domingo, 7 de outubro de 2007

Mulheres do meu país: Maria Lamas (1893-1983)

Faz hoje 114 anos que nasceu a escritora e jornalista antifascista Maria Lamas. Nascida em Torres Novas, casou-se aos 17 anos com o ten. Ribeiro da Fonseca, com quem viveu em Angola durante 3 anos (1911-13).
Regressada à «metrópole», inicia colaboração em publicações locais, com poemas alusivos à destruição provocada pela guerra, em plena «Grande Guerra», assinando como Maria Fonseca ou com o pseudónimo Serrana d’Ayre.
Divorcia-se em 1919, ficando com as suas duas filhas a seu cargo. Fixa-se em Lisboa, em casa dos pais, mudando-se mais tarde para uma casa em Benfica.
É na Agência Americana de Notícias, onde trabalha em 1920, que conhece o jornalista monárquico Alfredo da Cunha Lamas, com quem se casa no ano seguinte e do qual adopta o apelido por que ficará conhecida. Deste segundo casamento nasce a filha Maria Cândida.
Em 1925 inicia colaboração em revistas e publicações infantis, escrevendo a partir de então vários contos infantis.
Inicia-se como jornalista no diário O Século, em 1928, tendo pouco depois sido convidada para dirigir o seu suplemento semanal Modas e Bordados, onde se debruça sobre os problemas das mulheres e do qual é demitida em 1947, por pressão de Salazar.

Activismo político e cívico
A partir dos anos 40 envolve-se na resistência antifascista e na defesa das mulheres, integrando diversas organizações.
Assim, em 1945 assina a lista fundadora do MUD-Juvenil e integra o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), associação fundada na I República e que seria perseguida e encerrada pela ditadura salazarista em 1948. Torna-se presidente do CNMP em 1947, ano em promove uma mostra de grande alcance social, cívico e político: «Exposição dos livros escritos por mulheres». No MUD desempenhará também cargos de direcção.
A sua ligação ao CNMP permitiu-lhe deslocar-se pelo país para tomar conhecimento das condições de vida da mulher portuguesa. As reflexões sobre este périplo são dadas à luz no livro As mulheres do meu país, uma monumental obra em 3 volumes publicada entre 1947 e 1950 (esta obra seria publicada em fascículos para escapar ao crivo censório). Sobre a condição feminina editará outros livros: A mulher no mundo (1952) e o Mundo dos deuses e dos heróis da mitologia geral (1959-61).
Participa no congresso fundador da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) em 1946. Em 1953 é eleita membro do Conselho Mundial da Paz, organismo que vários autores dizem ter sido hegemonizado pelo PCUS e a que se associaram cientistas como Joliot Curie, Bertrand Russell e Albert Schweitzer. Representará várias vezes as mulheres portuguesas e os pacifistas nos congressos destas organizações.
Devido à sua intervenção política e cívica foi presa pela polícia política várias vezes: em 1949, sob acusação de difusão de notí­cias falsas e apelo à libertação dos presos polí­ticos, tendo estado incomunicável durante 4 meses; em 1950, pelo crime de defender a paz; e em 1953, no regresso dum Congresso Mundial da Paz, realizado na URSS. Tais detenções vão afectar-lhe a saúde e são um dos motivos porque se decide pelo exílio político, tendo residido em Paris entre 1962 e 1969.
Após a revolução de 25/IV/1974 torna-se militante do PCP, do qual era simpatizante. Foi presidente honorária do Movimento Democrático de Mulheres (MDM) entre 1975 e 1983 e directora da revista Mulheres.
Em 25/IV/1980 é condecorada pelo Presidente da República Ramalho Eanes com a Ordem da Liberdade.
Faleceu aos 90 anos, em Lisboa, a 6/XI/1983. Em 2008 passarão 25 anos sobre a sua morte.

Estudos e fontes
O espólio documental de Maria Lamas está depositado na BN (vd. aqui).
Sobre Maria Lamas existem, entre outros, os seguintes estudos:
*FERREIRA, Eugénio Monteiro (2004), Cartas de Maria Lamas, Porto, Campo das Letras (correspondência trocada por Maria Lamas e o escritor angolano Eugénio Ferreira entre 1942 e 1968).
*FIADEIRO, Maria Antónia (2003), "As mulheres do meu país: uma obra ímpar", História, Jan.º.
*FIADEIRO, Maria Antónia (2003), Maria Lamas. Biografia, Lisboa, Quetzal.
*MASCARENHAS, João, MARQUES, Regina (org.; 2005), Maria Lamas. Uma mulher do nosso tempo, Lisboa, BMRR.
*MUCZNIK, Lúcia Liba (coord.; 1993), Maria Lamas, Lisboa, BN (catálogo).
*PEREIRA, José Pacheco (2003), "A propósito de Maria Lamas", blogue Estudos sobre o Comunismo, 7/XII.
*RAMOS, Wanda (1996), "Lamas, Maria da Conceição Vassalo e Silva", in José Maria Brandão de Brito & Fernando Rosas (dir.), Dicionário de História do Estado Novo, Lisboa, Círculo de Leitores, vol. I, p. 506/7.
Fontes principais: MDM; PS- Mulheres PS20; O Leme; Notícias da Amadora; blogue Almocreve das Petas; imagem retirada daqui.

1 comentário:

Anónimo disse...

Faleceu em Évora