segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Polémica em Coruche: dados sobre Luís Alberto de Oliveira (1880-1956)

Em resposta à interpelação de António Marcelo, que num comentário ao post anterior alude a uma polémica em torno da proposta de homenagem a Luís Alberto de Oliveira, reproduzo a informação que tenho à mão relativa àquele militar e político, a entrada biográfica, assinada por Luís Nuno Rodrigues, publicada no Dicionário de História do Estado Novo (vol. II, dir. Fernando Rosas e J.M. Brandão de Brito, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996, p. 686-687):
"OLIVEIRA, Luís Alberto de (1880-1956) - Oficial do Exército, nasceu em Coruche. Integrou o Corpo Expedicionário Português em França e em África, durante a Primeira Guerra Mundial, e foi, depois, governador civil de Coimbra entre Agosto de 1918 e Fevereiro de 1919. Desde Dezembro de 1930 até Dezembro de 1937, altura em que passou à reserva, foi comandante do Batalhão de Caçadores 5, tendo interrompido essas funções para assumir a pasta da Guerra entre Abril de 1933 e Outubro de 1934. Na altura ocupava o posto de major. Esteve directamente envolvido nos problemas sentidos entre Oliveira Salazar e a alta oficialidade militar republicana e conservadora em 1934, na sequência das quais, aliás, abandonou as suas funções ministeriais. As suas divergências com Oliveira Salazar foram manifestas e, por vezes, expressas publicamente. Em 15.4.1934 o então ministro da Guerra protagoniza o descontentamento de alguns sectores do exército para com Salazar através de um discurso efectuado no quartel de Caçadores 5. Algumas unidades terão inclusivamente estado de prevenção por ordens suas. Oliveira Salazar apresentou então a demissão colectiva do Governo, acabando por retirá-la depois de Carmona lhe reiterar publicamente a sua confiança. Luís Alberto Oliveira acabaria por abandonar a pasta da Guerra em Outubro desse ano, na sequência de novos rumores de conspiração contra Oliveira Salazar dirigida pelo próprio ministro da Guerra".
No livro de Luís Farinha, O Reviralho: Revoltas Republicanas contra a Ditadura e o Estado Novo (1926-1940) (Lisboa, Editorial Estampa, 1998, p. 223), também podemos ler:
"No campo do Estado Novo, Salazar aparecia como o definitivo vencedor, depois da crise aberta (que não será a última neste ano), entre ele e Carmona, pelos generais republicanos conservadores que tinha[m] demorado [a] acomodar-se à nova situação(1) [(1) A crise desencadeada em Abril, prolongar-se-á até Outubro, altura em que é substituído o ministro Alberto de Oliveira]".
Fica claro que Luís Alberto de Oliveira participou num governo de Salazar, mas também que se incompatibilizou com o ditador e que terá conspirado contra ele, com outros oficiais republicanos conservadores. No entanto, não temos notícia de que tenha participado activamente na oposição republicana ao Estado Novo, no chamado «Reviralhismo».
Suponho que a homenagem póstuma que lhe foi prestada pelo município de Coruche em 1959 possa ter a ver com a sua participação na I Guerra Mundial. Dois anos antes havia-se comemorado o 40.º aniversário da batalha de La Lys. E também é um facto que a iniciativa se realizou no rescaldo da campanha eleitoral oposicionista do general Humberto Delgado (1958).

1 comentário:

Anónimo disse...

Cara Claudia Castelo
É bonito ver que há gente que defende ideiais de esquerda (concorde-se ou não, há que respeitar), mas que o faça de forma elevada e com justiça, e, não com o fundamentalismo do pior do comunismo.
Por isso, tiro-lhe o chapéu, a este texto (de investigação) sobre o Major Luís Alberto de Oliveira, que foi sempre um bom homem e que muito fez por Coruche e pelo país.
Aproveito para lhe dizer que a estátua foi paga pelo povo, como agradecimento pela obra que realizou em Coruche.
Também informo, que os comunistas de Coruche estão contra a reposição do busto, com argumentos completamente primários e que se tivessem a sua postura e inteligência, talvez não perdessem o apoio das populações. Talves se lhes enviar a sua investigação, mudem de opinião, o que duvido. São teimosos, para não chamar burros