sábado, 23 de fevereiro de 2008

Autor italiano publica banda desenhada sobre a sede da PIDE


Acaba de ser editada em Itália, pela editora BeccoGiallo, uma banda desenhada cuja história roda à volta de um lugar tristemente famoso de Lisboa, a ex-sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso em Lisboa, revelou ao JN o seu autor, o italiano Giorgio Fratini.

Nascido a 23 de Novembro de 1976, é arquitecto, licenciado pela Faculdade de Arquitectura de Florença e esteve em Portugal pela primeira vez em 2000, para estudar Arquitectura ao abrigo do programa Erasmus.

A Lisboa voltou várias vezes e dessas estadias nasceu Sonno elefante - I muri hano orecchie, cujo título, diz, é uma metáfora sobre a perda da memória de um lugar, de um pedaço da história. Algo como o sono da memória, acrescenta Fratini, cujo traço a preto e branco, matizado de cinzentos, em que se destaca o tratamento realista dado aos edifícios, que contrasta com o tom semicaricatural das personagens, e a agradável e multifacetada composição das páginas, não deixam adivinhar tratar-se da sua primeira obra.

O ponto de partida para a história foi a descoberta de que a antiga sede da PIDE iria ser remodelada, dando lugar a um conjunto de apartamentos de luxo e lojas. Nada de especial, a acreditar nas palavras de uma personagem, logo nas primeiras páginas do livro E então? Um dia, há uma coisa, depois outra; é normal, não é?

A história, resume o autor, está ambientada poucos anos antes da Revolução dos Cravos e segue os destinos de Zé, Marisa, Leon, Maria e Afonso, ligados àquele palácio nefasto, como aconteceu a milhares de cidadãos portugueses comuns.
Entre eles há quem se oponha, quem traia, quem colabore, quem se anule e quem morra. E um deles, muitos anos depois, volta àquele lugar trazendo consigo o que considera impossível cancelar a própria história. E recorda o terrível passado do edifício, as crueldades que tiveram lugar dentro daquelas paredes, os gritos e lágrimas sufocados naqueles quartos, lutando, à sua maneira, contra a destruição da memória de todas as vidas ali perdidas na luta pela liberdade, conclui o editor, Federico Zaghis.

Uma história narrada ao longo de pouco mais de uma centena de pranchas, inspirada parcialmente em factos reais, trabalhados pela minha imaginação, para a qual Giorgio Fratini, para além da Internet, teve de fazer pesquisas no Arquivo da PIDE, na Torre do Tombo, e no Centro de Documentação 25 Abril da Universidade de Coimbra, bem como no arquivo fotográfico em linha da Câmara Municipal de Lisboa, fundamental para a iconografia dos anos 70 em que decorre boa parte de Sonno elefante, para já sem edição prevista no nosso país, embora haja alguns contactos com editoras portuguesas, revela o autor.
Fonte: Jornal de Notícias

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