 regressa ao país, e funda O Palco Clube de Teatro, em Lisboa.
    Em 1973 é um dos fundadores da Associação Portuguesa de Escritores (APE), tendo sido sócio da sucessora SPA desde 1977. Co-fundou ainda a Liga para o Intercâmbio Cultural Social Científico com os Povos Socialistas, a Associação Portugal-URSS e a Associação Portugal-RDA.
    Foi colaborador regular das secções literárias de várias revistas e jornais. Entre a sua vasta obra literária, destacam-se as suas peças teatrais, os seus textos de crítica teatral e os livros autobiográficos Recordações de um caminheiro - entre duas guerras (1984), Recordações de um caminheiro - a longa espera (1993), Carlos Babo: o espírito da resistência (1995) e No meu tempo (1999).
    Fontes principais: Infopedia, SPA e Urbano Tavares Rodrigues («Alexandre Babo escritor e revolucionário», in Avante!, n.º 1386, 21/6/2000). Nb: imagem retirada daqui.

    quinta-feira, 1 de novembro de 2007

    O Movimento Cívico "Não Apaguem a Memória!" vai transformar-se!


    O Último Plenário (13º) em resumo:

    No 13º Plenário do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória!, realizado a 20 de Outubro de 2007, foi aprovada a transformação do Movimento em Associação.

    A proposta que consubstancia os termos deste processo, apresentada pelo Grupo de Ligação, estabelece os seguintes pontos:

    1 – Apresentar, até 15 de Dezembro, através da lista TODOS, um projecto de estatutos, um projecto de regulamento interno e um projecto de regulamento eleitoral da futura associação que salvaguardem os princípios e objectivos da Carta do Movimento, favoreçam a máxima participaçăo de todos os seus membros e preservem, tanto quanto possível, a melhor prática que já é património do Movimento.

    2 – Apresentar até 15 de Fevereiro de 2008, ao plenário, beneficiando do debate realizado, uma versão definitiva daqueles três projectos, previamente divulgada pela lista TODOS.

    Por proposta do Núcleo do Porto foi também aprovado, no mesmo Plenário, a constituição de uma Comissão Instaladora responsável pela elaboração dos projectos supra referenciados.

    Esta Comissão é constituída por:
    - Ana Gaspar
    - Fernando Vicente
    - Jorge Martins
    - José Luís Villalobos Filipe
    - José Machado de Castro ( Núcleo do Porto)
    - Lúcia Ezaguy Simões
    - Manuel Macaísta Malheiros
    - Paula Cabeçadas
    - Raimundo Narciso