
Recordamos aqui o poema "Poeira", do CD Kaxexe (2003) que remete para o traumatismo que a violência do colonialismo provoca num miúdo e inclui uma referência directa às rusgas, uma das formas instituídas pela administração colonial de espalhar o medo pelas zonas suburbanas ou pelas povoações indígenas. Tratava-se de perseguir pessoas sem caderneta indígena ou com documentos irregulares, desempregados, «vadios», fugidos ao contrato, relapsos ao pagamento do imposto, fabricantes de bebidas alcóoólicas, etc. Na maioria das vezes, as rusgas escondiam a intenção de obter trabalhadores para obras públicas prioritárias, para o chibalo ou para as roças de São Tomé.
"Poeira
Era - A poeira do posto
Poeira na rua
Para nos kua tar.
Vento - Era empoeirdado
Ventava os cubicos
Nos empobrecer.
Poeira - Com impureza
Sempre levantou
E nos bofocou.
Roda - Sai do rodopio
Que o chefe do posto
Vai te zangular.
Lembro
Era eu kanuku
Fugia da cerca
Para Sal vaguardar
Me lembro
Toda essa desgraça
Negros transpirados
Da rusga fugir."
[vd. biografia aqui e aqui.]
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