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"Salazar no top diz-nos que a sociedade autoritária, repressiva, retrógrada, machista, fechada, pobre, colonialista e de guerra criada pelo ditador de Santa Comba se transformou na memória de muitos num paraíso de ordem, respeito e honestidade, gerido com bonomia por um burguês paternal de fato de três peças. O que nos lembra que a história se reescreve todos os dias, que as lições da história nem sempre se aprendem, que a democracia é frágil e que, por muito que isso nos repugne aceitar, há quem prefira ser escravo a ser livre.
Diga-se que há algo no formato do concurso que é desagradável em si e é lamentável que a estação pública de televisão tenha querido ser o seu promotor. O formato dos Grandes Portugueses e a eleição do «maior» de todos eles (com o repugnante slogan «Só há lugar para um!», à maneira da pior cultura popular americana), não se pode considerar que exalte os valores da cidadania. O formato escolhido (como, aliás, as escolhas feitas noutros países demonstram) já aponta à partida para alguém que se alcandorou a um lugar cimeiro, um lugar onde um ditador se sente certamente mais à vontade do que um escritor. Salazar sentir-se-ia (sentiu-se) à vontade neste lugar de «maior português de todos os tempos». Se lhe tivessem proposto o título, Fernando Pessoa engasgar-se-ia de riso, Luís de Camões de fúria e Aristides de Sousa Mendes sairia discretamente pela porta do fundo. É por isso que ocupam os lugares que ocupam. Que não precisam de epítetos".
(in Público, 27/III, p. 45)
Nb: outros textos específicos de José Leite Pereira, Cláudia Castelo e Daniel Melo.
1 comentário:
Eu que tenho orgulho no nosso passado histórico, de D Afonso Henriques à padeira de Aljubarrota, eu que tenho orgulho, não naqueles que partiram além fronteira, mas nos defenderam a fronteira, eu tenho de repensar o meu ponto de vista. Que gente é esta que elege como figura de top um ditador de má memória? Viveremos nós no mesmo país?
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