Edmundo Pedro, decano do Não Apaguem a Memória!, lançará o 1.º tomo das suas Memórias – um combate pela liberdade no próximo dia 18 (5.ª feira, 18h30), no auditório da Torre do Tombo, com apresentação do historiador José Pacheco Pereira.
Nem de propósito: enquanto jovem revolucionário, Edmundo Pedro participou, justamente, na insurreição do 18 de Janeiro de 1934. Esse envolvimento custar-lhe-ia caro – a sua primeira prisão, tinha apenas 15 anos. Vale a pena prosseguir aqui esta história, na versão de António Melo:
"Ano de 1934. O movimento sindical preparava uma greve geral de protesto contra a instituição, no final de 1933, da Carta do Trabalho. Uma cópia do modelo fascista italiano, que extinguia os sindicatos livres, substituindo-os por organizações corporativas laborais. Viviam-se momentos de ansiedade.
No dia 17 de Janeiro a célula comunista do Arsenal da Marinha enviou um aprendiz ao Regimento de Caçadores 7, então aquartelado no Castelo de S. Jorge, em Lisboa. O Edmundo Pedro, dele se trata, tinha por missão confirmar a data da insurreição junto dos militares conluiados: era para o dia seguinte, 18 de Janeiro.
Quando partiu do Arsenal tinham-lhe carregado os bolsos com balas. Depois da missão no Castelo devia dirigir-se para o Poço do Bispo e integrar-se numa brigada de acção directa. Aí receberia uma pistola e ser-lhe-ia determinado o tipo de intervenção: em piquetes de greve, a cortar linhas-férreas ou a derrubar postes de alta tensão.
Mas alguém «bufara». Quando pediu à sentinela para falar com o tal militar, surgiu-lhe o sargento de guarda. Já não prosseguiria a missão grevista. Mas conseguiu libertar-se do peso das balas despejando-as numa sarjeta.
Ao fim de uma semana recuperou a liberdade. Regressou ao Arsenal, mas não pôde entrar. Tinha que explicar a ausência. Foi pedir essa justificação ao próprio sargento da guarda de Caçadores 7. Ousadia que pagou caro. Os conluiados, diante do fracasso da insurreição, «borregaram». Contaram que o contacto com a organização da greve era aquele rapagão de 15 anos.
Quando chegou ao Castelo de S. Jorge foi detido e enviado para o Aljube. Lá ficou até ser condenado a um ano de prisão, que cumpriu na fortaleza de Peniche.
Numa interpretação exemplar da justiça fascista o meritíssimo aplicou-lhe o Código em todo o seu rigor. Se o delito comportava suspensão de direitos políticos, não era pelo facto do réu ter apenas 15 anos que a pena não se lhe aplicaria. Além da prisão, impôs na sentença a privação de direitos políticos por cinco anos. Edmundo Pedro, saído da classe operária, não quebrou e fez a sua opção revolucionária. Quando saiu da prisão entrou na clandestinidade. Dois anos mais tarde, de novo preso, foi enviado para o campo de concentração do Tarrafal. Lá ficou até 1945. Voltou a ser preso em 1962. Só depois de 1974, Edmundo Pedro pode votar e ser eleito deputado constituinte num regime democrático."
No dia 17 de Janeiro a célula comunista do Arsenal da Marinha enviou um aprendiz ao Regimento de Caçadores 7, então aquartelado no Castelo de S. Jorge, em Lisboa. O Edmundo Pedro, dele se trata, tinha por missão confirmar a data da insurreição junto dos militares conluiados: era para o dia seguinte, 18 de Janeiro.
Quando partiu do Arsenal tinham-lhe carregado os bolsos com balas. Depois da missão no Castelo devia dirigir-se para o Poço do Bispo e integrar-se numa brigada de acção directa. Aí receberia uma pistola e ser-lhe-ia determinado o tipo de intervenção: em piquetes de greve, a cortar linhas-férreas ou a derrubar postes de alta tensão.
Mas alguém «bufara». Quando pediu à sentinela para falar com o tal militar, surgiu-lhe o sargento de guarda. Já não prosseguiria a missão grevista. Mas conseguiu libertar-se do peso das balas despejando-as numa sarjeta.
Ao fim de uma semana recuperou a liberdade. Regressou ao Arsenal, mas não pôde entrar. Tinha que explicar a ausência. Foi pedir essa justificação ao próprio sargento da guarda de Caçadores 7. Ousadia que pagou caro. Os conluiados, diante do fracasso da insurreição, «borregaram». Contaram que o contacto com a organização da greve era aquele rapagão de 15 anos.
Quando chegou ao Castelo de S. Jorge foi detido e enviado para o Aljube. Lá ficou até ser condenado a um ano de prisão, que cumpriu na fortaleza de Peniche.
Numa interpretação exemplar da justiça fascista o meritíssimo aplicou-lhe o Código em todo o seu rigor. Se o delito comportava suspensão de direitos políticos, não era pelo facto do réu ter apenas 15 anos que a pena não se lhe aplicaria. Além da prisão, impôs na sentença a privação de direitos políticos por cinco anos. Edmundo Pedro, saído da classe operária, não quebrou e fez a sua opção revolucionária. Quando saiu da prisão entrou na clandestinidade. Dois anos mais tarde, de novo preso, foi enviado para o campo de concentração do Tarrafal. Lá ficou até 1945. Voltou a ser preso em 1962. Só depois de 1974, Edmundo Pedro pode votar e ser eleito deputado constituinte num regime democrático."
António Melo
V
ADENDA: para uma leitura em primeira mão do novo livro de Edmundo Pedro ver o texto de José Leitão aqui.
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