Deixamos aqui a biografia dos intervenientes no Colóquio já anunciado:
Joana Lopes
Nasceu em Moçambique, licenciou-se em Filosofia e doutorou-se em Lógica Matemática na Universidade de Lovaina (Bélgica). Pertence à geração dos católicos progressistas que se desenvolveu no Encontro, jornal da JUC (Juventude Universitária Católica), com Bénard da Costa. Mas o seu caso é particular, pois tendo chegado a Lisboa já no rescaldo da crise académica, em 1963, a sua participação, para além da docência na Faculdade de Letras de Lisboa, centrou-se na informação. Colaborou no Tempo e o Modo, de Alçada Baptista e Pedro Tamen, e, principalmente, no Direito à Informação, publicação animada por Nuno Teotónio Pereira e a sua mulher, Natália (já falecida), que surgiu sob a égide da encíclica Pacem in Terris, do Papa João XXIII. Esteve na fundação da cooperativa cultural Pragma, em 1964, que três anos depois foi encerrada pela PIDE, devido a um ciclo de conferências sobre a emigração.
A sua formação académica levou-a a especializar nas tecnologias da informação , nesse campo, fez parte da direcção executiva da IBM em Portugal e participou em diversas acções de formação em La Hulpe, no centro belga desta conhecida marca de material de informática.
Em Fevereiro deste ano pôs em livro as memórias e actividades do sector conhecido por católicos progressistas, com o título Entre as Brumas da Memória – Os católicos portugueses e a ditadura, onde coligiu documentação essencial sobre o percurso de alguns dos membros deste grupo, que os levou à luta armada para derrubar o regime corporativo do Estado Novo e muitos outros mais à prisão.
José Augusto Rocha
Pertence à geração da crise académica de 1961/62. Membro da direcção da Associação Académica de Coimbra (AAC) foi um dos organizadores do I Encontro Nacional de Estudantes, que se realizou em Coimbra de 9 a 11 de Março de 1962, contra a proibição ministerial, e se destinava a preparar o Dia do Estudante de 24 de Março. A proibição da realização deste evento desencadeou uma crise académica em Lisboa e em Coimbra, que teve repercussão nacional. A repressão fez-se sentir sobre centenas de estudantes, em particular sobre os mais expostos. José Augusto Rocha foi detido em 19 de Maio, com mais 38 colegas, e conduzido para a prisão de Caxias, acusado de ter participado na ocupação das instalações da AAC. Do processo disciplinar que daí resultou foi expulso de todas as Universidades do país por dois anos.
Humanista e homem de esquerda, foi, já advogado uma das figuras mais constantes nos famigerados “tribunais plenários”, na defesa dos presos políticos.
Nos tribunais plenários, “as sentenças estavam previamente fixadas, o diálogo era quase impossível e a margem de manobra era muito estreita”. Numa notável intervenção que fez na sede da Ordem dos Advogados [24/6/07], contou como os julgamentos atingiam “momentos dramáticos” e como foi “necessária muita coragem e muita determinação para travar combates desiguais em defesa dos presos políticos, pelos seus direitos, pela liberdade, contra a opressão e a violência”.
É a segunda parte dessa palestra que J. A. Rocha traz ao colóquio de 5 de Dezembro.
Fernando Rosas
Integrava a comissão pró-Associação dos Liceus quando eclodiu a crise académica de 61/62. Participou, a esse nível, na contestação estudantil, que se politizou e levou à contestação radical do regime corporativo de Salazar. Foi preso em Dezembro de 1964, por pertencer ao PCP, de que se afastou mais tarde, e fez parte dos acusados no processo dos estudantes de 1965, sem deixar de participar na luta político-estudantil. A denúncia dos crimes da guerra colonial e da política ultramarina do regime levou-o à fundação do MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado), de que se afastou já depois do 25 de Abril. Teve um papel activo na criação do Bloco de Esquerda, de que é deputado e por quem foi candidato à Presidência da República em 2001.
A sua carreira de historiador levou-o a interessar-se pela contemporaneidade do século XX, onde o Estado Novo ocupa um espaço de 48 anos e de que Rosas se tornou num dos mais importantes historiadores. Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, de que é catedrático, organizou em Novembro o curso História, memória e democracia, onde em discussão esteve o “dever de memória” e o exemplo espanhol foi largamente abordado, com a participação de académicos e políticos espanhóis, entre eles, Santiago Carrillo e Raul Morodo.
No decorrer de uma das intervenções que fez neste curso, Fernando Rosas deu conta de uma investigação que está a dirigir sobre os juízes dos “tribunais plenários” e do seu percurso na magistratura portuguesa.
Irene Pimentel
Pertence à segunda geração dos investigadores da nossa história contemporânea e História da PIDE (ed. Círculo dos Leitores), que lançou no final do mês de Outubro, é o seu mais recente contributo para esse estudo. O seu anterior trabalho, feito em conjunto com João Madeira e Luís Farinha, tratava, como o título denota, das Vítimas de Salazar – Estado Novo e Violência Política (ed. Esfera dos Livros, 2007). Em 2000 publicou um exaustivo estudo sobre História das Organizações Femininas no Estado Novo (ed. Círculo dos Leitores), abrindo novos caminhos para a investigação sobre a formação das mentalidades no Portugal do século XX.
Outro campo das suas investigações incide sobre a II Guerra Mundial, em especial sobre os refugiados que chegaram a Portugal, destacando-se, aqui, a obra que publicou em 2006, Em Fuga de Hitler e do Holocausto (ed. Esfera dos Livros).
Dentro do Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! integra o grupo de trabalho que estuda a criação de um espaço de memória na antiga sede da PIDE/DGS, que se situava na Rua António Maria Cardoso, onde hoje se edifica um condomínio privado.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Colóquio sobre o “Dever da Memória” II
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2 comentários:
No que me diz respeito, tudo correctíssimo, excepto que nunca fiz parte do jornal «Encontro» (que, aliás, era só masculino...)
Obrigada.
A des(propósito)
"Acho tão natural que não se pense ..."
Por Mário viegas ... no " Caderno de campo "
saudações
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