sábado, 15 de setembro de 2007

Música contra o colonialismo

José Adelino Barceló de Carvalho nasceu em 1943, em Kipiri (província do Bengo, a norte de Luanda, Angola). O seu gosto pela música remonta à infância, em Luanda. O atletismo foi, desde cedo, outra das suas paixões. Com 23 anos vem viver para Portugal, para se continuar a dedicar ao atletismo, agora em moldes semi-profissionais, sagrando-se campeão e recordista dos 400 metros pelo Benfica. Após o início da luta de libertação nacional, Bonga foi um apoiante da independência. Vigiado pela PIDE, veio a exilar-se na Holanda. Neste país, lança o seu primeiro álbum "Angola 72", no qual canta contra a dominação colonial. Adopta o nome de Bonga Kuenda que significa "aquele que vê, aquele que está à frente e em constante movimento". Tem mais de três dezenas de discos.
Recordamos aqui o poema "Poeira", do CD Kaxexe (2003) que remete para o traumatismo que a violência do colonialismo provoca num miúdo e inclui uma referência directa às rusgas, uma das formas instituídas pela administração colonial de espalhar o medo pelas zonas suburbanas ou pelas povoações indígenas. Tratava-se de perseguir pessoas sem caderneta indígena ou com documentos irregulares, desempregados, «vadios», fugidos ao contrato, relapsos ao pagamento do imposto, fabricantes de bebidas alcóoólicas, etc. Na maioria das vezes, as rusgas escondiam a intenção de obter trabalhadores para obras públicas prioritárias, para o chibalo ou para as roças de São Tomé.

"Poeira

Era - A poeira do posto
Poeira na rua
Para nos kua tar.
Vento - Era empoeirdado
Ventava os cubicos
Nos empobrecer.

Poeira - Com impureza
Sempre levantou
E nos bofocou.

Roda - Sai do rodopio
Que o chefe do posto
Vai te zangular.

Lembro
Era eu kanuku
Fugia da cerca
Para Sal vaguardar
Me lembro
Toda essa desgraça
Negros transpirados
Da rusga fugir."

[vd. biografia aqui e aqui.]

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