Tal como referimos em post anterior, o Le Monde Diplomatique inclui 2 textos sobre o Japão, onde se aborda a II Guerra Mundial e o papel da memória histórica: «O santuário Yasukuni ou a memória selectiva do Japão» (de Tetsuya Takahashi) e «Ambiguidades nipónicas, ambiguidades europeias» (de Émilie Guyonnet).
Neste último texto fala-se das ambiguidades nipónicas quanto ao papel do Japão durante aquele conflito bélico, as quais se espelham nas distintas orientações museológicas: por um lado, o Museu da Paz de Hiroxima e o Peace Osaka vão no sentido duma memória histórica exigente e crítica acerca do Japão dos anos 1930-40, preocupando-se com a contextualização nacional e internacional e dando espaço tanto às vítimas de guerra como à política belicista nipónica de então; por outro lado, museus como o Showakan apenas se detêm na reconstituição do difícil quotidiano dos japoneses durante a guerra e o pós-guerra, sem qualquer contextualização e apesar da mensagem pacifista, de «nunca mais». Émilie Guyonnet também aborda o lugar da história nos manuais escolares, a propósito da polémica internacional gerada pela tentativa dos nacionalistas nipónicos em retirar daqueles a visão crítica sobre o passado imperalista nipónico.
Em suma, a tendência geral é a duma "mensagem pacífica mais centrada nas vítimas da guerra do que nas suas causas", para o que contribuiu a perpectiva do Tribunal de Tóquio e dos Aliados, que atribuíram as responsabilidades pelo militarismo apenas a um "pequena clique de militares" usurpadores do poder, como nota a jornalista Guyonnet. Nesse sentido, apenas 0,29% da população foi afastada dos cargos públicos (contra 2,5% nas zonas ocupadas pelos EUA na Alemanha desnazificada) e vários dirigentes voltaram às altas chefias.
Neste último texto fala-se das ambiguidades nipónicas quanto ao papel do Japão durante aquele conflito bélico, as quais se espelham nas distintas orientações museológicas: por um lado, o Museu da Paz de Hiroxima e o Peace Osaka vão no sentido duma memória histórica exigente e crítica acerca do Japão dos anos 1930-40, preocupando-se com a contextualização nacional e internacional e dando espaço tanto às vítimas de guerra como à política belicista nipónica de então; por outro lado, museus como o Showakan apenas se detêm na reconstituição do difícil quotidiano dos japoneses durante a guerra e o pós-guerra, sem qualquer contextualização e apesar da mensagem pacifista, de «nunca mais». Émilie Guyonnet também aborda o lugar da história nos manuais escolares, a propósito da polémica internacional gerada pela tentativa dos nacionalistas nipónicos em retirar daqueles a visão crítica sobre o passado imperalista nipónico.
Em suma, a tendência geral é a duma "mensagem pacífica mais centrada nas vítimas da guerra do que nas suas causas", para o que contribuiu a perpectiva do Tribunal de Tóquio e dos Aliados, que atribuíram as responsabilidades pelo militarismo apenas a um "pequena clique de militares" usurpadores do poder, como nota a jornalista Guyonnet. Nesse sentido, apenas 0,29% da população foi afastada dos cargos públicos (contra 2,5% nas zonas ocupadas pelos EUA na Alemanha desnazificada) e vários dirigentes voltaram às altas chefias.
O texto do investigador Tetsuya Takahashi tem tons mais pessimistas, o que se deve ao tema: o aproveitamento político-ideológico do santuário Yasukuni e a amnésia selectiva. Este recinto xintoísta foi erigido em 1839 em honra dos militares japoneses do período Meiji. Ficou como um lugar de celebração do nacionalismo japonês. Após a II Guerra Mundial foi separado do Estado, mas recentemente os sectores nacionalistas nele homenagearam os 14 criminosos condenados à morte pelo Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente (mais conhecido como Tribunal de Tóquio), em 1948, e que aí estão sepultados. Tal deu origem a uma polémica diplomática internacional, tendo cessado as visitas oficiais.
Para este autor a questão é mais abrangente e complexa: o passado belicista e as agressões cometidas contra outros povos nesse contexto recuam ao séc. XIX e ao colonialismo nipónico, mas há uma tendência para a história oficial se centrar no crescimento e afirmação do Japão enquanto potência nacional. Por condenarem o imperialismo japonês e por acharem que o colonizado não tinha o mesmo estatuto de vítima do colono, descendentes de soldados taiwaneses e coreanos forçados a combater no exército colonial nipónico pediram que os seus antepassados fossem retirados da «celebração comum» feita no santuário. Tal foi-lhes recusado pelos responsáveis do santuário, sob a alegação de todos terem a nacionalidade japonesa. Outros casos ensombram este santuário: dos 2,4 milhões de mortos aí celebrados, 2 milhões devem-se à guerra do Pacífico, tendo a maioria morrido em massacres ou à fome. Agora, o actual governo quer nacionalizar o santuário para também aí poder homenagear os eventuais mortos do exército que o Japão voltou a formar, ao fim de 50 anos de desmilitarização.
Nb: imagens do Osaka Peace, ou Osaka Internacional Peace Center.
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