quarta-feira, 6 de junho de 2007

Oradour-sur-Glane


  • Oradour


  • A caminho de Samis, na região do Limousin, passamos por Oradour-Sur-Glane, proclamada aldeia martírio após a Segunda guerra mundial.

    A 10 de Junho de 1944, em represália contra os Resistentes franceses e as populações cúmplices, os Waffen SS alemães designaram uma aldeia como bode expiatório: o objectivo era intimidar todos aqueles que se opunham à força de ocupação. Calhou em Oradour-sur-Glane, aldeia pacata, a poucos quil­ómetros de Limoges. Liquidaram, em poucas horas, toda a aldeia em condições bárbaras: as mulheres e as crianças fechadas na igreja foram asfixiadas, metralhadas e finalmente queimadas dentro do edifício religioso. Os homens, divididos em vários grupos, foram abatidos com rajadas de metralhadoras em três recintos fechados da aldeia. Finalmente, toda a aldeia foi destruída pelas chamas dos diversos incêndios ateados pelos alemães que deitaram os corpos calcinados numa fossa para impedir a identificação dos cadáveres.

    O general De Gaulle decidiu conservar a aldeia conforme estava para que a memória daquela hedionda tarde nunca mais fosse esquecida. Hoje, podemos circular pelas ruas desertas, pelas casas vazias onde algumas máquinas de costura ou carros roidos pelas chamas, pela corrosão do tempo vão apodrecendo. As casas despovoadas, sem portas, sem janelas, sem telhado, escancaradas, à chuva, ao vento testemunham da intrusão brutal e criminosa de ideologias perversas e de forças militares abusivas nos lares dos humildes. Famílias inteiras foram eliminadas, uma aldeia inteira foi riscada do mapa.

    A visita da igreja onde centenas de mulheres e de crianças foram executadas é particularmente comovente assim como o memorial em que os nomes dos aldeãos estão gravados. Obviamente, uma visita a Oradour-sur-Glane não se pode comparar com uma visita a um museu ou a um passeio pedestre com âmbito turístico. Esta visita assume contornos de catarse, de reflexão, de perpetuação da memória. Que um homem isolado seja capaz de cometer um acto hediondo pode-se entender mas que grupos de homens, populações inteiras, participem em crimes em tão grande escala, em número como em horror, não tem cabimento. Estes massacres questionam-nos sobre o Homem, sobre a Humanidade e, por conseguinte, sobre nós mesmos. O número de pessoas envolvidas nestas chacinas indagam-nos forçosamente sobre a nossa natureza.

    Texto do Blogue Fala Barato

  • Fala Barato
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