domingo, 18 de maio de 2008

O NAM visto do Expresso

Uma semana antes das primeiras eleições da associação Movimento Não Apaguem a Memória (NAM), o Jornal Expresso publicou, em 10 de Maio de 2008, um artigo de José Pedro Castanheira que fazia um balanço do período em que decorreu a discussão, decisão e preparação da passagem deste movimento a associação.

Eis o texto:

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A lista única que se apresenta ao sufrágio de dia 17 está longe de significar uma unidade entre os membros da Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória, conhecido pela sigla NAM. Os últimos meses foram marcados por alguma divisão e mesmo agitação, patente na abundante troca de «e-mails» que se verificou na rede informal que põe em contacto as várias centenas de filiados.

As primeiras divergências revelaram-se no plenário de 23 de Outubro do ano passado, na Associação 25 de Abril. Em causa estava a transformação do movimento em associação, com o que implicava de elaboração de estatutos e de eleição de corpos gerentes. Um grupo de associados defendeu que o NAM deveria preservar as suas características informais de movimento, com que nascera em 2005. Esta tese foi derrotada e o movimento passou mesmo a associação, por 37 votos contra sete. Uma proposta de comissão instaladora colheu a unanimidade dos presentes. A sugestão partiu de Raimundo Narciso, um militante do PS que, nos anos noventa, fora expulso do PCP, onde se distinguira como principal quadro da Acção Revolucionária Armada (ARA).

Um segundo plenário, a 23 de Fevereiro, discutiu o projecto de estatutos. As divergências voltaram ao de cima e surgiram mesmo duas listas para a nova comissão instaladora. Foi dispensada a contagem de votos, tendo ganho, por expressiva maioria, a lista apresentada de novo por Narciso. Dela faziam parte Vítor Santos e Fernando Vicente, inscritos no PCP, partido que se tem demarcado do NAM, até porque controla uma associação com objectivos semelhantes, a URAP (União dos Resistentes Antifascistas Portugueses). Santos e Vicente são dois ‘históricos’ da Festa do Avante!, alinharam com os ‘Renovadores’, mas não saíram do PCP.

Na preparação das eleições, chegou-se à ruptura. Não sem que, antes, tivesse havido uma negociação entre os “dois grupos” — terminologia utilizada por Raimundo Narciso, mas rejeitada por Fernando Vicente. Os dois encontraram-se para tentar uma lista de consenso. Narciso explicou que, após várias versões de lista, sugeriu que cada grupo indicasse metade dos elementos. “Infelizmente esta solução foi recusada e não havia mais nada a fazer”, lamenta.

Vicente, por sua vez, considera que “um movimento cívico deve incluir e não excluir. Ora, parece que alguns têm a preocupação de afastar os comunistas”. Com efeito, a lista única não inclui ninguém do PCP — ainda que existam vários ex-comunistas, como o próprio Narciso, candidato a presidente da direcção, e Manuela Almeida. Aliás, a lista está cheia de ex-militantes de partidos da extrema-esquerda:

Jorge Marfins (LCI), Diana Andringa (MRPP), João Caixinhas (UDP), Joana Lopes (PRP). Subscrevem-na 46 sócios, onde avulta o nome de Edmundo Pedro, um dos principais entusiastas do NAM. A beira de completar 90 anos, o ex-tarrafalista e militante do PS não hesitou em fazer numerosas viagens para angariar apoiantes. Realce ainda para António Arnaut (ex-grão-mestre da Maçonaria). Vera Jardim (PS) e Fernando Rosas (BE). De fora ficaram alguns importantes ‘fundadores’ do NAM, com destaque para os ‘capitães de Abril’ Duran Clemente e Martins Guerreiro, também eles conotados com o PCP.

JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA
jpcastanheira@expresso.pt

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