"Das vésperas da crise da Universidade à proibição do Dia do Estudante, aos confrontos em que a estudantada se desfraldou por inteiro, num rasgo de coragem igual à dos nossos tempos e muito mais determinação perante uma inovadora polícia de choque, da algidez do grande luto académico aos desagravos dos grevistas de fome em plena cantina universitária, eu sentira crescer dentro de mim a tristeza da minha condição de já não estudante. «Há muitas formas de nos solidarizarmos e de os acompanhar», dizia Raul, enfiado na sua bata branca de médico interno, perscrutando do alto do hospital num assomo de alucinação um formigueiro enraivecido a deixar-se resvalar pelas paredes das faculdades para, a seguir, atravessar a passo de enterro os relvados cobertos de luto por entre clamores de estádio e assobios de rua, enfim perdendo-se nos descampados da cidade universitária. Era um clima de guerra em que os desarmados defendiam a unidade de hoje pela união de amanhã - lema da juventude estudantil, não por um dia, por uma vida, por um destino. «Sejamos precisos e realistas: por uma geração que fosse!»"
Orlando da Costa
(Os netos de Norton, Porto, Eds. Asa, 1994, p. 125/6)
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