quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril de 2007 - Desfile para a António Maria Cardoso

Aqui a liberdade venceu a tortura
Milhares de pessoas responderam afirmativamente ao convite do Movimento para prolongar o desfile do 25 de Abril até à Rua António Maria Cardoso, onde clamaram o seu desejo de a antiga sede da PIDE/DGS ser recordada como lugar por excelência da resistência à ditadura fascista do Estado Novo.
Numa silêncio, que deve sublinhar-se depois de um desfile colorido como foi o do 25 de Abril, ouviram com extrema atenção em os testemunhos de Fernando Vicente e Garcia Pereira sobre o significado da manifestação: assegurar realmente que no condomínio que ali se constrói se reserve um espaço museológico que recorde para a história o que foi a luta pela conquista da democracia.













Fernando Vicente, um dos presos políticos que mais sofreu a tortura do sono nos longos interrogatórios que ali se fizeram, foi directo e conciso na explicação que deu sobre o que era a polícia política do regime ditatorial.
Ali interrogava-se até à morte para arrancar aos detidos a confissão que interessa ao ditador para se perpetuar no poder. Ali se concentrava um sistema de devassa da vida privada de todos os cidadãos, que era alimentado por uma rede de bufos sem rosto, pela violação sistemática da correspondência, por um sistema de escutas arbitrário e sem controlo, por buscas domiciliárias selvagens, por cargas policiais brutais. Ali a única lei que comandava era a que a PIDE decretava.

Garcia Pereira deu o seu testemunho do dia 25 de Abril de 1974, quando ao fim da tarde um grupo de cidadãos se dirigiu à sede da sinistra polícia reclamando a sua extinção e por esta foi recebida a tiro. Recordou a rajada que ceifou de imediato quatro manifestantes e deu parte da sua convicção de que alguns dos feridos devem ter soçobrado, mas cujo falecimento deve ter ficado ignorado nos registos hospitalares. Recordou que quando chegaram as ambulâncias, das janelas da morte saíram duas granadas de fumos, para impedir o socorro às vítimas. Recordou que os únicos mortos que naquele dia da libertação ocorreram foram os praticados pelo polícia política fascista – nomeando o inspector da PIDE/DGS que comandou as acções homicidas, Óscar Cardoso.
Fernando Vicente
Garcia Pereira












Fernando Vicente em palavras sucintas explicou a motivação daquela concentração.
Há dois anos, no 5 de Outubro de 2005, um grupo de cidadãos reuniu-se junto da antiga sede da PIDE-DGS em Lisboa, para expressar o seu protesto pelo apagamento de qualquer referência à memória histórica daquele local. Desse acto nasceu o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! e surgiu igualmente a possibilidade de corrigir o erro: inserir numa parte do condomínio um espaço que testemunhe o papel da resistência democrática à ditadura. Deu conta dos contactos estabelecidos com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e o promotor imobiliário, e como foi possível estabelecer um protocolo tripartido no sentido de concretizar esse espaço de memória e lhe conferir a dignidade indispensável.
Chegado a esse ponto, o processo entrou num impasse devido à incapacidade da CML e o promotor chegarem a um entendimento suficientemente claro quanto à definição jurídico-administrativa a conferir ao futuro espaço museológico. As conversações arrastam-se desde Maio de 2006, daí a necessidade de repor o assunto na praça pública. Daí a justificação daquela concentração.
O Movimento, reforçado com a adesão popular que a sua iniciativa alcançou, vai insistir com os seus interlocutores para que assumam os seus compromissos e dêem os passos necessários para que o projecto museológico se torne numa realidade a muito curto prazo.
Por isso, e para lá destes contactos, o Movimento vai avançar para estudos concretos quanto ao desenho a conferir ao espaço – já referenciado – onde há-de construir-se a memória da liberdade que naquele lugar venceu a tortura.
O primeiro passo nesse sentido vai dar-se no próximo 16 de Maio, com a realização de um colóquio na sede da Ordem dos Arquitectos (Edifício dos Banhos de São Paulo – Travessa do Carvalho, 23, em Lisboa), onde o grupo técnico, que o Movimento já mobilizou para esse trabalho, porá em discussão pública as ideias que já concebeu para um espaço que se quer que seja um hino à liberdade e à democracia.

