segunda-feira, 14 de maio de 2007

A Esperança - André Malraux


Em Junho de 1936, o líder da oposição de direita é assassinado na Espanha, deflagrando uma revolta militar liderada pelo nacionalista Francisco Franco. A guerra civil que se seguiu durou três anos, opondo nacionalistas, religiosos e monarquistas, que controlavam o exército e eram apoiados pelos governos da Alemanha e da Itália, e as forças republicanas, que contavam com a polícia e os carabineiros, além de milícias operárias. Os legalistas eram apoiados pela União Soviética, Grã-Bretanha, México e França, e principalmente pelas Brigadas Internacionais, formadas por 35 mil voluntários de 50 países.
Um desses voluntários era André Malraux, que, um mês após o início do conflito, organizou a esquadrilha España que, com menos de vinte aviões, participou de combates no vale do Tajo, em Toledo, Aragão e Málaga. Malraux, que não pilotava, participava das missões como observador e algumas vezes como artilheiro. Depois, passou a actuar como embaixador dos republicanos, inclusive com um périplo pelos Estados Unidos, discursando e recolhendo doações para hospitais espanhóis. Em Abril do ano seguinte, retornou à Europa para escrever A esperança, concluído em poucos meses e lançado em dezembro de 1937. O livro ainda daria origem a um filme, de mesmo título, lançado em 1939.
Desde seu lançamento, A Esperança dividiu a crítica, indecisa entre tratar o livro como um romance ou como uma reportagem. Para Jean Lacouture, essa é uma questão menor, pois se a obra é um testemunho do engajamento de Malraux, a esperança do título vai além do episódio espanhol (ainda que crucial), para falar de todas as lutas travadas no século XX para mudar a condição humana. "Como se ele não devesse ser admirado por ser uma ‘reportagem’. Ademais, o que é um romance?".

Nascido em Paris em 1901, escritor, ensaísta, crítico de arte, político, André Malraux participou activamente das grandes batalhas do século XX, desde o nacionalismo chinês até o combate ao nazismo, passando pela Guerra Civil espanhola. Militante de esquerda, ligado ao Partido Comunista Francês, permaneceu livre, porém, para se opor ao banimento de Trotski e se rebelar contra o regime ditatorial de Estalin na União Soviética. Entre 1958 e 1969, Malraux participou do governo do general Charles de Gaulle como ministro da Cultura. Morto em 1976, André Malraux é autor de numerosos romances e ensaios, entre eles, La Voie royale, Voix du silence, Les Conquérants e A condição humana, pelo qual ganhou o prêmio Goncourt.

André Malraux visitou pela primeira vez Espanha apenas 2 meses antes do início da guerra civil, a convite do escritor José Bergamín. A sua participação no conflito começou logo em Agosto de 1936, data da constituição da esquadrilha aérea España. Esta força, com cerca de 20 aviões pilotados por um grupo de voluntários estrangeiros, teve um papel importante durante os primeiros meses de guerra, participando activamente nas frentes de Aragão, Toledo, Málaga e na batalha de Teruel, onde se confrontaram directamente com a Legião Condor alemã e conseguiram evitar a tomada da cidade pelas forças nacionalistas. Não sendo piloto, Malraux voou como observador em missões de reconhecimento e operou a metralhadora em missões de ataque, sendo ferido sem gravidade por 2 vezes.
Com o fim da esquadrilha, em Fevereiro de 1937, terminou a participação activa de Malraux no conflito. Não deixou, contudo, de continuar a apoiar a causa republicana, participando em diversas actividades de recolha de fundos em França e nos Estados Unidos da América.
Em Dezembro é publicado L’Espoir (A Esperança), romance baseado na sua experiência pessoal da guerra. Escrito antes do desenlace final do conflito, o livro termina cronologicamente com a vitória republicana na batalha de Guadalajara, num tom optimista que não se viria a confirmar. Entre 1938 e 1939, Malraux participa ainda na adaptação de alguns capítulos d’A Esperança para cinema. O filme é exibido pela primeira vez em 1939, sob o título Sierra de Teruel, mas só conhecerá circulação comercial depois da 2ª Guerra Mundial, desta vez com o mesmo título do romance em que se baseou.

“Não se trata de ir combater em Madrid, em Barcelona ou no Pólo Norte. Nem de aceitar a vitória de Franco, com vinte anos de cagaço pela frente; todos à mercê da denúncia de uma puta, da vizinha ou do cura. Lembrem-se das Astúrias. A nossa aviação estará pronta dentro de alguns dias. Todo o país está conosco; e o país somos nós” (André Malraux, A Esperança)

9 Citações:

"A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado."

"O comunismo destrói a democracia; mas a democracia também pode destruir o comunismo."

"São precisos 60 anos e não 9 meses para fazer um homem."

"O homem é aquilo que ele próprio faz."

"A arte é um antidestino."

"A Gioconda sorri porque todos os que lhe puseram bigodes estão mortos."

"Os grandes artistas não são os copistas do mundo, são os seus rivais."

"Se compreendêssemos, nunca mais poderíamos julgar."

"Vi as democracias intervirem contra quase tudo, salvo contra os fascismos."


ESPOIR/ Espoir-Sierra de Teruel
de André Malraux
com José Sempere, André Mejuto, Nicholas Rodriguez
França, 1945 - 78 min

Espoir, também conhecido como Sierra de Teruel, é um dos mais famosos filmes que tiveram por cenário a guerra civil de Espanha. Talvez o mais mítico e, seguramente, o mais comprometido, porque feito por alguém que a viveu, e filmado nos próprios locais durante o conflito. Inspirando-se no romance que escrevera e na sua experiência de combatente, André Malraux filmou o drama dos aviadores republicanos sobreviventes da queda do avião e o seu salvamento por civis, na serra de Teruel.

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