sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Ivone Dias Lourenço - in memoriam


O texto que publico é da autoria de António Melo

Um abraço Ivone!

Ivone Dias Lourenço, essa extraordinária mulher, pequena de corpo mas grande nas convicções, na generosidade, na vivacidade de espírito e na sabedoria de vida , como a definiu Vítor Dias no seu blog O Tempo das Cerejas, foi hoje [25/1] a sepultar no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Morreu ao 69 anos, de uma doença cancerosa, depois de uma vida inteira dedicada à conquista da liberdade e à construção de um mundo solidário.

Filha de Dias Lourenço, um dos obreiros da reconstrução do PCP, companheiro indefectível de Álvaro Cunhal, e de Casimira Silva passou a infância sem a companhia dos pais que viviam na clandestinidade. A adolescência viveu-a na prisão de Caxias, onde entrou em Novembro de 1957, aos 20 anos, e de onde só saiu em Maio de 1964. Quase sete anos passados na cadeia no momento de maior deslumbramento da vida. Uma dor que ficou para sempre, mesmo se não a exteriorizava. No entanto, em entrevista que deu à jornalista São José Almeida (Público, 2004), deixou cair o queixume, mesmo se em ar de ironia: Foi um período muito importante o que estive presa. Por exemplo, quando saí, em 1964, nunca tinha ouvido os Beatles.

Senhora de uma cultura geral extensa, com interesses diversificados, comunicativa e jovial, sem nunca perder a noção do dever, Ivone foi jornalista no Avante! Sempre respeitadora da linha oficial da direcção, manifestava as discordâncias, quando as tinha, nas reuniões de célula. Em matéria de fidelidade partidária foi o que se designa por ortodoxa, mas a seu olhar sobre a vida ia muito além do estrito quadro político-partidário. Deixava-se encantar facilmente com a beleza e gostava de partilhar com os outros as alegrias e as tristezas – de conviver, em suma.

Há um ano, quando o NAM! quis celebrar o 8 de Março com testemunhos de mulheres da resistência, a Ivone deu o seu assentimento de princípio, mas deixou claro que seria pouco provável que a saúde lhe permitisse estar presente. Assim aconteceu. Ficou assente que ficaria para o ano seguinte. Estará connosco na nossa memória.

Um abraço Ivone!

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