No final, num gesto espontâneo de respeito e amor, os cravos vermelhos foram colocados junto ao edifício.


14 comentários:

k7pirata disse...

25 de Abril, SEMPRE!

Anónimo disse...

Depois duma manifestação com estas características, na Rua do Carmo e no Rossio a polícia - que preservara no Marquês de Pombal o outdoor xenófobo - atacou e espancou algumas pessoas que se deslocavam a partir do Chiado. Os que não conseguiram fugir ou entrar em lojas (onde a polícia também entrava, batia e prendia), levaram bastonadas e soube há pouco que há 12 jovens presos, um dos quais ferido. Àqueles como nós que insistem em que a memória não se apague, estas situações lembram outras, cujo fim há 33 anos hoje fomos comemorar. Não deixa de ser espantosa a duplicidade de critérios da PSP, que num sítio monta guarda ao cartaz do pnr e no outro ataca os que retornam duma manifestação. Num estado democrático, não mereceria esta ocorrência um inquérito sério?

Anónimo disse...

As pessoas que foram presas estão a ser acompanhadas para sua própria defesa?

Há testemunhos de que a polícia carregou sem motivo para tal? É activá-los. Isto cheira a prenúncio de muita coisa que pode facilmente acontecer.

Anónimo disse...

info do blog: http://luta-social.blogspot.com/

Quarta-feira, Abril 25, 2007
Lisboa: 25 de Abril sob o signo da repressão e brutalidade policial
REPORTAGEM. por Manuel Baptista

A manif correu muito bem, sem incidentes até ao Largo Camões. As pessoas no Largo Camões tiraram fotos, gritaram uns slogans e algumas dispersaram. Outras ficaram mais um pouco e organizaram-se em marcha «de regresso». Assim, começaram a descer (em sentido inverso) o Chiado, virando na Rua do Carmo, umas cinquenta pessoas, gritando slogans anti-fascistas. Eu acompanhei a manifestação «de regresso» até este ponto. Verifiquei que os carros da polícia iam retirando à medida que os manifestantes se aproximavam, os três graduados da PSP, com os seus pingalins, desciam descontraidamente a uns metros à frente da manif. Não houve problemas até meio da Rua do Carmo. Na altura em que estavam os manifestantes a alcançar as escadas por de baixo do elevador de Sta Justa (a meio da Calçada), começaram eles -manifestantes- a fazer meia volta e acorrer calçada acima. Alguém os avisou que tinham sido encurralados. E assim foi. Carrinhas com polícias de choque às largas dezenas desceram em grande velocidade o Chiado, selando o alto da rua do Carmo, enquanto outras com igual força e os referidos polícias de choque subiam a rua do Carmo. Estes últimos desceram imediatamente dos carros, ainda antes destes travarem e começaram acorrer em direcção aos manifestantes, agredindo-os à bastonada enquanto estes tentavam escapar desesperadamente. Os que estavam perto, meros espectadores ou pessoas que acompanharam o cortejo de lado, ficaram também encurralados por polícias agressivos, com ameaça física a toda a gente, mas que batiam selvaticamente e sem hesitação em alguém que tivesse «aspecto» de manifestante. Vi polícias em grupos de cinco ou mais «dar caça» na baixa a manifestantes ou outras pessoas. Uma rapariga que ia a fugir, estava diante da Pastelaria Suiça, quando foi agredida, imobilizada no chão e arrastada sob prisão a 500 metros de distância para ser encurralada nos carros celulares. O mesmo passou-se com outros (eles não fizeram nenhum gesto agressivo, a fuga era para os polícias o «motivo» para perseguirem e baterem selvaticamente nessas pessoas). As pessoas que assistiram a isto tudo têm com certeza cenas de uma brutalidade inaudita para contar (é importante testemunharem para se apurarem responsabilidades) . Eu tentei evitar que as pessoas permanececem presas, tentei falar calmamente com o graduado da PSP. Este não ficou nada impressionado com o meu pedido, inclusive disse-lhe que o que estava a fazer era profundamente incorrecto e que ao menos soltasse as pessoas, pois não tinha a mínima legitimidade para as manter presas. As pessoas que foram presas, provavelmente foram brutalizadas todas no momento da prisão, pois eu verifiquei o modo de actuar da polícia em vários casos. Contaram-me que uma jovem ficou com o braço partido, o que não me espantaria. A actuação foi deliberada. Foi uma actuação destinada a instilar medo.
O que fizeram e comandaram os graduados da PSP foi obviamente premeditado.
Penso que eles cometeram um atentado à liberdade de manifestação e à integridade física de pessoas. É uma acusação grave mas posso (pudemos) prová-la.
Queriam mostrar que são eles que decidem o que é a lei, no 25 de Abril, em especial. Assim estão eles a «garantir» a segurança dos cidadãos.
Os manifestantes, não estavam a cometer nenhuma infracção grave, apenas estavam a gritar palavras de ordem e mais nada. A polícia, essa, cometeu desacatos e muitos...
Fascismo NUNCA MAIS... 25 de Abril SEMPRE !!!
O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO.

Anónimo disse...

È odioso condenável e repugnante, o procedimento traduzido em brutalidade, os métodos utilizados pela polícia dita e chamada de “democrática”, e que em nada difere da policia do odioso e sanguinário regime Salazar/Marcelo.

È preciso denunciar e desmascarar por todos os meios, ao nosso alcance, o silêncio que a impressa oficial, declaradamente e descaradamente e ao serviço do governo anti-Povo Sócrates/Cavaco, fez sobre os actos de violência que a “democrática” policia, ontem em Lisboa exerceu sobre elementos do Povo que se manifestavam de forma pacifica.

È urgente que se investigue, e encontre os responsáveis pela violência ontem exercida sobre os cidadãos que se manifestavam de forma pacífica, sejam julgados e condenados em local próprio.

O nosso Povo, tem de perder as ilusões com este governo anti-Povo Sócrates/Cavaco e de quem o apoia.

Este governo, mascarado de “Socialista” e saído das manhas e artimanhas desse mesmo partido, representa, repressão, opressão, censura, e mais miséria para o nosso generoso Povo e querido Portugal.

Qualquer cidadão, tem o legítimo direito de exigir a demissão deste governo, porque foi eleito na base de um programa, e na prática faz exactamente o contrário e ao fazer o contrário, há luz da constituição Portuguesa é uma fraude, que pratica contra o generoso e nobre Povo Português e ao nosso querido Portugal.

Por isso deve ser demitido! E os responsáveis por tal prática politica, bem como todos os que encobrem tal pratica anti-Povo devem ser, julgados e condenados exemplarmente e em local próprio.

Há que mobilizar todas as forças, para que a próxima greve geral se realize e vá em frente, e é uma boa oportunidade para se transformar num grande movimento e grande jornada de luta popular, e protesto, contra a política do governo anti-Povo Sócrates/Cavaco.

Bem-Haja e longa vida ao movimento NÂO APAGUEM A MEMÒRIA!

Abaixo a censura!

Abaixo o governo Sócrates/Cavaco!

O Povo Vencerá!

Anónimo disse...

As pessoas estão a ser ajudadas? Como é que podemos ajudar?
Solidariedade,

Anónimo disse...

“O apelo do Cavaco para que se mudem as formas de comemorar o 25 de Abril já deu os seus frutos: um grupinho da extrema-esquerda, conotado com o Bloco, resolveu vandalizar várias lojas e agredir quem passeava em liberdade pelas ruas”.
Quitéria Barbuda

www.riapa.pt.to

irene pimentel disse...

Reforço a pergunta da Paula Godinho
É necessário indagar o que se passou. Por mim, fui informada por uma jovem que participou nos «incidentes» do Chiado, de que um grupo se estava a limitar a comemorar o 25 de Abril, no dia...25 de Abril e que a violência não partiu deles mas da polícia, que terá espancado e prendido alguns
Não se pode deixar passar em claro e é necessário proceder a um inquérito

Anónimo disse...

Para quem estiver interessado, pode ver no You Tube o desfile de ontem, do Rossio até a Rua António Maria Cardoso, bem como e as declarações na integra do resistente Fernando Vicente e do Dr. Garcia Pereira.

Parte 1 http://www.youtube.com/watch?v=3RsjXmGZsvE

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Parte 2 http://www.youtube.com/watch?v=UQFjmzJh3Dc

Anónimo disse...

Recebido por e-mail via: "Marco Montenegro - riottheghost (at)riseup.net

"Caros Compas,

Há muito tempo que já tinha dado o aviso, pelo menos ao Miguel, e ele pode confirmar, que a bófia ia atacar a manifestação e fazer presos. Tudo estava planeado pela PSP há algum tempo.

Desde há muito tempo que existem relações evidentes entre elementos da PSP e da extrema-direita. De modo, que não iam deixar passar esta oportunidade.

Estar à espera que os media façam eco da versão dos manifestantes é
irrealista, mesmo que existam provas cabais da brutalidade e das mentiras da bófia, jamais os media pegarão nelas. Os processos são miméticos. Genova 2001, Seattle 1999... e por ai fora. Bem pelo contrário, os media farão tudo para descredibilizar os manifestantes.

È preciso para já garantir a libertação das pessoas detidas o mais rápido possível. Gostava de ter um contacto de quem saiba quem são os presos para tentar desenvolver esforços aqui em Braga.

Houve já elementos ligados ao Bloco de Esquerda que também testemunharam as movimentações da polícia e querem levar uma declaração junto do grupo
parlamentar do be. Pode ser que assim se possa levar a versão dos
manifestantes junto da comunicação social.

Todas as informações que possam ter, encaminhem para mim, para promover acções de solidariedade por aqui."

esta mensagem circula no: http://groups.google.com/group/AC-Interpro/topics?hl=pt-PT

Anónimo disse...

Mas há:

"As pessoas saem em liberdade amanhã às 10h da manhã.

no fórum antifascista dizem que o comandante da polícia deu ordem para "entrar a matar":

""
Epa eu queria simplesmente deixar a minha mensagem de apoio e de nojo do acontecimento de hoje. A actitude da policia foi de uma brutalidade extrema e o comandante admitiu ser fascista em frente de todos nós. Enquanto que alguns de voces camaradas estavam a levar com os tacos e as armaduras de robocops deles nos cá mais acima em frente aos armazens do chiado ouvi-mos uma senhora a perguntar po que raio o comandante mandou "entrar a matar".

Não é que aquele fasco de merda responde: "É O QUE VOCES MERECEM COMUNAS DE MERDA,´MERECEM É LEVAR NOS CORNOS" .... ""

esta postagem tem indicação:

Posted: Wed Apr 25, 2007 7:35 pm Post subject: [ACONTECIMENTO] 25/04/07

Anónimo disse...

Não são só inquéritos que são precisos, esses têm habitualmente o resultado do tempo - nulos!

É preciso testemunhos doa a quem doer mas só assim se lá vai.

Imagino que os tempos que se aproximam poderão ter mais episódios deste género.

É vergonhoso. As notícias da imprensa, tv e rádios têm muitos elementos que não batem certo. Era de prever.

Alerta máximo pois idolatrias a Salazar são autorizadas. Pessoas a manifestarem-se contra o fascismo não, de todo. Algo vai mal por aqui...

Anónimo disse...

http://spectrum.weblog.com.pt/arquivo/2007/04/na_rua_do_carmo_1.html

Onde estão os encapuçados?

Júlia Coutinho disse...

Tive conhecimento que na manifestação do 25 de Abril, ao serem chamados para o palco os representantes das diversas organizações promotoras da manifestação, foi vaiado e apupado o nosso companheiro do movimento cívico NAM, Edmundo Pedro, representante do PS, bem como os representantes da JS e da RC, por jovens que empunhavam as bandeiras da Juventude Comunista.
Acho execrável este procedimento.
33 anos de vivência democrática deviam ter germinado mais valores democráticos, maior tolerância e sobretudo respeito pelos que pensam diferente de nós.
Também não compreendo como podem ser toleráveis dísticos partidários em manifestações que devem ser de absoluta Unidade para Todos festejarmos o dia da nossa Libertação.
Aqui fica a minha solidariedade para com o companheiro Edmundo Pedro, um homem que personifica um indesmentível património de luta pela Liberdade.